Mercado do Boi Gordo: Epa, firmou!
Publicado em 09/04/2012 09:37
Por Lygia Pimentel, médica veterinária, pecuarista e analista de commodities.
Chegou a hora de o pecuarista ficar mais contente. Lembram-se de nossa análise sobre o movimento da carne na Quaresma e o comportamento do atacado na Semana Santa? Pois é, o mercado já começou a juntar esse movimento ao recebimento dos salários e resolveu fazer subir o boi casado nesta semana, apesar de ter sido pouca coisa.
O problema é que a concorrência com o frango e o suíno está acirrada. Essas duas proteínas estão trabalhando em ambiente “largado” e não ajudam a competitividade da carne vermelha, pois estão abaixo da média de diferença com a qual costumam trabalhar em relação ao bovino. Ruim pra gente.
Concomitantemente, a oferta de animais enxugou um pouco depois da saída grossa de fêmeas por causa do descarte da vacada vazia, que se concentra geralmente no primeiro trimestre. Pra quem acompanha de perto, ficou claro que as vacas já não estão saindo tanto quanto em fevereiro e março, apesar de abril ter apenas começado.
As chuvas recentes observadas no Centro-Oeste também deram maior capacidade de suporte às pastagens e agora ajudam o pecuarista a negociar melhor a produção. Apesar disso, não se pode dizer que é uma clara mudança de tendência. O boi não some de uma hora para a outra.
Essa lógica nos leva a crer que tem animais por aí, mas agora ganhamos um pouco mais de força na briga pelo preço. Digo isso pois as escalas de abate até encurtam um pouco, mas se mantêm em patamares relativamente confortáveis para a indústria. Observe:
Por outro lado, o mercado futuro tem nos mostrado algo muito bom. Houve valorização para os contratos da entressafra e, inclusive, para os contratos da safra. Veja que a curva dos futuros nos indica hoje que o fundo da safra já passou e ocorreu em março. A expectativa do futuro para maio é, inclusive, mais alta do que o indicador hoje e mais alta que o contrato de abril! Só tenho uma palavra para isso: oportunidade.
Outra constatação é que os contratos da entressafra começaram a ficar interessantes. Claro que ainda estão longe de deixar o pecuarista satisfeito, mas estão começando a dar chance de desafogar a ansiedade para quem está planejando entregar animais no próximo semestre.
Focarei no contrato que possui maior liquidez de negociação, o outubro/12. Recentemente ele engatou uma tendência de alta muito interessante e veio acompanhado do aumento de volume nas negociações. Bom, muito bom!
Aí entra aquele nosso lado chato: que tal começarmos a agarrar esse pássaro antes que ele resolva voar? Sempre recomendamos aproveitar as oportunidades, mesmo que o mercado suba mais depois. O ideal é manter a margem ao longo dos anos e executar a estratégia enquanto o mercado está subindo.
Depois, pode ser tarde demais. Sem falar que estamos em um período do ciclo pecuário que pode ser considerado relativamente perigoso quando se pensa em valorização forte da arroba frente aos custos de produção e à própria inflação. Não me entendam mal, mesmo em fases de baixa a sazonalidade ainda mostra sua força. Mas a oportunidade está aí!
Além disso, de acordo com pesquisa do Rally da Pecuária, ao final de 2011 a intenção era de aumento da ordem de 18,5% no volume de animais que seriam confinados em 2012 . Para a Assocon, através de notícia mais recente, essa intenção está em 15%. Considerando que nos anos anteriores o boi variou acima da inflação, o período foi de aporte tecnológico e entre as técnicas aportadas está o confinamento. O movimento de aporte tecnológico trabalha dentro de uma tendência evolutiva. Por isso é que faz sentido pensar em aumento do volume de animais terminados no cocho. Porém, sem o mesmo ímpeto visto no ano passado.
Como os preços não estiveram tão bons no segundo semestre de 2011, o mercado se ajusta, mas ainda dentro daquela tendência de aporte tecnológico.
Ninguém sabe ao certo quantas cabeças confinamos hoje. Alguns dizem que já havíamos passado das 4 milhões de cabeças em 2011, mas não conseguimos contabilizar isso através de dados oficiais. A questão é que muitos confinamentos menores são deixados de fora das estimativas, então certamente temos mais cabeças confinadas do que aquilo que a maior parte das análises aponta. Apesar da polêmica em torno dos números, aqui considerarei dados de uma estimativa feita pela Bigma Consultoria que indica 3,39 milhões de cabeças confinadas em 2011, aumento de 26% em relação a 2010.
Considerando a expectativa da Assocon de 15% de aumento para a atividade, chegaremos aos 3,8 milhões de cabeças confinadas e, de acordo com os dados do Rally da Pecuária, aos 4,02 milhões. Estamos praticamente lá. Na verdade, meu amigo e sócio-diretor da Bigma Consultoria, Maurício Palma Nogueira, discorreu sobre isso recentemente, estimando mais de 4 milhões de cabeças para 2012.
Temos, portanto, dois cenários levantados que indicam aumento do volume de animais para o segundo semestre. Moral da história? Aproveite o momento e também a Bolsa. Ela está aí pra fazermos bom uso.
Grande abraço e até a próxima.
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Fonte:
Lygia Pimentel
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