Estratégias de manejo do pastejo para o período de transição águas-seca, por Samea Moraes Cabral
O período de transição águas-seca é um dos momentos em que mais devemos nos preocupar com a oferta de alimento disponível na propriedade, pois é quando partimos de uma condição de grande disponibilidade de alimento – estação chuvosa –, para uma condição de escassez – estação seca. Dentro do período de transição, temos redução dos índices pluviométricos, do crescimento e da produção de forragem, além da queda dos valores nutricionais da planta, culminando com o início do período seco.
Não existe uma técnica específica para todos os sistemas de produção, em todas as regiões. De maneira geral, quando falamos de transição águas-seca, temos que nos atentar ao planejamento alimentar da propriedade, para que esteja definida uma maneira de compensar a queda da produção de forragem. Um bom planejamento estratégico deve ser feito com pelo menos um ano de antecedência.
Manejo do pastejo é um fator primordial para a transição águas-seca
Um dos fatores primordiais a ser observado durante a transição águas-seca é o manejo das pastagens. Neste período, deve-se proceder com o ajuste de carga, diminuindo-se a lotação das áreas utilizadas e, em determinadas situações, será preciso realizar a venda de alguns animais. Além disso, as forrageiras precisam ser manejadas com altura de resíduo pós-pastejo um pouco mais elevado do que o recomendado, uma vez que o restabelecimento da planta é dependente da quantidade de material fotossintético remanescente. E a maior intensidade de desfoliação (menor resíduo) nesse período crítico de transição pode resultar em prejuízos para a produtividade ou mesmo iniciar um processo de degradação da pastagem.
O produtor pode optar por fazer o diferimento de pastagem, que consiste em selecionar determinada área e deixá-la separada por algum tempo, ficando em descanso, com o objetivo de ser vedada para ser utilizada durante a seca. Essa ação é feita ao final das chuvas ou durante todo o período chuvoso, dependendo da região. Normalmente a vedação se estende de 60 a 90 dias antes do final das chuvas.
Para tanto, devemos nos atentar que áreas destinadas à vedação, que ficam em descanso por longos períodos, apresentam maior altura da forrageira, criando, desta forma, grande quantidade de massa. Com isso, o acamamento ou tombamento da forragem são favorecidos no momento da entrada dos animais, gerando perdas de massa por pisoteio e diminuição do aproveitamento da massa acumulada devido à dificuldade de apreensão da forragem por parte dos animais. O tempo de vedação tem relação direta com a qualidade bromatológica da MS (matéria seca) da forragem. A área vedada terá boa disponibilidade de massa, porém com valor nutricional menor, pois grande parte da massa acumulada será composta por colmos e material senescente (material morto), nessa etapa a planta estará com maior teor de fibra e menor teor de proteína. O diferimento de pastagem é uma alternativa de baixo custo. Outro fator importante é a escolha da forrageira, pois nem todas são indicadas para esse manejo. Dentre as forrageiras adaptadas, temos cultivares do gênero Brachiaria, como: Marandu, Decumbens,Ruziziensis, da Brachiaria híbrida cv. Mulato ll, e dos novos cultivares Sabiá e Cayana. Além das cultivares do gênero Panicum como: Tanzânia e Massai, e do gênero Cynodon.
Além do manejo do pastejo, outra estratégia é a conservação da forragem em forma de silagem, feno e pré-secado
Outra estratégia a ser observada é a conservação da forragem na forma de silagem. Com a correta produção da silagem os animais terão um alimento volumoso de qualidade durante a seca, amenizando a estacionalidade da produção forrageira. Diversas forragens podem ser utilizadas no processo de ensilagem, como milho, milheto, sorgo forrageiro e granífero, além de algumas gramíneas tropicais. Dentre os métodos de conservação de forragem, o produtor pode optar ainda pela produção de fenos ou pré-secados.
Fenação consiste em propiciar a rápida desidratação da planta que está com 80 a 85% de umidade, para valores reduzidos a 10 a 15%. Diferentemente de pré-secados, que mantém a umidade entre 40 a 60%, em ambiente anaeróbico. Vale ressaltar que o valor nutritivo do produto, seja feno ou pré-secado, é dependente da qualidade da planta no momento da colheita. De maneira geral quanto mais rápida e homogênea for a desidratação, maior a chance da planta conservar seus nutrientes.
Para a escolha da planta a ser usada neste tipo de manejo, é preferível forrageiras ou leguminosas com colmos finos, flexíveis e elevada relação folha:colmo. O produtor deve ficar atento ao ponto de corte: é necessário que seja feito quando a planta estiver com bom valor nutricional e com maior quantidade de folhas, ou seja, o corte deve ser iniciado antes do início da floração. No entanto, o período em que a planta está em pleno desenvolvimento coincide com a época chuvosa e isso pode ocasionar dificuldades climáticas durante o processo de produção. No caso de colheitas mais tardias, têm-se consequentemente diminuição do valor nutricional.
Após o corte, a planta inicia o processo de desidratação, que é um dos principais fatores a ser considerado para essa tecnologia (feno), e depende de fatores climáticos como: temperatura, umidade relativa do ar e radiação solar. Maior quantidade de folhas em relação a de colmos também favorece a rápida desidratação e qualidade do produto. As plantas cortadas devem ficar espalhadas no campo e expostas ao sol, lembrando que o material deve ser revolvido por pelo menos duas vezes ao dia e ao final da tarde ser enleirado e espalhado novamente no dia seguinte. A umidade da planta deve ser monitorada antes do recolhimento para armazenamento.
No caso da produção de pré-secado, o material deve ser recolhido com umidade média de 40 a 60% para ser enfardado e embalado em lona plástica resistente, de forma que favoreça a fermentação necessária. Enquanto que o material para ser fenado permanece por mais tempo no campo, o recolhimento deve ser feito quando a forragem estiver com teor de umidade entre 10 a 15%. Tanto para o feno quanto para pré-secados, os mesmos processos e equipamentos podem ser utilizados, exceto para embalar a silagem pré-secada que necessita de equipamento específico. Independente da técnica escolhida, alguns cuidados como a escolha da planta, momento da colheita, secagem e recolhimento do material para armazenamento são fundamentais.
Produtores têm optado por fazer Integração Lavoura-Pecuária para suprir a falta de alimento na transição águas-seca
Alguns produtores que possuem produção de grãos na propriedade têm optado por fazer Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Uma das integrações mais utilizadas tem sido o plantio da soja (em primeira safra) e, após sua colheita, segue-se com a safrinha de milho em consórcio com alguma gramínea tropical perene. Após a colheita do milho, podemos obter uma pastagem de qualidade, suprindo a deficiência de falta de alimento. Além disso, a integração promove outros benefícios como: o aumento da produtividade de grãos na safra seguinte e a melhora nos atributos físicos e químicos do solo.
Em alguns casos, a ILP é utilizada com o objetivo de produzir massa verde para ser conservada em forma de silagem e não somente com o foco na produção de grãos para comercialização. Dessa forma, o milho ou o sorgo forrageiro é plantado em consórcio com alguma gramínea tropical perene e, nesse caso, os dois materiais são colhidos ao mesmo tempo, formando a massa a ser ensilada, ficando disponível uma área formada de pasto pela gramínea usada na integração, e que será utilizada para pastejo posteriormente.
Conclusão: independente da estratégia escolhida para o período de transição águas-seca, o planejamento é a principal ferramenta a ser utilizada.
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