Mercado de açúcar: "Fadiga de material", por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado de açúcar em NY assistiu a uma espetacular recuperação de preços nas últimas duas semanas refletindo a percepção do mercado físico de uma piora nas perspectivas de safra da Índia e Europa. O contrato futuro com vencimento para março de 2020 encerrou nesta sexta-feira a 12.76 centavos de dólar por libra-peso, apreciando apenas 6 pontos durante a semana equivalentes a 1.30 dólares por tonelada. Os outros meses subiram mais: maio 18 pontos, julho 19 pontos e outubro 21 pontos. Mostra duas coisas: primeiro, que muita usina ainda está atrasada na fixação e pressiona o março; segundo, que o mercado entende que o ano que vem (2020/2021) será ainda mais restritivo em termos de disponibilidade de açúcar.
Um trader baseado em São Paulo sugere que a alta do açúcar recente se assemelha a uma fadiga de material. Em outras palavras, um fenômeno de ruptura progressiva depois de o mercado ter passado por ciclos repetidos de tensão ou deformação (leia-se preços baixos nem sempre validados pelos fundamentos). No contraponto, um colega de mesa acredita que a alta foi simplesmente causada por compras de sistema, ou seja, robôs, algoritmos e outros não-humanos.
A entrega de açúcar contra a expiração do contrato de outubro, no início da semana, foi um não-evento. O volume de 175,000 toneladas de açúcar foi o menor para um mês de setembro desde 2011. Tirou um peso do mercado já que uma entrega volumosa em pleno final de safra no Centro-Sul daria uma forte indicação de que o açúcar não encontra destino.
Os fundos recompraram em torno de 58,000 lotes em uma semana (pelo relatório do CFTC publicado às terças), mas ainda continuam segurando uma posição vendida à descoberto de aproximadamente 147,000 mil lotes que eles eventualmente terão que se cobrir. O mercado subiu 47 pontos no período coberto pelo relatório,
Infelizmente o cenário macro se deteriorou esta semana com as commodities de energia caindo quase 6% (caso do petróleo WTI e Brent) na contramão de algumas softs que se esforçaram bastante para ficar no positivo.
A atividade nas opções de açúcar em NY está bastante intensa. Quando isso ocorre, combinando com uma alteração na volatilidade dos prêmios, indica que o mercado está preocupado com uma iminente mudança de intervalo de preços. Assim, constata-se que um grande volume de opções tem sido feito nos últimos dias, basicamente concentrado entre os preços de exercício de 11.00 e 15.00 centavos de dólar por libra-peso, que possuem uma posição em aberto de 136,700 lotes combinados entre calls (opções de compra) e puts (opções de venda).
Mais de 40,000 lotes de puts estão em aberto nos preços de exercício entre 11.00 e 12.00 centavos de dólar por libra-peso e quase 90,000 lotes estão em aberto nas calls de preço de exercício entre 13.00 e 15.00 centavos de dólar por libra-peso. As opções se concentram entre 12.00 e 14.00 (111,000 lotes entre calls e puts) indicando o possível intervalo de preços no qual o mercado acredita que o açúcar estará até a expiração das opções de março, em meados de fevereiro do próximo ano (daqui a quatro meses).
Para os consumidores industriais de açúcar, convém comprar uma proteção de alta (calls) financiada pela venda de uma put fora-do-dinheiro. Fixando o preço máximo de compra que não comprometa significativamente a margem do produto, abrindo mão de um preço mínimo de compra da matéria prima, caso o mercado venha a cair. De qualquer forma, acreditamos que acima de 14 centavos de dólar por libra-peso o mercado começa a dar espaço para que a Índia ofereça seu açúcar para a exportação, limitando eventuais picos além daquele nível.
Obviamente algumas coisas precisam ser observadas, em especial o comportamento do petróleo no mercado internacional (os estoques estão elevados) que causa a queda da commodity e o real se fortalecendo em relação ao dólar. Esses dois fatores podem diminuir o apetite das usinas em maximizar a produção de etanol.
Nós estamos ainda no início do último trimestre do ano. Um elenco de eventos está à espreita para nos surpreender a todos: altistas, baixistas, pessimistas, otimistas, construtivos. Não podemos nos deixar levar pelas oscilações diárias provocadas por compra e venda comandado por sistemas, robôs, etc e nos fixarmos na evolução dos fundamentos. Temos um longo caminho até março/2020 e, em nossa opinião, existem mais elementos que podem contribuir com a mudança do patamar de preços para níveis mais altos do que o oposto.
O preço médio da gasolina no mundo, apurado no final de setembro, apontava R$ 4.55 por litro (no Brasil foi de R$ 4.37). A mais barata em Cuba (Venezuela não vale quase nada) a R$ 0.37 e a mais cara em Hong Kong a R$ 9.46 o litro. A ANP (Agência Nacional do Petróleo) publicou o volume de consumo no mês de agosto: 4,562 bilhões de litros gasolina equivalente, quase 2% superior ao mês de agosto do ano passado. No acumulado do ano, o consumo é de 39,46 bilhões de litros de combustível, dois bilhões de litros acima do mesmo período do ano passado.
O XXXIII Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos está confirmado para março de 2020, nos dias 24, 25 e 26 de março, no Hotel Wall Street, na Rua Itapeva, em São Paulo – Capital. Não deixa para a última hora. As chances são que as vagas se esgotem até o final do ano.
Bom final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa
0 comentário
Açúcar abre novamente em queda e já devolve ganhos acentuados do início da semana
Açúcar em NY tem 4ª de baixas de até 2%, sentindo pressão do dólar
Açúcar fecha com baixas em NY mas contrato março/25 mantém suporte dos 22 cents/lbp
Head da Alvean diz que mercado não está atento a problema nos estoques de açúcar e destaca baixo volume para exportação no início de 2025
Hedgepoint analisa movimentação nos preços do açúcar com influência do cenário macro
Louis Dreyfus Company investe na construção de um terminal de transbordo de açúcar em Pederneiras