Café: O raio cai duas vezes no mesmo lugar, por José Donizeti Alves
Quando se fala no volume da safra de café para este ano de 2015, a frase que me vem à cabeça é uma só. Ao contrário do que se imagina, o raio cai duas vezes no mesmo lugar. Para ficar dentro do contexto da cafeicultura isto quer dizer que o calor e a seca do início do ano passado novamente se fazem presentes e como tal, irão afetar, da mesma maneira que afetaram a safra de 2014, a safra de 2015 e com vários agravantes.
O primeiro que gostaria de lembrar é que no final de 2013 as chuvas estavam normais. Já no final de 2014 o volume de chuva já estava muito abaixo da média, impondo déficits hídricos acentuados em varias regiões de MG e SP, desde o inicio de 2014. Como consequência, tivemos, além da queda na produção de 2014, uma forte queda na taxa de crescimento de ramos (justamente daqueles que irão produzir neste ano), vários eventos de florada, floradas tardias, abortamento de flores, queda de chumbinho, seca de ponteiros, etc, etc, etc. Na ausência de condições para adubar a lavoura e em vista de um forte depauperamento das plantas, muitos cafeicultores prevendo que neste ano não iriam produzir nada ou quase nada, optaram por podar a lavoura.
A semelhança do que ocorreu no início de 2014, seca e muito calor estão se repetindo neste primeiro mês do ano. O agravante neste caso, é que, hoje, as lavouras não se encontram no bom estádio vegetativo e reprodutivo daquelas do início de 2014. Muito pelo contrário, em vista das intempéries (calor e seca) que já estavam instaladas desde o ano passado e da ausência de tratos culturais desde o inicio da primavera, hoje as lavouras encontram-se, a exceção das irrigadas, com baixo vigor vegetativo. Estes dois agravantes, sem a menor sombra de dúvidas afetarão, em maior dimensão o volume da próxima safra e em um segundo plano, a safra de 2016.
Gostaria de destacar que em função do forte calor e seca deste mês, o enchimento dos grãos já começou a ser prejudicado. Isto equivale a dizer que as percentagens de frutos chochos e de frutos pequenos serão bem maiores que a comumente esperada, caso esses dois fatores não estivessem presentes.
Além disso, em função das varias floradas e principalmente da principal florada ter ocorrido tardiamente, teremos uma grande desuniformidade de maturação e um menor período de desenvolvimento dos frutos. Esses dois fatores contribuirão para depreciar a qualidade do café.
Em vista do exposto, penso que a safra de 2015 terá uma quebra significativa e obvio, não será igual a do ano passado. Se quiserem um número bastante realístico com tudo o que escrevi acima, é possível que ela varie na faixa de 25 a 28 milhões de sacas de café arábica. Chuvas regulares nos próximos meses teriam a capacidade de reverter, em parte, a percentagem de frutos chochos e pequenos.
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