Sorgo, uma boa opção para safrinha, por Amadeu Rampazzo Junior
Desde o plantio da soja para a safra 2020/2021 que se encontrava atrasada por motivos de falta de chuvas, era de se esperar que a janela do plantio do milho/safrinha estaria comprometida, já prevendo também o atraso deste. Muito embora, até janeiro de 2021, o andamento das lavouras de soja se encontrava em bom estado após a normalização do clima. Tecnologias foram divulgadas também pela Embrapa para plantio do milho antes mesmo da colheita da soja, mas poucos produtores estavam preparados tecnicamente e em estrutura para tal procedimento.
No mês de fevereiro/2021, com a expectativa de boa safra de soja, sendo que aparentemente podiam prever produtividades acima de 70 sacas por hectare, poucos produtores conseguiram colher soja antes mesmo de uma “invernada” no clima, sendo que da segunda quinzena de fevereiro até os dias atuais, as chuvas não deram trégua para que os produtores de TO, MT e estados vizinhos conseguissem colher, causando perdas, baixa qualidade dos grãos de soja, prejuízos inesperados, atrapalhando sobre maneira a janela do plantio do milho safrinha, forçando muitos, a plantar o milho do mês de março.
Este procedimento ocorreu porque muitos produtores já tinham comprado seus insumos para o plantio de milho e não tiveram como voltar para trás, arriscando mesmo assim o plantio de milho, já com expectativa de não conseguir grandes produtividades, o que ressurgiu um risco significativo nesta atividade.
Acontece que já não bastava o atraso do plantio do milho safrinha, com fotoperíodo inadequado, estas lavouras de milho e mesmo aqueles plantados dentro da janela, vem sofrendo com as questões ambientais de baixa luminosidade, baixas temperaturas, lixiviação no solo de N e K nas adubações de cobertura, como também ataques de pragas de doenças de difícil controle parecem não funcionar com o uso de defensivos.
Enfim, percebe-se notoriamente em vistorias nas lavouras de milho a falta de vigor e diminuição no desenvolvimento das plantas que não satisfaz para se prever boas produtividades, somado também, pelo fato de que este milho será alvo de diminuição de chuvas em abril e maio, em época de pendoamento e enchimento de grãos. Podemos esperar este anoproblemas na produção e abastecimento de milho, principalmente no estado de Mato Grosso, haja vista, que comparando com o ano anterior, não se viu ainda no campo, um “milho bom”, passível de boas produtividades.
Isto causa preocupação, pois alguns produtores também fizeram contratos futuros de entrega de milho, como também tinham esperança na colheita de milho, em amenizar as perdas ocorridas na lavoura de soja (devido ao excesso de chuvas na colheita), então podemos esperar também algumas perdas da rentabilidade e lucratividade dos produtores, de maneira geral este ano.
O que se sugere nos próximos anos, baseado em planejamento agrícola, que o produtor possa viabilizar outras culturas no lugar do milho para o plantio em mês de março, tal como o Sorgo Granífero, e Sorgo Sacarino, que além de suportar melhor, a possível falta de chuvas nos meses de abril e maio, possa atender a demanda de matéria-prima para rações e/ou etanol, sendo tal cultura, perfeitamente viável tecnicamente para suprir esta demanda, tendo também, fator de melhoramento de solo como cobertura (cerca de 50 toneladas de massa verde por hectare, segundo a EMBRAPA) e estabilização de nutrientes, rotação de culturas, e tolerância a períodos de estiagem, como também diminuição de riscos na atividade rural.
O sorgo sempre teve preços pagos ao produtor, em torno de 70% do preço do milho e atualmente, não é diferente, enquanto o milho físico está valendo em torno de R$ 90,00 a saca de 60 kg, o Sorgo está valendo na média de R$65,00 a saca de 60kg. A produtividade média nacional é de 2,4Ton/ha (Embrapa: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1088301/utilizacao-do-sorgo-granifero-para-producao-de-etanol-no-estado-do-mato-grosso). Porém, essa produtividade tendea crescer à medida em que o produtor passe a planejar suasatividades e a utilizar o manejo adequado para possibilitar omelhor desempenho da cultura.
Ainda como mais um atributo, tem potencial da rebrota, e pode alcançar valores médios de 80% dorendimento obtido na primeira colheita, dependendo do manejo. Aintensidade e a produção da rebrota sãoproporcionais à sanidade das plantas naprimeira colheita e ao número de plantassobreviventes. Assim, as melhores cultivares são aquelas com maior resistência àsdoenças foliares e com maior capacidadede se manterem verdes após a maturação fisiológica dos grãos (EMBRAPA, 2017)
Segundo a EMBRAPA, o uso do grão de sorgo para a produção de álcool, entrando num processo existente de produção de álcool de milho, pode efetivamente diminuir a diferença de custo existente entre o custo do litro de álcool de cana-de-açúcar e milho, pois o sorgo graníferoou sorgo sacarino, possui custo de produção inferior ao do milho.
É importante ressaltar, neste caso que se faça uma boa gestão junto às empresas produtoras de etanol de milho, com bom convencimento de que aceitam o recebimento do Sorgo como opção, para que possam também adotar isto para as futuras safras, pois, mesmo além do sorgo ter bom rendimento para o etanol, também tem boa relação de farinha/ração, até mesmo sendo subproduto para uso em confinamentos de bovinos.Existem opções também de se instalar miniusinas de etanol nas propriedades de modo particular ou sistemas de condomínio ou cooperativas.
Como ingrediente alternativo e com produção industrial no mesmo nível do milho, agronomicamente o sorgo granífero também pode, e deve ser produzido no ciclo de safrinha, com emprego de alta tecnologia, por ser mais tolerante a seca, portanto, com menor risco de perda em lavoura, e ainda conta com cultivares sendo desenvolvidos pela EMBRAPA com o rendimento de 6.000 kg ha-1 de custo de produção inferior ao do milho.
Pela pesquisa da EMBRAPA, o sorgo é uma espécie bastante versátil, abrangendo diversos segmentos do mercado agrícola mundial. O melhoramento genético da espécie desenvolveu cinco tipos diferentes de sorgo, que podem ser utilizados para a produção de grãos (sorgo granífero), de massa para ensilagem (sorgo forrageiro), de biomassa lignocelulósica (sorgo lignocelulósico), de etanol (sorgo sacarino) e até para a produção de vassouras (sorgo vassoura). Essa grande variabilidade entre os tipos de sorgo torna a cultura especial, por ser capaz de atender diversos mercados, interesses e necessidades em todo o mundo.
Referências:
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/27506/1/Mercado-comercializacao.pdf
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/57977/1/Sorgo-sacarino-1.pdf
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