Trump e o mercado de grãos, por Manuel Alvarado Ledesma
Os mercados - não somente os agrícolas - se encontram em choque.
Os papeis dos analistas, questionadores e especuladores da política foram queimados. Ganhou Trump. Contra o previsto, Hillary Clinton ficou de fora. Não haviam, ainda, digerido o Brexit, quando, como balde de água gelada, se deu a notícia: Trump havia ganhado.
Por falta de cenários alternativos nas análises, todos se perguntam: e agora... O que será?
Vejamos...
É certo que o mundo enfrenta uma incógnita. E a política exterior dos outros países deverá adaptar-se a isso. A um quadro que poderá ter muitas mudanças ao mesmo tempo.
Os primeiros indícios mostram que, na nova etapa, os Estados Unidos tenderão a uma política fiscal expansiva e a uma política comercial protecionista.
Nos interessa, especialmente, como o protecionismo afeta os mercados de grãos.
Como sabemos, o protecionismo tem foco no favorecimento das empresas locais e, portanto, no emprego. Trata de favorecer a produção interna. Mas isso não é grátis: as relações internacionais ficam complexas. O princípio de retaliação, no comércio, é uma prática clássica, quando o protecionismo entra em vigor.
Se o protecionismo norte-americano inclui a relação com a China, esta tenderá a responder da mesma forma. É possível que, em tal caso, ao invés de buscar produtos agrícolas na América do Norte, o país asiático faça isso na América do Sul.
Em resposta a qualquer impedimento de entrada de produtos chineses por parte dos Estados Unidos, a gigante asiática responderá deixando de importar commodities agrícolas deste país e deverá dirigir seus olhares para o sul.
Vale recordar também que os Estados Unidos é o principal importador do mundo e possui um déficit comercial enorme.
Se o protecionismo restringe o ingresso de produtos da China, esta ficará afetada em seu poder de compra também. Logo, deve-se prever ainda que a capacidade importadora de China pode ser reduzida.
Mas não seria lógico crer que essa restrição chegue à soja e outros pordutos primários. Mas as autoridades chinesas restringiriam o acesso de produtos supérfluos.
Esta é uma boa notícia para os agricultores. Em meio a tantas notícias confusas, parece que, ao menos, os grãos seriam menos prejudicados. Terá que ver como o "filme" irá se desenrolar.
Com relação à política fiscal expansiva, Trump implementaria um programa de inversão em infraestrutura e diminuiria impostos às empresas, o que induziria a um aumento na taxa de juros dos Estados Unidos. Este fator, somado à fragilidade do euro, poderia impulsionar o valor do dólar, algo que já estamos observando - o dólar segue apreciando-se em relação a outras moedas.
Um índice realizado pela Reuters situa o dólar nos níveis mais elevados observados desde o mês de janeiro.
Evolução do dólar (Euro/Dólar)
A fortaleza da moeda americana é inimiga da melhora dos preços dos produtos agrícolas. Cada vez que se eleva o valor do dólar, esses produtos ficam mais caros no exterior e, assim, a demanda cai.
Bom... assim estão as coisas. Se algo está claro, é que o quadro imediato se afoga em incertezas.
Artigo escrito por Manuel Alvarado Ledesma no site argentino Agrositio. Traduzido por Izadora Pimenta, do Notícias Agrícolas.
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