Café: Oferta e demanda mundial equilibradas, por Rodrigo Costa
A criação de postos de trabalhos em julho nos Estados Unidos foi menor do que estimada pelo mercado, mas ainda assim permanece em patamares que devem manter a taxa de desemprego ao redor de 5%, em linha do objetivo do FED.
Em geral os dados da economia americana têm animado os investidores e renovado o apetite pela compra do dólar. Do outro lado do oceano a libra-esterlina negociou no menor nível em 31 anos após a primeira ministra da Inglaterra dizer que está preparando o país para sair da Comunidade Européia.
As principais bolsas de ações tiveram comportamentos mistos na semana, com destaque para a puxada do IBOVESPA de 4.7%
Entre as commodities da cesta do CRB o gás natural liderou com o rally de 9.15%, seguido pelo ganho de 3.95% do açúcar. Prata e ouro cederam 8.53% e 4.90%, respectivamente.
O mercado de café trabalhou com perdas durante a semana do Coffee Dinner na Suiça justamente enquanto analistas se reuniam para dividir suas planilhas e leituras do quadro fundamental mundial – tendo a maioria um viés altista para os preços.
A queda de Nova Iorque foi de US$ 3.55 centavos nos últimos cinco dias e a de Londres de US$ 3.00 por tonelada, performances boas se considerarmos o rompimento de níveis técnicos importantes nos gráficos e o clima mais favorável para os cafezais no Brasil.
As bolsas mais fracas esfriaram a movimentação no físico, firmando os diferenciais nas origens. Com a disponibilidade ainda pequena na Colômbia, na América Central e no Vietnã, notou-se uma retração natural dos produtores.
As conversas nos corredores e nas salas do excelente evento realizado pela Swiss Coffee Trade Association foram dominadas pelo sentimento positivo para os preços em função, principalmente, da atual safra menor do conilon e dos prognósticos nada animadores para o próximo ano. As preocupações com as precipitações diminuíram, ainda mais com as fotos das floradas que andaram circulando pelos e-mails de todos.
De forma sucinta o sentimento baixista está restrito àqueles que vêem a posição comprada dos fundos ser muito grande e os estoques altos no destino (e agora no Brasil, pós-colheita). Já os alistas falam de um ano de déficit e o número grande da posição vendida dos comerciais (incluo aqui a necessidade de compra destes também).
Em uma parte da minha apresentação eu fiz uma simulação de tamanhos de safras diferentes para as duas principais origens produtoras no mundo, o Brasil e o Vietnã, sem a pretensão de ser preciso, mas sim com a idéia de exercitar cenários. Desta forma se assumirmos uma produção brasileira de 55 milhões de sacas e vietnamita de 28 milhões de sacas, o superávit mundial será de “apenas” 2.8 milhões de sacas. Se o leitor mudar os números, e ambos são passíveis de discussões e análises bem distintas, logo verá que os estoques mundiais deverão cair. Em outras palavras, o quadro é de equilíbrio e, portanto perigoso para quem fica extremamente negativo.
Eu creio que dividindo a análise entre curto, médio e longo-prazo, temos um mercado que ficará no intervalo entre 140 e 160, depois (em fevereiro e março) deve buscar níveis mais elevados para então (a partir de março) encontrar preços que devem se estabilizar possivelmente acima de 160 centavos. A cautela com o curto-prazo é porque uma alta acentuada neste momento vai permitir o alargamento dos diferenciais de todas as origens, inclusive potencialmente tornando viável que cafés suaves novos migrem para os estoques certificados da ICE. Desta forma uma alta no curto-prazo precisa de um enfraquecimento do dólar, ou o fortalecimento do Real e do Peso Colombiano ou eventualmente algum outro problema climático.
Parece que a visão dos torradores seja a de aguardar o primeiro cenário e por ora não adicionam mais cobertura de futuros em seus livros, conforme mostrou o relatório do COT. A indústria deve imaginar que uma pressão de venda com a entrada das safras dos suaves e do Vietnã abrirá uma janela de preços mais atrativos. Difícil é vermos os diferenciais e a bolsa enfraquecendo juntos.
Os comerciantes por outro lado estão ansiosos notando uma demanda ruim que mantem o basis largo talvez pela necessidade que alguns têm em exportar para honrar seus contratos de câmbio, por exemplo.
A redução da posição comprada dos fundos e o fechamento técnico da semana podem dar algum folego para o terminal. Uma consolidação acima de 145.00 centavos do arábica cedo ou tarde também trará um pouco mais de compra. A baixa volatilidade que perdura desde agosto para o “C” permite aos fundos não apenas ficarem com uma posição mais comprada como eventualmente incrementar para até bater novos recordes, que vimos acontecer sequencialmente no açúcar este ano. Entretanto para atrair um aumento de posição é preciso ter uma história fundamentalmente bem positiva, hoje esta ainda é morna.
Não haverá comentário no próximo fim de semana, volto a escrever no sábado dia 22 de outubro.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa
Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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