É preciso pensar a resistência de plantas daninhas aos herbicidas, por Luciano Zanotto

Publicado em 16/05/2016 11:38
Luciano Zanotto é Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná e Gerente de Produtos Herbicidas da UPL Brasil.

Dados da consultoria Sparks Companies Inc. mostram que a resistência de plantas daninhas aos herbicidas aumenta 6,2% ao ano. Se usarmos este número, que parece baixo e sem importância quando isolado, para uma rápida estimativa do futuro, teremos um dado alarmante: até 2025 a resistência aos herbicidas será 55,8% maior.

Atualmente, estes 6,2% afeta a produtividade em 20% no plantio de soja e 22% na produção de milho, por exemplo. Neste cenário, o que será da agricultura no País daqui a dez anos, se não brecarmos esta resistência?

Segundo a Sparks, 93% dos agricultores entendem que a resistência de plantas daninhas será um problema no futuro. Mas entender que será um problema não quer dizer compreender o problema ou como ele pode ser combatido. Hoje em dia o herbicida é usado incessantemente, sem estudos aprofundados sobre o motivo da sua queda de eficácia e nem como combater a crescente resistência das plantas daninhas.

São situações distintas, mas outras pragas como a ferrugem asiática na soja ou o bicudo no algodão precisam ser levadas em conta na situação das plantas daninhas. Fugiram do controle porque foram subestimadas.

Surtos com plantas daninhas já são uma realidade em países vizinhos, como na Argentina, e podem chegar até o Brasil. Outros casos esporádicos devem funcionar como alertas. No ano passado, foram encontradas pela primeira vez no Mato Grosso plantas de Amaranthus palmeri. Esta é a principal erva daninha encontrada, até então, nos Estados Unidos e que possui um alto grau de agressividade.

Todos estes fatos são sinais e não deveriam ser ignorados. Aguardar um problema maior acontecer para combatê-lo é ‘brincar com fogo’. Em alguns casos ele pode ser vencido ao remediar a causa, mas em outros não, causando surtos que, como consequência, derrubam a produtividade e rentabilidade das lavouras.

Um manejo proativo, onde o produtor invista em planejamento a longo prazo, utilizando técnicas de rotação de culturas, manejo pós-colheita, uso de coberturas vegetais e capacitando os agricultores para a dosagem correta do herbicida, uso de pré-emergentes e sementes certificadas são algumas maneiras de evitar que, em um futuro próximo, o campo seja alvo de plantas daninhas ainda mais resistentes.

O tempo para criar uma solução tecnológica é muito maior do que a expansão do problema. São anos para a criação de novos produtos de combate, enquanto o surto começa de forma silenciosa até tomar conta das plantações. Por este motivo é importante prevenir, criar formas de antever e diminuir os riscos de contaminação das lavouras.

Em conjunto com o planejamento é preciso novas soluções tecnológicas. A única forma de se chegar a isso é investir no conhecimento. É essencial a criação de um Mapa de Plantas Daninhas para conhecermos quais e como são estes inimigos e dar subsidio para os cientistas aprofundarem as pesquisas de desenvolvimento de novas técnicas. Somente os pesquisadores munidos de informação podem fazer a diferença nesta batalha contra as plantas daninhas. São eles que darão o norte para seguirmos.

É preciso entender todo o cenário para pensar nas soluções e agir. Um exemplo disso foi o desenvolvimento do Wolf Team, da UPL, que reuniu especialistas renomados de todas as regiões do Brasil e de diferentes culturas - soja, milho, cana-de-açúcar, arroz e pastagem - para criar estratégias em busca de um futuro mais seguro e produtivo para o campo. A união de estudiosos com experiência de climas, culturas e solos distintos em busca de uma solução conjunta traz um cenário muito mais completo do momento atual e de como ele pode ser transformado.

Dar evidência para as pesquisas científicas é o caminho para chegarmos a novos métodos de controle.  Pode ser tarde demais para as lavouras se aguardarmos a resistência de plantas daninhas aos herbicidas ser crítica como as perspectivas mostradas nos dados. O problema já existe, em menor grau, e deve ser tratado como uma oportunidade para mudar.

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Luciano Zanotto

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