Quadro mundial favorece compra de café, por Rodrigo Costa
O esperado e por muito tempo telegrafado aumento dos juros Norte-Americano foi entregue aos mercados na última quarta-feira, elevando o custo do dinheiro em vinte e cinco pontos básicos adicionais, para módicos 050% a 0.75% ao ano. A surpresa, altista para o dólar, foi o comunicado do FED indicando outros quatro ajustes em 2017, um a mais do que se especulava.
Há um ano o banco central americano incrementou o mesmo tanto o “fed-fund rate” com uma promessa de outros ajustes durante 2016, mas que nunca se materializaram. Primeiro em função da turbulência dos mercados em janeiro provocada pelas quedas das bolsas e a desvalorização da moeda chinesa. Depois teve a votação do Brexit, e então a eleição do Trump. Mesmo com o desemprego em baixa e a inflação ianque atingindo o objetivo do banco central não houve sequência na normalização da política monetária. Será diferente em 2017?
Dois dos principais índices acionários dos Estados Unidos fecharam a semana inalterados, depois de baterem novos recordes de alta, e o Dow Jones ganhou 0.44%, também após negociar nas máximas históricas.
A valorização do índice do dólar para o nível que não víamos desde 24 de dezembro de 2002 pressionou as commodities para baixo, com quedas destacadas da prata, do açúcar, do suco de laranja e do gás natural. As matérias-primas ganhadoras, dentre as que compõem o CRB foram: o suíno-magro, o trigo e o gado.
O café tanto em Nova Iorque como em Londres tiveram desempenhos positivos, ainda que o primeiro tenha subido de forma errática. O robusta está de olho nos rumores sobre a liberação de importação de café ao Brasil, tema que parece distante de consenso entre as entidades de classes locais.
Em um ano em que se torceu o braço dos que estavam certos de uma alta no primeiro semestre e de uma baixa na segunda metade do ano, muitos parecem estar lambendo as feridas com a volatilidade exacerbada em função, também, da oscilação do Real brasileiro.
Com o contrato “C” distante em quase US$ 40.00 centavos por libra da alta de 8 de novembro e o Brasil tendo 75% da safra atual comercializada os produtores mostram pouco interesse de participar na venda aos preços atuais. A indústria torrefadora brasileira deve prover algum suporte caso os preços caiam mais, enquanto os exportadores vão aguardando um eventual aperto que deve acontecer antes do início da colheita da safra 17/18 para desovar parte dos diferenciais baratos que tem nos livros.
Nas outras origens do arábica o ritmo de venda é dosado de acordo com a disponibilidade, sendo que na Colômbia muitos dizem que a pressão vendedora já passou.
No robusta as chuvas no Vietnã continuam a atrasar o fluxo mais franco de café para desespero de quem precisa honrar seus compromissos. A estrutura do terminal Londrino mantem o sinal positivo para os preços futuros e uma eventual aprovação de drawback no Brasil vai novamente provocar uma corrida nos spreads.
O quadro de oferta e procura mundial para o café está longe de ser confortável para se ignorar uma garantia de preços nos atuais patamares entre os compradores naturais, os torradores, ainda mais depois do susto de pouco mais de um mês atrás. Ao mesmo tempo em que os estoques no destino dão conforto para quem precisará de café, não se pode esquecer que o preço da fatura é definido pela fixação de preço no mercado futuro.
O relatório do CFTC mostrou os fundos com a menor posição comprada desde 14 de junho último, tanto bruta como líquida – naquele mês os especuladores viraram a mão de vendidos para comprados. A compra dos comerciais foi menor do que podíamos imaginar, mas novas mínimas voltarão a atrair o interesse destes agentes.
O risco de baixa vai ficar por conta do Real desvalorizar muito ou o índice do dólar firmar acentuadamente e desencadear liquidação por parte dos fundos macroeconômicos. A proximidade do período de festas vai impactar no volume negociado e pode deixar o terminal mais volátil caso haja uma entrada mais agressiva de ordens grandes.
Este é o último comentário de 2016. Aproveito a oportunidade para desejar a todos os leitores e amigos um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de saúde e sucesso. Estarei de volta no primeiro final de semana de fevereiro.
Bons negócios a todos e bom descanso aos que tirarão férias,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
0 comentário
Crise no campo: estratégias para salvar o produtor rural da inadimplência e proteger seu patrimônio, por Dr. Leandro Marmo
O início da safra de grãos 2024/25 e as ferramentas que potencializam o poder de compra do agricultor
Produção de bioinsumos on-farm, por Décio Gazzoni
Reforma Tributária: algo precisa ser feito, antes que a mesa do consumidor sinta os reflexos dos impostos
Benefícios da fenação para o bolso do produtor
Artigo/Cepea: Quebra de safra e preços baixos limitam rentabilidade na temporada 2023/24