Artigo/Scot Consultoria: Reflexos da vacina de peste suína africana
*por Amanda Skokoff, médica-veterinária pela Universidade de São Paulo - USP, Campus Pirassununga, analista de mercado da Scot Consultoria e pesquisadora de mercado nas áreas de boi, leite e grãos; e Felipe Fabbri, zootecnista, mestre em nutrição e alimentação de monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e analista de mercado da Scot Consultoria.
A peste suína africana (PSA) é responsável por grandes danos sanitários e econômicos no setor suinícola. Sem uma vacina, a biossegurança era a primeira linha de defesa para a doença.
No entanto, o anúncio em 1 de junho de 2022 de que o Vietnã desenvolveu, em conjunto com os Estados Unidos, uma vacina para o combate da doença tem movimentado o mercado. Trata-se de um avanço para a saúde animal e um marco na prevenção da PSA.
Não existe, no entanto, uma estimativa de quando a vacina será comercializada, nem de qual seria a capacidade de produção para suprir a demanda pelo produto, mas já é algo palpável e com aprovação regulatória.
Impactos da doença
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), de janeiro de 2020 a maio de 2022, mais de 1,12 milhão suínos foram acometidos pela doença.
Desde 2018, estima-se que a PSA foi responsável por dizimar mais de 50% do plantel suíno chinês, maior produtor e consumidor de carne suína no mundo, instalando uma crise no setor.
Como grande consumidor de carne suína, o mercado chinês precisou aumentar as importações globais de carnes e notadamente a de carne suína nesse período (figura 1).
Figura 1.
Rebanho suíno chinês (eixo da esquerda), em milhões de cabeças, e importação de carne suína pela China (eixo da direita), em milhões de toneladas equivalente carcaça.
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
Durante a crise sanitária, os chineses se mobilizaram quanto à tecnificação da produção, visando mitigar os efeitos na doença e de futuras crises sanitárias. Com a reorganização da produção, uma retomada do rebanho suíno ocorreu, mas ainda insuficiente para atender o consumo doméstico.
Ressaltamos que o Brasil, desde a década de 80, possui status de área de livre da doença. Em consequência da notória biosseguridade brasileira, de 2019 a 2021, após o surto global de PSA, com destaque à China, abriu-se oportunidades de expandir as relações comerciais brasileiras e nossas exportações de carne suína in natura cresceram 54,5% no período (figura 2).
Figura 2.
Exportações brasileiras de carne suína in natura, em milhões de toneladas.
*até maio/22
Fonte: MDIC / Elaboração: Scot Consultoria
Desse modo, a notícia da nova vacina para a doença, visando controlar e prevenir a disseminação do vírus, tem gerado especulações de como isso poderia afetar o setor suinícola brasileiro, que, em 2022, já tem trabalhado pressionado frente a menor demanda interna e externa.
Expectativas
Em meio a recuperação da produção chinesa, as exportações brasileiras de carne suína perderam ritmo em 2022. Veja que, em 2021, apesar do recorde de embarques, os preços, em dólares, perderam força no último trimestre do ano (figura 3).
Figura 3.
Preço médio, em US$/t, por tonelada de carne suína in natura exportada, mês a mês.
Fonte: MDIC / Elaboração: Scot Consultoria
A expectativa é que a vacina contra PSA venha para controlar os surtos da doença, auxiliando na retomada da produção de suínos na China, que já está em recuperação, diminuindo ainda mais o ímpeto de compras no mercado internacional, veja na figura 4.
Figura 4.
Rebanho suíno chinês (eixo da esquerda), em milhões de cabeças, e importação de carne suína pela China (eixo da direita), em milhões de toneladas equivalente carcaça.
*expectativa
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
Para a China e saúde pública global, o desenvolvimento da vacina é uma ótima notícia. Para a suinocultura brasileira, cuja biossegurança é referência e que desde 2021 trabalha com margens apertadas e preços menores, atenção, uma vez que a demanda de seu principal cliente internacional, responsável por mais de 50% do faturamento em 2021, será potencialmente menor.
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