Gargalos Logísticos Impactam o Mercado do Algodão
Por
Bruna Stewart - corretora de algodão da Agrinvest Commodities (@_brustewart / @agrinvest)
Eduardo Araújo Santiago - corretor de algodão da Santiago Cotton (@cottonsantiago)
Atualmente, o Brasil apresenta uma alta oferta de algodão por dois principais motivos: o primeiro é o elevado estoque de passagem da Safra passada. A demanda enfraquecida tanto no mercado doméstico brasileiro, quanto nos principais países importadores da commodity, ocasionada especialmente por um cenário macroeconômico nada animador, resultou em uma grande quantidade de algodão da safra 22 ainda disponível no mercado na virada de Safra.
Outro ponto é a supersafra 2022/23. Para se ter uma ideia, a Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) divulgou hoje (06) a previsão de safra para 2022/23, indicando uma produção de 3,15 milhões de toneladas de algodão em pluma, um aumento de 23,3% com relação à safra anterior. Estima-se que a produtividade aumente em 18,6%, subindo de 1.596 kg/ha em 21/22 para 1.893 kg/ha na safra atual.
Isso é resultado de condições climáticas favoráveis, principalmente no Mato Grosso e na Bahia, que juntos representam 89,5% da produção nacional. Os produtores também relatam que o investimento tecnológico nas lavouras possibilitou ótimos resultados nessa temporada. Com isso, o algodão brasileiro teve melhor desempenho tanto na quantidade produzida, quanto na qualidade da pluma.
A soma desse dois fatores resulta em um grande volume de algodão a ser exportado pelo mercado brasileiro neste momento.
Diante desse cenário, o que se observa é um ritmo extremamente aquecido da commodity nas últimas semanas. Os números divulgados pela Secretaria do Comércio Exterior revelam que agosto fechou com 104 mil toneladas exportadas, sendo o segundo maior volume da história para este mês. A título de comparação, em agosto do ano passado, o total exportado de pluma pelo Brasil foi de 62,79 mil toneladas.
O ritmo alto das exportações já está trazendo reflexos para o mercado de algodão. O frete rodoviário interno no Brasil subiu muito nas últimas semanas em função da alta demanda. Isso refletiu diretamente no basis (prêmio) de compra na modalidade FCA, impactando o valor da mercadoria retirada na algodoeira dos produtores, apesar das altas significativas em NY –motivadas principalmente pelo aumento da demanda chinesa após a abertura de quotas de importação divulgada no final de julho.
Outro entrave, é a capacidade portuária brasileira. Atualmente, mais de 95% do algodão brasileiro é exportado via porto de Santos e os armazéns credenciados para exportação do algodão estão trabalhando com a capacidade lotada. Embora haja espaço nos navios para o transporte do algodão brasileiro para os mercados consumidores A falta de espaço e até mesmo de containers vazios no porto tem limitado a quantidade exportada.
Diante disso, alguns players estão buscando alternativas para dar vazão à exportação. O porto de Salvador é uma opção apta a realizar a exportação do algodão e já há volumes em andamento. Entretanto, é importante lembrar que a Ásia é de longe o principal destino do algodão brasileiro, e o preço do frete marítimo partindo de salvador para o mencionado destino supera consideravelmente o valor praticado para origem no porto de Santos.
Desta forma, os gargalos logísticos tanto na via terrestre quanto marítima já tem se mostrado uma dor de cabeça para os players do mercado na presente safra, gerando atrasos nos embarques e aumento de custos.
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