Artigo/Epagri: Especificidades da agricultura
*por Haroldo Tavares Elias, analista de pesquisa da Epagri/Cepa
A agricultura está relacionada a fatores biológicos e ambientais, a tecnologias aplicadas e a componentes sociais. As plantas e animais possuem, como característica, sua reprodução, cujos imperativos biológicos dissociam o tempo entre produção e trabalho na agricultura. Em alguns momentos, a atividade agrícola requer ações intensas; em outros, dispensa o trabalho humano mais intensivo, requerendo o monitoramento constante.
Entre as condições ambientais, a umidade e a temperatura afetam de modo significativo a produção. O excesso ou a ausência de chuvas podem comprometer a qualidade e a quantidade da produção na agricultura. Estes fatores não nos permitem ter certeza quanto ao comportamento da próxima safra. A impossibilidade de previsão precisa, ou seja, de informar se a produção de soja ou milho vai ou não ser semelhante à da safra anterior, faz com que seja necessário trabalhar com estimativas. As mudanças climáticas estão se impondo mais intensamente nos últimos anos, o que tem levado a não consolidação da produção esperada. A interação entre plantas e ambiente atua diretamente nos resultados da adaptação e da produção.
O prognóstico da produção de safra é pautado em uma expectativa de rendimento em função da intensidade do uso dos fatores de produção aplicados pelos produtores, sobretudo das tecnologias utilizadas, desde o melhoramento genético, a fertilidade e o manejo das lavouras, até o monitoramento das áreas de cultivo por satélite.
As estimativas são necessárias aos agentes da cadeia produtiva ao longo do tempo, informando aos consumidores como se programar na aquisição das matérias-primas. Além disso, proporcionam aos governos informações de possíveis descontinuidades no suprimento de grãos para a indústria de beneficiamento para consumo direto ou produção de rações no consumo da pecuária.
Tomando como exemplo a produção de milho, nas últimas cinco safras, as perdas no estado somaram o equivalente ao total produzido em uma safra, cerca de 2,5 milhões de toneladas. O impacto econômico das perdas, somente nesse produto, ultrapassa R$3 bilhões no período, o que leva o setor agropecuário a repensar e a desenvolver práticas para mitigar os efeitos de eventos climáticos.
Além disso, não sendo formador de preço, o produtor está sujeito a fatores de mercado, e até políticos, internos e externos, que oscilam, fazendo com que sua margem de ganho acompanhe a relação oferta e demanda pelos produtos, chegando, em alguns momentos, até a atuar com prejuízo.
A agropecuária movimenta toda uma cadeia produtiva e gera riquezas para o país, mas está sujeita à imprevisibilidade de seus resultados. Apesar disto, o setor é competitivo e está gerando resultados altamente positivos para a economia brasileira. A adoção de novas e eficientes tecnologias vem proporcionando elevação da produtividade. Por tudo isto, o setor é apoiado, no mundo, por políticas públicas de segurança alimentar, com vista a proteger o produtor, mas também o consumidor, sobretudo o de produtos de alimentação básica, em particular neste momento, em que a economia mundial está imersa em incertezas, com elevação dos custos de produção associada a uma guerra que altera o alinhamento do comércio internacional de alimentos. O Brasil ainda precisa avançar e qualificar as políticas públicas de segurança alimentar.
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