Quanto tempo NY ficou abaixo de US$ 1 em 2004?, por Rodrigo Costa
As bolsas de ações tiveram uma recuperação acentuada já no começo da semana puxadas pelas altas das empresas de tecnologia e pelos dados de vendas ao consumidor acima do esperado nos Estados Unidos.
O rompimento da média-móvel de 200 dias do S&P500 atraiu mais compras, com o índice encerrando sexta-feira no mais alto patamar desde novembro de 2018, o Nasdaq em níveis de agosto de 2018, enquanto o Dow Jones ainda fica abaixo da alta de fevereiro último.
Na Europa a extensão do prazo do Brexit para o fim de junho animou os investidores e na Ásia o estimulo veio do governo chinês indicando a redução de impostos ao consumidor.
O dólar mais fraco ajudou o CRB a ficar próximo da máxima do ano e dentro dos componentes da cesta de commodities o gás natural, o óleo de aquecimento, o níquel e o café caíram entre 0.73% e 2.20%, tendo o suíno-magro, o suco de laranja, os grãos e o petróleo subido – nos últimos cinco dias.
O café em Nova Iorque fez uma nova mínima, com o contrato de maio tocando US$ 94.65 centavos por libra, nível visto pela última vez em 30 de setembro de 2005 (US$ 93.80 centavos naquele dia). Londres também perdeu o chão, mas por ora se mantem acima dos patamares de março de 2016.
A arbitragem entre as duas variedades de café começa a mostrar ter chegado a uma resistência forte, e por estarmos muito próximos da entrada da safra de conilon e haver fixações pendentes dos produtores vietnamitas em bom volume, pode-se imaginar que os fundos devam aproveitar a fraqueza técnica do contrato do robusta para aumentar suas apostas de baixa.
A moeda brasileira tem influenciado as oscilações diárias do “C”, mais para atrair vendedores do que recuperar quando o Real apaga perdas de curto-prazo, e para os produtores colombianos a situação também não é animadora com o peso tendo uma apreciação – bastante relacionada com os ganhos do petróleo.
Falando em Colômbia o país decidiu desvincular seus preços de Nova Iorque, anuncio que carece de detalhes para que os agentes possam compreender. Muitos tem me perguntado sobre o efeito ao preço do terminal, mas não dá para emitir nenhuma opinião em cima de tantas duvidas que tem de ser dirimidas, como por exemplo: qual será então a referência de preço? Como será feita a transferência de risco? Haverá liquidez? Os compradores aderirão?
Enfim, bastante complicado endereçar tantos temas, haja vista que um dos papeis do mercado futuro, além de criar uma referência de negociação mundial, é também atrair especuladores que provenham liquidez assumindo o riscos de preço que os agentes naturais queiram transferir de suas atividades.
O Brasil já fez inúmeras experiencias para tentar controlar cotações e como resultado em várias delas perdeu participação de mercado nos blends-mundiais.
O fluxo de negócios no físico tem tido leve melhora no Brasil, a diferenciais caros, é verdade, mas que já foram mais caros. No FOB ouve-se negócios também saindo a níveis onde o comprador torce o nariz e que os vendedores também não parecem muito felizes em negociar.
Nas demais origens não se encontra nada barato, entretanto a necessidade de cobertura e talvez o nível outright de compra, ou seja, NY menos ou mais o basis, está causando alguma movimentação.
É de se imaginar que com a bolsa se mantendo abaixo de US$ 100.00 cts/lb por algum tempo e os diferenciais não enfraquecendo, em algum momento os estoques certificados e cafés do spot possam ser utilizados em maior volume.
Um dos contrapontos é o volume embarcado pelos quatro maiores produtores, e o maior deles em fevereiro exportou um novo recorde para o mês (curto), um total de 3.42 milhões de sacas.
Os estoques americanos subiram 209,958 sacas em fevereiro, totalizando 6,284,896 sacas. Na Europa em janeiro o inventário caiu para 11.31 milhões de sacas, 170 mil sacas a menos que dezembro.
Voltando a NY notamos que a ultima vez que a segunda posição ficou mais de um mês abaixo de 1 dólar foi em 2004, quando na verdade o mercado negociou a menos de US$ 100.00 centavos por libra de 13 de julho de 2000 a 2 de dezembro de 2004. Período menos longo, mas ainda duradouro, foi o de 22 de março de 1991 a 5 de maio de 1994.
Vamos torcer para que o atual seja bem menor.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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