Clima seco favorece a colheita do café em Minas Gerais
O início do outono foi marcado por chuvas esparsas que contribuíram para a etapa final de enchimento de grãos do café, tal condição também deverá contribuir com a granação dos frutos da próxima safra de café que está iniciando em Minas Gerais. Apesar destas chuvas, algumas colheitas mais precoces têm demonstrado alto índice de frutos chochos, que podem estar associados aos pequenos veranicos ocorridos anteriormente.
Chuvas no mês de março em Minas Gerais
Em Minas Gerais, ao longo do mês de março, o total acumulado de chuva foi inferior a 100 mm sendo que nos primeiros vinte dias as chuvas foram mais concentradas na região Centro-Sul do estado e nos últimos dez dias choveu mais na porção Centro-Norte e Leste do estado (Figura 1).Do total que choveu em março, apenas em pequenas áreas do Triângulo Mineiro, Noroeste e Leste foram registradas chuvas acima da média (acima de 100%), ao passo que valores abaixo da média (abaixo de 100%) foram observados em todas as regiões mineiras, sendo que em muitos pontos os valores observados foram inferiores a 60% da média, isto é, choveu aproximadamente 2/3 do que normalmente ocorre no mês de março (Figura 2) levando Minas Gerais às atuais condições de défict hídrico o qual pode ser visto na Figura 3a.
01 a 10 de março 11 a 20 de março 21 a 31 de março
Figura 1 – Informações de chuva acumulada a cada 10 dias em Minas Gerais ao longo do mês de março de 2017.
(a) (b)
Figura 2 –a) Valores percentuais de chuvas que ocorreram no mês de março em relação à normal climatológica (valor igual a 100%); b) déficit hídrico registrado no dia 31 de março de 2017. Fonte: SISDAGRO –www.inmet.gov.br
El Nino/La Nina
Nas últimas semanas, as condições de temperatura na superfície do Oceano Pacífico Tropical sugerem a permanência de condições de neutralidade em relação ao fenômeno ENOS, ou seja, sem a presença de El Niño ou La Niña. Modelos internacionais que monitoram o fenômeno ENOS indicam alta probabilidade de que o Oceano Pacífico Tropical se mantenha em uma fase de neutralidade no primeiro semestre de 2017, fazendo com que para Minas Gerais seja esperado o comportamento climático dentro da normalidade para a estação do ano.
Comportamento climatológico, ou normal, das temperaturas e chuvas no trimestre abril a junho, conforme série histórica de dados:
Neste trimestre, no qual ocorre a maior parte do outono, as temperaturas caem gradualmente, principalmente as mínimas, evidenciando a transição para o inverno. A partir de abril, a amplitude térmica aumenta, com temperaturas elevadas à tarde e amenas à noite e no início da manhã. Normalmente, no mês de maio as massas de ar frio, com intensidade moderada a forte, conseguem atingir a Região Sudeste, favorecendo a ocorrência da primeira onda de frio no estado provocando, assim, à queda brusca de temperatura de um dia para o outro, contribuindo para que as temperaturas permaneçam amenas por alguns dias. É também em maio que normalmente são observadas as primeiras geadas nas regiões serranas do Sul do Minas.
Com relação as chuvas, já no mês de abril, há redução gradativa na frequência e nos totais acumulados de chuva, evidenciando o fim do período chuvoso. Em maio, as chuvas são raras e praticamente restritas ao Centro-Sul e à faixa Leste do estado. No mês de junho, praticamente não chove em grande parte da faixa Norte. Tal comportamento revela o início da estação seca (Figura 3).
Abril Maio Junho
Figura 3 – Distribuição das chuvas em Minas Gerais, para os meses de abril, maio e junho, médias climatológicas para o período 1961-1990.
Prognóstico para o trimestre
As chuvas poderão variar entre os valores normais a abaixo da média, no Oeste e no Sul de Minas Gerais, e as temperaturas tendem a ficar ligeiramente acima da média no Oeste, Centro-Sul e Sudeste do estado. Para o mês de maio, em Minas Gerais, a Região Sul é aquela na qual é esperado pequena anomalia negativa na precipitação, ou seja, volumes de chuva pouco abaixo dos valores normais para o período.
Figura 4 – Previsão sazonal probabilística para o trimestre abril, maio e junho de 2017. Fonte INMET.
O Café
Pode-se dizer que em Minas Gerais, a estação seca já inicia com déficit de chuva, o que pode causar grande estresse hídrico às lavouras de sequeiro no decorrer da estação. Na cafeicultura o estresse hídrico associado a temperaturas mais elevadas, favorece a ocorrência da maturação precoce dos frutos, fato esse já identificado na atual safra, podendo contribuir para o menor acúmulo de fotoassimilados,e interferir também na rota de açúcares, o que poderá comprometer à qualidade da bebida da próxima safra. A possibilidade de volumes de chuvas abaixo dos valores médios, em algumas regiões do estado, poderá também beneficiar o processo de secagem no terreiro e, consequentemente, favorecer a qualidade do café. Os produtores devem estar atentos à manutenção das máquinas, como o processo de engraxamento seguido do teste dos demais equipamentos antes da utilização no campo, para não terem surpresas durante o início da colheita da atual safra. Demais materiais utilizados na colheita, como panos e sacarias, entre outros, também devem ser adquiridos com antecedência.
O prognóstico
A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foram elaborados com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo 5º DISME/INMET. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG, a Embrapa Café, o INMET e demais órgãos que serviram como fonte de consulta para elaboração desse documento, não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.
Williams Ferreira1, Marcelo Ribeiro2
1Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais.
2Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café.
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