Os cenários para a cana em 2015, por Marcos Fava Neves
O ano de 2014 termina como sendo provavelmente o pior para o setor de cana. Parece que todas as forças jogaram de maneira contrária, e não tivemos grandes notícias, a não ser no mercado da eletricidade, que ajudou no caixa das usinas. De resto, só pancada.
Os pontos de preocupação para 2015 são diversos. Começo pelo preço do petróleo: qual é o piso? Se ele continuar a cair, jogará grande pressão sobre as margens do etanol. Teremos também crescimento zero e desemprego forte no Brasil, atrapalhando o crescimento dos mercados consumidores.
A safra de cana será do mesmo tamanho, pois no geral tivemos menor renovação de canaviais e os efeitos do clima de 2014 nos levarão a uma produtividade igual ou menor.
O custo de produção continua elevado em 2015, pois não se esperam grandes ações de redução dos gargalos do custo Brasil. Existem riscos da tentativa de volta de outros impostos (CPMF), que afetam os custos do setor.
Teremos juros mais elevados e maiores riscos de refinanciamento (rebaixamento de ratings), trazendo aumento do endividamento e de casos de recuperação judicial. Fora isso, a entressafra longa traz mais risco para as empresas descapitalizadas (afetando o mercado por abaixar desnecessariamente os preços).
Para concluir, o desânimo e desconfiança generalizados no Brasil afetam negativamente o investimento; temos ainda o efeito Petrobras e o “dominó estatal”, ou seja, todo esse mar de lama na Petrobras vai paralisar o governo, e isso é apenas o começo de um período tenebroso em nossa história.
Apesar do grande volume de preocupações, existem pontos favoráveis para 2015. Deve finalmente aumentar a mistura do anidro na gasolina, para 27,5% (provavelmente iniciando em março de 2015). Aliado a isso, a provável volta da incidência da Cide na gasolina, pela necessidade de arrecadação por parte do governo, pode levar a um balanço mais favorável de preços e margens e aumento no consumo de hidratado. Uma safra mais “etanoleira” interfere favoravelmente nos preços internacionais do açúcar, sendo duplamente benéfica ao setor.
Os baixos preços do açúcar nos últimos anos desestimularam a produção em alguns locais no mundo. Com isso, começam a cair os estoques mundiais de açúcar e, como o consumo continua crescendo (1,5% a 2%), podemos entrar em fase de melhores preços.
Com o aumento do desemprego, devem cair os preços de mão de obra no setor. Fora este fato, teremos cada vez mais os efeitos do processo de “seleção”, ou seja, anos difíceis fizeram com que muitos deixassem a atividade, e os consolidadores são os mais eficientes e capitalizados (sem desconsiderar os graves problemas sociais ligados a essa saída da atividade).
Existem boas perspectivas na cogeração em 2015 e a taxa de câmbio deve ficar entre US$ 2,50 e US$ 2,80, ajudando nas margens dos produtos exportados pela cadeia produtiva. Será também um ano de mais trabalho, com a ausência de Copa e das eleições, que paralisaram a produção no Brasil em parte de 2014.
Enfim, meu balanço desses fatos todos me leva a crer que, para quem tem boa produtividade agrícola (usinas e produtores de cana) e baixo endividamento, 2015 será um ano razoavelmente melhor.
Marcos Fava Neves é professor titular de Estratégia na Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), câmpus de Ribeirão Preto.
0 comentário
Milho segunda safra tem potencial para dobrar a produtividade no Brasil
Intervenções do Bacen no câmbio funcionam? Por Roberto Dumas Damas
Abacaxi no Maranhão: Principais pragas, manejo integrado e uso correto e seguro de pesticidas agrícolas
Smart farming: como a IoT pode destravar o problema de conexão rural no Brasil?
Artigo/Cepea: Produtividade e renda dos trabalhadores no Brasil: uma análise intersetorial
Milho sob ameaça: mancha bipolaris pode se confundir com outras doenças e trazer prejuízos para a safrinha