Mercado de açúcar: NÃO É PARA PRINCIPIANTES (Archer Consulting)
O mercado futuro de açúcar em NY continua mostrando enorme fragilidade em se recuperar e muita dificuldade em quebrar o intervalo aborrecido de preços que tem negociado há semanas, entre 12 a 13 centavos de dólar por libra-peso, levando-nos a pensar que a commodity está condenada a ficar assim até o fim dos tempos.
O cenário macro externo tampouco tem ajudado o mercado de açúcar a se levantar dos recentes tombos tomados. Notícias alvíssaras ligadas aos fundamentos do açúcar - que vez por outra atingem o mercado - são imediatamente ofuscadas pelo turbilhão de problemas emanados do pernicioso cenário interno e externo. Em especial, na semana que passou.
De nada tem adiantado a melhora sensível dos fundamentos do açúcar. Por exemplo, existe concordância por grande parte dos profissionais do mercado que o número de moagem do Centro-Sul para a safra que se inicia será, na melhor das hipóteses, igual ao volume moído no ano que passou. O preço do petróleo, depois de visitar os 43 dólares por barril no final de dezembro passado, assustando as usinas que já faziam contas para mudar o mix de produção privilegiando o açúcar, negocia agora perto de confortáveis 60 dólares por barril, parecendo afastar a mudança vigorosa de mix que se antecipava. Algumas tradings já antecipam que o ano que vem efetivamente teremos déficit de açúcar no mundo. Enfim, os ingredientes estão todos prontos na panela. Mas nada disso parece fazer diferença.
O cenário macro mundial teve um desempenho sofrível nesta semana seguindo os números ruins da economia da Alemanha, desencadeando a saída por parte dos investidores dos ativos de risco, derrubando as ações nos EUA, Dow caindo 460 pontos, NASDAQ caindo 2.5%, S&P quase 2%.
Na sexta-feira, um dos grupos mais importantes do setor sucroalcooleiro pediu recuperação judicial. Segundo fontes do mercado, a dívida ultrapassa R$ 4.16 bilhões sendo o maior credor um banco europeu com forte ligação no agronegócio brasileiro. Situações lamentáveis como essa enxugam os recursos para investimento disponíveis por parte das instituições financeiras, aumentam o spread bancário para o financiamento do setor e colocam em dúvida para os potenciais investidores, se o setor é ou não rentável.
Não conheço a situação da empresa em questão e seria leviano qualquer palpite sobre o assunto, mas na última semana, durante o nosso XXXI Curso Intensivo de Futuros Opções e Derivativos Agrícolas, o grupo de mais de 30 alunos que participou, concorda que o Brasil está engatinhando na gestão de risco. Fico entusiasmado ao ver uma nova geração de executivos extremamente preocupada com a maneira como as (suas) empresas enfrentam os riscos do dia-a-dia, às vezes com soluções bem ortodoxas, às vezes com medidas bem fora da caixa. Precisamos disseminar o conhecimento sempre e sempre.
No Brasil, mais um ex-presidente foi para a cadeia e o real se desvalorizou em relação ao dólar, pressionando o mercado de café (um dos mais afetados) e colocando em xeque a aprovações de reformas que o governo Bolsonaro promete implementar. Como diria o saudoso Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, mais conhecido por Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes.
Um excelente final de semana.
Arnaldo Luiz Corrêa
0 comentário
Açúcar abre novamente em queda e já devolve ganhos acentuados do início da semana
Açúcar em NY tem 4ª de baixas de até 2%, sentindo pressão do dólar
Açúcar fecha com baixas em NY mas contrato março/25 mantém suporte dos 22 cents/lbp
Head da Alvean diz que mercado não está atento a problema nos estoques de açúcar e destaca baixo volume para exportação no início de 2025
Hedgepoint analisa movimentação nos preços do açúcar com influência do cenário macro
Louis Dreyfus Company investe na construção de um terminal de transbordo de açúcar em Pederneiras