"Açúcar cai e petróleo sobe. Apenas coincidência?" (por Arnaldo Luiz Correa)
O contrato de açúcar para vencimento julho/2019 negociado na bolsa de Nova York fechou a semana acima dos doze centavos, mais precisamente a 12.10 centavos de dólar por libra-peso, uma recuperação vigorosa de 40 pontos (9 dólares por tonelada) em relação à semana passada. Muito embora a recuperação do preço esteja em linha com o que temos observado com os pés fincados nos fundamentos, precisamos de uma consolidação do mercado antes de afirmar que a reversão chegou.
Os fundos, de acordo com o relatório dos comitentes publicado na sexta pelo CFTC, com base nos dados de terça-feira anterior, continuam bem vendidos tenho reduzido menos de 3,000 lotes. É muito importante que se observe que tanto o açúcar quanto o café subiram bastante na semana passada indo na direção oposta do mercado de petróleo. Ou seja, parece bastante razoável admitir que parte dos fundos estava comprada em petróleo e vendida em café e açúcar. O movimento oposto delas coincide com o que ocorreu no ano passado quando o açúcar bateu 14 centavos de dólar por libra-peso para depois embicar para 13, 12 e tocar no 11. Em resumo: a subida de preços é pra valer ou apenas reflexo de um desfazimento de posição?
Ainda é cedo para responder. Precisamos observar se os fundos mantêm serenamente suas posições vendidas no açúcar ou entrarão recomprando a posição como se não houvesse amanhã. O fato é que, como dissemos aqui, ficar vendido a descoberto a 12 centavos de dólar por libra-peso é coisa para quem tem nervos de aço e bolsos bem fundos. Como o dinheiro dos fundos é dinheiro do investidor, a taxa de administração cobrada por eles já está no bolso, se é que me entendem. Se tiverem que entrar recomprando com vigor, o farão.
Saiu o número de demanda de combustíveis de abril/2019: 4,468 bilhões de litros gasolina equivalente, que correspondem a um crescimento de 4.5% em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento do hidratado foi de 41.2%. Um número muito positivo.
A situação do milho nos Estados Unidos fez o preço do etanol subir de maneira acelerada no mercado de Chicago e pode provocar um efeito dominó no mercado de etanol mundial, com reflexos até mesmo no volume que o Brasil esperava importar de etanol com destino ao Norte/Nordeste. Se, em substituição, a demanda daquela região do Brasil for saciada com etanol do Centro-Sul, a disponibilidade de açúcar do Brasil será afetada.
A Archer Consulting reviu sua estimativa de produção para a safra 2019/2020. Aumentamos a produção de cana para 575 milhões de toneladas, um pequeno acréscimo em comparação ao número anterior de 572, mas reduzimos nossa previsão de ATR em 2.4% (de 136,96 para 133,75). Dessa forma, nossa segunda estimativa coloca a produção de açúcar em 24,183 milhões (anterior era 24,633 portanto uma redução de 1,8%) e a produção de etanol em 30,318 bilhões de litros (anterior era 30,883, um ligeiro decréscimo de 1,8%).
O primeiro quadrimestre dos anos de 2005, 2009, 2013 e 2019 tem algo em comum: foi um período de pequenas variações e baixíssima volatilidade no preço médio negociado em NY. Isso resultou, nos três primeiros, em uma estrondosa recuperação dos preços no último trimestre daqueles anos, quando estavam muito perto do custo de produção. O maior preço médio mensal negociado nesses três anos ocorreu no último trimestre. O padrão estará se repetindo?
Para os consumidores finais, fabricantes de bebidas e refrigerantes, indústria alimentícia cujo preço da matéria prima é calculado com base a cotação do açúcar em NY, estão diante de uma oportunidade extraordinária de fixar seus preços em reais. O racional é simples: se pegarmos a curva de preço do açúcar convertida em reais de 2014 para cá e corrigida pelo IGPM, vamos verificar que em apenas 4% das vezes o preço esteve abaixo de 1,080 reais por tonelada, fechamento de NY na sexta.
Para os produtores, considerando o quadro fundamentalista atual, tudo aponta para o fortalecimento dos preços do açúcar quanto mais evidentes forem os pontos que estamos observando no mercado físico: melhora do consumo de combustíveis ciclo Otto, estabilidade do preço do petróleo ao redor de 65 dólares por barril, menor rendimento do canavial.
Acreditamos que no último trimestre do ano, os preços do açúcar (base vencimento março/2020) dificilmente ficarão abaixo dos 13,75 centavos de dólar por libra-peso, o que incentiva as usinas a rolarem posições não fixadas nos meses futuros mais próximos do vencimento para outubro/2019 e quiçá março/2020. Como os mercados normalmente exageram na alta e na baixa, não ficaríamos surpresos em ver preços mais generosos num eventual pico do mercado. 15 centavos? 16 talvez? Façam suas apostas.
Em uma semana o café subiu 12.7%, o açúcar 3.6% enquanto o petróleo caiu 10%. Coincidência? Em tempo: Petrobrás anunciou na sexta-feira uma redução no preço da gasolina em 7.2%.
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Bom final de semana a todos.
Arnaldo Luiz Corrêa
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