Cooperativismo: o legado de Zordan, por Marcos A. Bedin
Mais do que estrutura física e recursos técnicos, as instituições são feitas de homens e ideias, ou seja, de líderes vocacionados e esclarecidos e ldeias-forças capazes de arrastar parcela significativa da sociedade na perseguição a um objetivo comum. Os oito anos em que o cooperativista Marcos Antônio Zordan comandou a Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc) e a administração regional do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) se constituíram em um período profícuo de trabalho, conquistas e avanços. Fazer esse registro não significa culto à personalidade, mas, o necessário reconhecimento a quem emprestou sua experiência, seu conhecimento e seu tempo para fortalecer as sociedades cooperativas que atuam no campo e nas cidades catarinenses, garantindo trabalho e renda ou serviços e assistência para centenas de milhares de catarinenses.
Zordan atuou em várias frentes e demonstrou rara habilidade em defender tecnicamente e, principalmente, politicamente o cooperativismo. Essa não é uma tarefa qualquer: as cooperativas que atuam em território barriga-verde reúnem 1 milhão 908 mil associados. Se considerarmos cada pessoa uma família, constataremos que mais da metade da população catarinense está diretamente vinculada a essa modalidade de associativismo. Portanto, Santa Catarina tem a maior taxa de adesão ao cooperativismo do Brasil.
Para robustecer ainda mais esse patrimônio, Zordan Investiu forte na estruturação física, construiu e equipou a casa do Cooperativismo para abrigar todos os serviços oferecidos pelo sistema. Qualificou e valorizou a equipe interna, um corpo funcional pequeno, porém, valoroso, motivado e preparado para o desafio de responder as demandas por formação, qualificação e requalificação, estudo e pesquisa e, também, por defesa técnica do setor. Nessa área, contou com a competência do saudoso e inesquecível Geci Pungan, um dos mais qualificados gestores brasileiros, responsável pela implantação do Sescoop e seguidamente convocado a Brasília para assessorar a entidade nacional de cúpula, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Na formação profissional, foram investidos em média 15 milhões de reais por ano, beneficiando mais de 120 mil cooperativistas (entre associados, dirigentes e colaboradores de cooperativas), incluindo ações de formação e capacitação profissional, promoção social, monitoramento e desenvolvimento de cooperativas, ações centralizadas, ações delegadas, auxílio educação, programa Cooperjovem, programa jovens lideranças cooperativistas (JovemCoop), mulheres cooperativistas, jovem aprendiz, auxílio-educação, programa de desenvolvimento da gestão de cooperativas (PDGC), formação para conselheiros administrativos e fiscais para cooperativas de crédito (FORMACRED), monitoramento e auditoria em pequenas cooperativas.
Zordan manteve forte vinculação com os atores da cooperação, realizando seminários, fóruns e assembleias, mantendo permanente contato com os dirigentes e com as bases associativistas. Foi o primeiro gestor a promover investimentos programados em ações comunicacionais de longo curso que permitiram a disseminação de conceitos e princípios.
Apesar de todos esses avanços, foi na ação política e institucional que Marcos Zordan obteve grandes conquistas em face de um relacionamento respeitoso e independente com Senado, Câmara, Assembleia Legislativa, Ministérios e Secretarias, levando posições tecnicamente sustentáveis e eticamente defensáveis.
Em 2009, teve forte ação na aprovação do código ambiental catarinense, legislação essencial para garantir a viabilidade da atividade agrícola, pecuária e agroindustrial de milhares de famílias e empresas, grande parte delas organizadas em cooperativas. Essepioneiro avanço no Brasil estimulou concretamente a aprovação do Código Florestal Brasileiro, em 2012, pelo Congresso Nacional.
Outra bem-sucedida incursão foi a aprovação da Lei Estadual do Cooperativismo em 2015 pela Assembleia Legislativa, estabelecendo uma política estadual de estímulo. Sem criar privilégios nem facilidades, essa política pública era necessária para fortalecer o setor que, em Santa Catarina, cumpre extraordinário papel social e econômico. Desde 2007 o setor articulava a aprovação dessa lei. O governador Luiz Henrique da Silveira (in memorian) – grande admirador e apoiador do cooperativismo – enviou correto e coerente projeto de lei em 2013 à Assembleia, retirando-o depois que algumas emendas desfiguraram o texto original e ameaçavam criar um monstrengo jurídico desagregador.
Também valorizou crianças, jovens e mulheres muito além da retórica, instituindo atividades e programas de capacitação e de abertura de oportunidades para que todos possam participar do cooperativismo.
Enfim, ao término desses oito anos, Marcos Zordan deixa um legado, muito além da vistosa sede social, da robusta situação financeira e patrimonial e da entusiasmada e motivada equipe técnica, agora sob o comando do dedicado superintendente Neivo Luiz Panho. A gestão de Zordan será sempre lembrada pelo arrojo nas iniciativas e pela determinação nos objetivos, pela serenidade dos julgamentos e pela enorme capacidade de agregação das pessoas. Assim, lega ao seu sucessor Luiz Vicente Suzin uma entidade reconhecida, que fez do termo COOPERATIVA um sinônimo de transformação, crescimento, estabilidade e qualidade de vida.
0 comentário
O início da safra de grãos 2024/25 e as ferramentas que potencializam o poder de compra do agricultor
Produção de bioinsumos on-farm, por Décio Gazzoni
Reforma Tributária: algo precisa ser feito, antes que a mesa do consumidor sinta os reflexos dos impostos
Benefícios da fenação para o bolso do produtor
Artigo/Cepea: Quebra de safra e preços baixos limitam rentabilidade na temporada 2023/24
O Biodiesel e o Biometano no Combustível do Futuro, por Arnaldo Jardim