A importância do associativismo para vencer desafios no agro, por Juliano Tarabal
Quem acompanha a trajetória de desenvolvimento da Região do Cerrado Mineiro, primeira Denominação de Origem para café no Brasil, sabe muito bem que em seu DNA e em grande parte do seu sucesso está o associativismo, a trabalho coletivo através da união de seus produtores e entidades.
Em seus primeiros passos, nos idos da década de 1980, algumas lideranças na cafeicultura do Cerrado Mineiro que começavam a se despontar como cafeicultores, criaram as primeiras associações para debater o como vencer seus desafios daquela época que era de como se produzir café no Cerrado. Logo em seguida, os desafios aumentaram com a extinção do IBC – Instituto Brasileiro do Café, e daí estes mesmos produtores atentos a necessidade de se associarem, expandiram sua governança e criaram o Caccer – Conselho de Associações de Cafeicultores do Cerrado, em 1992, que anos depois veio a se chamar Federação dos Cafeicultores do Cerrado.
Quando o desafio já não era produzir e sim comercializar em conjunto, das associações nasceram cooperativas, que criaram suas estruturas de armazenagem, comercialização e serviços diversos aos produtores, lideradas por aqueles que entenderam a necessidade deste espírito coletivo para obterem as grandes conquistas.
Mas falando em associativismo no agro, qual a origem do associativismo e quais os grandes fatores que estimulam a união de esforços?
Visitando e entendendo um pouco suas origens, vemos que o associativismo na agricultura remonta aos tempos da Idade Média e dos feudos, com as sociedades agrárias ou sistemas feudais na Europa, quando os agricultores se organizavam para trabalhar em conjunto em terras comuns, campos e pastagens, práticas comunitárias que podem ser consideradas precursoras do associativismo agrícola.
Seguindo em evolução, a partir do século XIX começam a surgir as cooperativas agrícolas e associações, em diversas partes do mundo, com o objetivo de compartilhar conhecimento, tecnologias e produtos, onde um exemplo notável como uma das primeiras cooperativas modernas é da Rochdale Society og Equitable Piooners, voltada ao seguimento de alimentos, construída para vencer os desafios econômicos da época na Europa, fundada em 1844 na Inglaterra.
Com o desenvolvimento da agricultura no mundo todo, no final do século XIX começam a emergir os movimentos agrários e sindicatos de agricultores para representação e defesa de interesses da classe, inicialmente na Europa e Estados Unidos e um pouco depois os movimentos Campesinos na América Latina, com o mesmo foco.
Por fim, com uma maior maturidade e organização do setor, ao longo do século XX, as cooperativas de crédito e produção se tornam comuns no mundo todo, fornecendo aos produtores acesso a capital, insumos e mercado, além de assistência técnica, armazenagem, dentre outros serviços.
Olhando ao longo desta trajetória, o que todas estas iniciativas têm em comum? O que leva as pessoas a se unirem e se integrarem para se associarem e trabalharem de forma conjunta?
Sem duvida nenhuma, os desafios!
Os desafios coletivos sempre estiveram no centro do associativismo e são neles que residem a necessidade de união para avançar em pautas, agendas, vencer desafios, que de forma isolada não seria possível.
Pensando nisso, com todo o incremento da tecnologia, de cadeias mais competitivas, da política mais polarizada e de um mundo mais desenvolvido e conectado, quais são os novos desafios e como fomentar o associativismo?
O associativismo precisa se modernizar, sair do “modo feudal” e entrar no “modo digital”. Estamos em um mundo de plataformas, em que as pessoas buscam estar em comunidade, serem parte de tribos, e estes ingredientes são uma enorme oportunidade para o associativismo, mas esta transição passa por uma renovação e modernização do pensamento e da ação associativista, com estruturas menos burocráticas e menos politizadas, que não foquem na “fidelização”, mas sim no engajamento dos seus membros.
Os desafios, que são os grandes propulsores do associativismo, não acabaram. Portanto, continuar mapeando estes desafios, criar soluções modernas e de engajamento das comunidades, inserir novos lideres, são ações fundamentais.
Na Região do Cerrado Mineiro estamos atentos a isso, buscando modernizar a governança, trazendo e formando novos líderes e identificando novos desafios que engajem toda a Região.
Temos três grandes pilares no momento os quais consideramos desafios coletivos e que geram valor para toda a cadeia: controle da origem e continuidade da rastreabilidade ao longo da cadeia, internacionalização da marca e sustentabilidade – que em conjunto com toda nossa estrutura organizacional, por meio de estratégias e ações estamos coordenando através da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, buscando sempre o desenvolvimento da nossa Região tendo nosso DNA, o associativismo e atitude como propulsor.
Este é o associativismo moderno, eficiente e profissional que construiu os 50 anos de sucesso da cafeicultura da Região do Cerrado Mineiro.
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