A pouca disponibilidade mundial de café, por Marco Antonio Jacob
A tabela abaixo representa previsões do USDA para a produção mundial de café da safra de 2016/2017, conforme link: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee.pdf
Apesar dos números mostrarem uma maior produção em relação à safra passada no total de 2,41 MM de sacas ou 1,57%, nota-se que este crescimento é devido quase que exclusivamente ao Brasil , assim devemos observar que será muito preocupante o fluxo de café para os países importadores, pois sabemos que:
- O Brasil esta com estoques mínimos de safras anteriores, incluindo-se os estoques Governamentais.
- Fisiologicamente existe uma bienalidade na produção de cafés arábicos brasileiros, que fara com que a safra de cafés arábicos seja menor na safra de 2017/18.
- O Espírito Santo e Sul da Bahia, as maiores regiões produtoras de cafés robustas brasileiros, sofreram gravíssima seca, que repercutirá e prejudicará também a safra de 2017/2018.
- Dado a menor produção de robustas brasileiros na atual safra, o consumo brasileiro deverá substituir esta diferença com cafés arábicos, assim o fluxo de demanda de cafés arábicos será intenso.
- Os dados do USDA para o Brasil são bastante generosos e otimistas, informações e projeções da iniciativa privada apontam uma safra menor em ambas as variedades de café na presente safra.
A pouca disponibilidade mundial de café é devido ao fato que o fluxo só será equilibrado, se os produtores brasileiros venderem toda a produção de café colhida em 2016/17, entretanto esta premissa não é realista, assim vamos a um exercício matemático, usando os dados do USDA:
Supondo que os produtores brasileiros, conforme seus costumes retenham apenas 10% da produção, o equivalente a 5.595.000 sacas para ser comercializada junto à safra de 2017/18, teremos disponível para ser comercializados nesta safra um volume de 50.355.000 sacas.
Com um consumo interno brasileiro de 20.500.000 sacas (dados do USDA), restará 29.855.000 sacas para a exportação.
Entretanto, devido a incertezas politicas e econômicas internas do Brasil, o produtor brasileiro deverá vender café em regime de caixa, isto é, venderá para pagar suas despesas, diante deste fato, a retenção poderá ser maior que o mencionado no exercício acima.
Inclusive com as incertezas climáticas, é saudável aguardar as floradas de outubro e novembro para se aprofundar no potencial produtivo para a safra 2017/2018 , pois uma única certeza temos, há uma bienalidade na produção brasileira de arábicos, pois a maioria das plantações de cafés arábicos estão sob efeito do “ stress” produtivo .
Voltando aos dados de produção mundial para 2016/2017, publicados pelo USDA, excluindo-se o Brasil, teremos uma menor produção mundial em relação à safra anterior, totalizando 4,15 MM de sacas ou 3,99%.
Assim sendo, supondo o tradicional costume dos produtores brasileiros de reterem café de uma safra para outra, usando o exercício de retenção de 10%, e o Brasil estar com estoque mínimos, o Brasil deverá exportar no máximo 30 milhões de sacas, menos 6 milhões de sacas que a media exportada nas ultimas 2 safras, que foram 36 milhões de sacas, pois nos últimos 24 meses estas expressivas exportações foram obtidas fazendo uso dos estoques.
Usando os dados de USDA de previsão de exportação mundial para 2016/2017, modificando as exportações do Brasil para 30 milhões de sacas, as exportações mundiais poderão diminuir em menos 8,67 milhões de sacas, conforme figura abaixo:
Mesmo os países produtores exportando recordes, com destaque para o Brasil exportando recordes de 36 milhões de sacas nas últimas 2 temporadas, não houve incremento relevantes nos estoques dos países importadores, conforme tabela abaixo com dados do USDA:
Inclusive os dados atuais de estoques de cafés certificados pela ICE (Bolsa de Nova York) são de apenas 1,307 milhões de sacos, menos da metade que há 3 anos atrás , que eram de 2,746 milhões de sacos.
O consumo mundial para a safra de 2016/17 está projetado em 150,81 milhões de sacas, assim sendo, qualquer desestimulo de produção através de preços não remuneratórios ou a qualquer evento climático desfavorável a cafeicultura mundial, poderá levar a um déficit de café mundial nos próximos anos.
Diante do exposto, é plausível afirmar que é pouca a disponibilidade de café mundial.
Marco Antonio Jacob é especialista e produtor de café.
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