Artigo/Cepea: Quebra da produção e demanda maior elevam preços do etanol na safra 21/22
*Por Ivelise Rasera Bragato Calcidoni, Pesquisadora do Cepea
Se na safra anterior a demanda fragilizada pela covid-19 pressionou os valores do etanol, mesmo diante da menor produção, na atual temporada (2021/22), o clima desfavorável e a quebra de produção vêm impulsionando os preços dos biocombustíveis no segmento produtor no Brasil.
Levantamentos do Cepea mostram que os preços médios dos etanóis hidratado e anidro no estado de São Paulo fecharam os cinco primeiros meses desta safra (de abril/21 a agosto/21) com fortes altas, em termos reais, frente aos registrados no mesmo período da temporada 2020/21. O valor médio (considerados os Indicadores CEPEA/ESALQ mensais de abril a agosto) do etanol hidratado subiu 38,6% na comparação com o mesmo período de 2020, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-M de agosto/21). No caso do etanol anidro, a valorização foi ainda maior, de fortes 41,7% no mesmo comparativo. Na B3 (Bolsa de São Paulo), os contratos futuros também avançam nesta safra, acompanhando o mercado físico paulista.
Dados do Cepea mostram que, em conformidade com a menor oferta, na parcial desta safra 2021/22, as vendas de etanol hidratado por parte das usinas do estado de São Paulo, nos mercados spot e por meio de contratos, caíram 15,5% em relação ao mesmo período de 2020. A consequente perda de competitividade do etanol hidratado frente à gasolina C ajustou a demanda a tal redução de oferta.
Quanto ao etanol anidro – atualmente 27% da gasolina C é composta por este biocombustível –, o volume negociado nos mercados spot e por meio de contratos cresceu nesta safra. No caso das vendas spot, o incremento foi de 17,9% entre 2020 e 2021 nas usinas paulistas (de abril a agosto de cada ano); na modalidade sob contrato, o aumento foi de 23,2%, no mesmo comparativo.
Evidenciando o cenário de baixa oferta, levantamento do Cepea junto às usinas mostra que a moagem de cana-de-açúcar na safra 2021/22 pode ser finalizada com mais de um mês de antecedência em algumas regiões do Centro-Sul, devido ao fator clima – seca e geadas. Assim, com menos matéria-prima a ser processada e a baixa produtividade por hectare, o período de entressafra deve ser mais longo do que em anos anteriores.
No acumulado da temporada 2021/22 (de abril até 1º de setembro), a média de produtividade no Centro-Sul está em 72,9 toneladas de cana-de-açúcar por hectare, contra 85 toneladas/hectare em igual período da safra passada, segundo dados da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar).
Também na parcial da atual safra, a qualidade da matéria-prima (medida pela concentração de açúcares totais recuperáveis, ATR) na cana-de-açúcar chegou a 140,26 kg de ATR por tonelada, aumento de 0,65% em relação ao observado no ciclo passado. No entanto, na segunda quinzena de agosto, houve redução frente a período equivalente de 2020, passando de 155,95 kg de ATR/t para 154,85 kg de ATR/t.
Ainda conforme dados da Unica, nesta safra, houve necessidade, inclusive, de colher a cana de áreas atingidas pela geada, alterando significativamente o cronograma de colheita nas unidades produtoras.
Outro fato bem comum nesta temporada tem sido a entrada de etanol de outros estados do Centro-Sul em bases paulistas, especialmente de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Além da modalidade rodoviária, o combustível chega também via ferrovia em volumes expressivos.
Na safra 2021/22 (de abril a agosto), a participação das vendas de etanol hidratado (spot + contratos) de Mato Grosso para as bases paulistas está em 50,4%. No caso de Mato Grosso do Sul, o percentual atual está em 70%, contra 68,9% na temporada anterior.
A expectativa de agentes de mercado é de preços firmes até o início da próxima safra 2022/23, que, ressalta-se, também deverá sentir os efeitos do clima desfavorável sobre os canaviais e, consequentemente, sobre as cotações dos etanóis. Mesmo que a entrada de etanol de outros estados continue, um reaquecimento da demanda por biocombustíveis pode ser observado, intensificando o já persistente movimento de alta.
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