Café: Nuances importantes na perspectiva do mercado, por Rodrigo Costa
O Banco Central Americano aumentou os juros em 25 pontos básicos e no comunicado ao mercado o FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) manteve indicações para dois incrementos adicionais em 2017 – muito embora a movimentação de alguns investidores trouxe ajustes defensivos quanto a uma pausa da normalização.
Os principais índices acionários no mundo sustentaram os ganhos recentes enquanto o índice do dólar escorregou após a reunião do FED, ajudando as commodities em geral.
Dentre os componentes do CRB os grãos lideraram os ganhos nos últimos cinco dias, seguidos pelo suco de laranja e os metais (preciosos e industriais) – apenas o gás natural, o cacau, o suíno magro e o açúcar-demerara caíram na semana.
O café arábica e o robusta deram a impressão que desmoronariam após quebrarem suas mínimas recentes, na segunda-feira dia 13 de março, mas o interesse de compra dos comerciais proveu suporte aos preços para levar as cotações aos mesmos patamares da semana anterior.
A queda do terminal desde o fim de fevereiro tem ajudado a indústria a colocar fixação em seus livros, como temos notado pelo aumento da posição bruta comprada dos comerciais vista no relatório do CFTC. Já o short (posição vendida) dos mesmos comerciais tem sido reduzido para os níveis de exatos um ano atrás, quando os estoques certificados tinham quase 100 mil sacas a mais.
As apostas de grande parte dos participantes parecem olhar apenas para uma direção: a puxada nos preços da bolsa de Nova Iorque. Estratégias de alta montadas via opções e a “rica” volatilidade implícita (quando comparada com a histórica) demonstram o sentimento que continua positivo (dando oportunidade de venda de volatilidade), muito embora outros indicadores deveriam deixar ressabiados os altistas.
Os diferenciais dos cafés suaves é um dos fatores baixistas no momento, refletindo de uma certa forma nas certificações de “canudos” contra o contrato “C”. De carona notamos também os estoques de café verde nos Estados Unidos que cresceram outras 123,007 sacas em fevereiro, estando a apenas 13 mil sacas para romper o nível de maio de 2003, ficando então no mais alto nível desde 1994!!.
Claro que falar neste espaço sobre diferenciais “baratos” gera um desconforto entre os produtores e operadores brasileiros, haja vista que a realidade local é distinta do que se vê entre as outras origens do arábica. A verdade é que, como eu já escrevi aqui, a alta da bolsa em Novembro permitiu uma “estocagem” de diferenciais baratos e cafés embarcados que ainda estão no destino a preços atrativos (ajudados também pelas rolagens em um mercado que está sempre em “carry”) e portanto sendo competidores contra a cara reposição brasileira no momento.
De uma forma simples: tem café brasileiro e de outras origens sendo oferecido mais barato do que o café sendo vendido no mercado físico do Brasil. Isto não muda o quadro fundamental no médio prazo, mas alivia sim um aperto que não vai se materializar como alguns esperavam, sendo negativo no curto-prazo.
O resultado na prática pode ser amargo entre os que decidiram segurar seus cafés para vender a preços ainda mais altos do que vimos ser praticados até recentemente (e que precisem de caixa agora), justamente quando a indústria local deve dosar suas compras aguardando a entrada da safra nova – que para o conilon entra no começo de maio.
Uma outra mudança de perspectiva interessante de ser notada é a expectativa do volume de produção do Vietnã. Até algum tempo atrás, antes das chuvas abundantes que caíram nas regiões produtoras daquele país, os prognósticos da próxima safra não eram animadores. Hoje já se ouve alguns crendo em uma colheita recorde, ajudada pelas precipitações e trato – o último recebendo o incentivo dos preços praticados.
Não estou sugerindo que de repente apareceu café, muito pelo contrário já que mantenho a visão de uma situação equilibrada aonde não há espaço para perdas de produção, mas volto a lembrar o que sempre falo em minhas conversas e palestras: o que dita o comportamento dos preços é a percepção e o ajuste de posições de acordo com uma mudança desta percepção, e neste momento há um risco de estarmos vivendo isto, o que pode fazer com que os fundos exagerem em suas vendas.
Uma queda acentuada das cotações será uma oportunidade para quem precisa comprar café, salvo um desmanche/liquidação de ativos de risco globalmente falando (incluindo uma desvalorização do Real).
Digo isto pois entre a perspectiva de safras maiores e a disponibilidade real de produto, há uma grande diferença. Principalmente considerando a necessidade de um clima perfeito em um cenário aonde os estoques mundiais estão relativamente baixos (comparado com o consumo) e os torradores operam com recebimentos just in time.
A mínima de US$ 138.60 centavos por libra em Nova Iorque e US$ 2,134 por tonelada em Londres precisam ser respeitadas para não trazer uma nova onda de liquidação.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting
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