Mercado de Açúcar: Mercado bipolar
O mercado parece estar passando uma crise existencial. Deitado no divã, não sabe se é urso ou é touro. Mercados também têm crises de bipolaridade, caracterizados pela variação extrema de humor entre uma fase altista e cheia de energia e outra baixista e anêmica. Já vimos diversas vezes que o mercado exagera na alta e na baixa em função de reações nem sempre racionais por parte de seus participantes. Vide o exemplo do ano passado, quando em maio, ao atingir 13 centavos de dólar por libra-peso, o mercado projetava fortes quedas para abaixo dos 10 centavos. Meses depois, atingiu 36 centavos quando muitos diziam que iria então para 60 centavos (como disse um gestor de fundos na Ásia). Em maio deste ano, no Sugar Dinner em NY, “profetas” previram que o mercado iria para 16 centavos muito rapidamente. Enfim, essas histórias se repetem, por isso insisto que devemos olhar atentamente para os fundamentos sem perder o foco na gestão de risco dentro de casa. Fazer o hedge, aproveitar oportunidades de compra e de venda que continuarão surgindo.
O tom continua altista, ou seja, os fundamentos continuam construtivos. Essas correções são normais e serão tanto mais contundentes quanto mais nervosamente oscilarem os preços. E essa semana foi particularmente desgastante para aqueles que gerem um portfolio e são forçados, por questão de método e disciplina, a ajustarem suas posições quando determinados níveis de preço são alcançados. Dói demais, mas são ossos do ofício. Tapar os olhos e não fazer nada pode doer ainda mais.
Um executivo tarimbado do mercado refaz os números e acredita que vamos chegar no máximo a 515 milhões de toneladas no Centro-Sul. Vai ser um Deus-nos-acuda, pois o mercado vai refletir com muito estresse a situação. Talvez tenhamos um melhor quadro de reflexão ao nos aproximarmos de setembro/outubro, quando os preços deverão novamente estressar e quem sabe procurar novas máximas. Não adianta que a conta não fecha.
O setor não tem investimentos substanciais desde 2008/2009 e o crescimento de cana nos últimos três anos foi na média abaixo de 3% enquanto o crescimento da frota brasileira de veículos leves alcançou pelo menos 8% ao ano (dos quais 90% são flex). Essa defasagem faz com que estejamos empurrando com a barriga uma situação que vai estourar em algum ponto lá na frente. Com uma frota projetada de 70-75% de veículos flex em 2017/2018, e um consumo potencial de 54 bilhões de litros de etanol, segundo estimativas da Archer Consulting, o Brasil precisaria moer entre 900-1.000 milhões de toneladas de cana, necessitando investimentos de US$ 60 bilhões em 6 anos. Onde está o investidor? Isso sem contar, evidentemente, com a paralisia do Governo Federal que prefere jogar pedras no setor a fazer sua lição de casa que é, entre outras coisas, dar transparência na política energética, garantir que as regras do jogo não sejam mudadas, além de estabelecer uma política de estoques reguladores usando os instrumentos disponíveis no mercado financeiro.
A volatilidade explodiu durante a semana elevando o prêmio das opções. O medo de ser pego no contrapé faz com que os participantes do mercado busquem proteção e paguem por ela o preço que for e por isso os prêmios sobem. No entanto, nos últimos dois dias os prêmios começaram a sentir o cansaço das alturas quando o ar é mais rarefeito e ensaiaram uma queda. Em outras palavras, pode ser que tenhamos alcançado provisoriamente – repito – provisoriamente a alta do mercado até que ele retome o fôlego, tenha mais combustível (sem trocadilho) para alimentar a alta (piora nos fundamentos) e resolva sua crise de bipolaridade aguda.
Por um problema técnico não conseguimos apurar o resultado do Fundo Fictício da Archer Consulting e vamos reportar o resultado desta semana no próximo relatório. A experiência me leva a crer que “tomamos tinta” na semana uma vez que a volatilidade subiu.
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