Soja: Riscos para cadeia produtiva são mais agressivos com percentual alto de vendas antecipadas

Publicado em 03/06/2020 12:56 e atualizado em 04/06/2020 11:02
Incertezas econômicas, volatilidade cambial e restrição financeira podem limitar crédito e expor revendas a momentos difíceis na próxima temporada.
Eduardo Lima Porto - Diretor da LucrodoAgro

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Entrevista com Eduardo Lima Porto - Diretor da LucrodoAgro sobre as Vendas Antecipadas de Soja

 

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O elevado percentual de vendas antecipadas de soja no mercado brasileiro na safra 2019/20 - com mais de 80% já comprometido antes do final de maio e com um recorde de embarques de quase 50 milhões de toneladas - e mais de 30% da safra 2020/21 também já vendida, apesar dos bons preços e resultados, cria uma exposição maior da cadeia produtiva e pode gerar preocupações em alguns de seus elos. 

A análise é do especialista em custos de produção e diretor da LucrodoAgro, Eduardo Lima Porto, em entrevista ao Notícias Agrícolas. 

"Toda vez que se verifica uma antecipação massiva desta ordem estamos, literalmente, avançando a oferta sobre a demanda e isso produz uma série de efeitos colaterais de ordem até macroeconômica ligada ao setor", explica. Assim, Porto destaca, neste ambiente, o aumento da exposição do fluxo de caixa, do limite de crédito e de dos preços mais adiante, entre outros fatores, principalmente em um momento onde há tanta volatilidade e incerteza. 

Os efeitos podem ser sentidos, consequentemente, em outros países, com essa pressão que as vendas brasileiras exerce sobre os preços - dado o protagonismo do país no comércio mundial de soja - e isso já reflete em uma reação de alguns de seus concorrentes, como Estados Unidos e Argentina. 

As vendas antecipadas de soja têm, no outro prato da balança, compras de insumos também adiantadas neste ano, principalmente frente às vantagens relacionadas ao câmbio quando se observa as operações feitas em reais. 

"E um dos riscos que eu observei nos últimos dias se relaciona com o fato de quando o produtor, principalmente do Centro-Oeste vá entregando sua colheita para pagar a conta contratada do ano anterior, é normal que as revendas se posicionem já no fechamento de pacotes de insumos para o ano seguinte. E em uma combinação muito agressiva, como a que estamos vendo com uma pressão sobre o câmbio e com uma incerteza muito grande sobre os limites de crédito que as revendas podem ter em relação a seus provedores, hoje em um cenário de restrição financeira quase absoluta, é muito difícil que essas empresas consigam confirmar o mesmo limite de crédito de anos anteriores", diz o diretor da LucrodoAgro. 

A variação cambial pode trazer cenários muito distintos dos observados nos últimos meses e limitarem as oportunidades para os sojicultores brasileiros. Entenda:

"Imaginemos que a Revenda tenha fechado um pacote de insumos em Reais com o Produtor no dia 10/03/2020, quando a paridade cambial estava USD = R$ 4,66.

Boa parte dos insumos são entregues alguns meses após a celebração dos contratos se encontram referenciados em Dólares e não em Reais.

Tomemos como exemplo a cotação máxima do dólar ocorrida no dia 07/05/2020 como um parâmetro ilustrativo. Se no período de entrega de insumos o dólar estiver nesse patamar, teremos uma diferença de 25,32% estabelecida sobre a base fixada no dia em que foi fechado  o pacote de insumos. Sob a ótica do Produtor Rural, realmente poderá parecer um negócio maravilhoso.

Entretanto, é possível que a maioria esmagadora das Revendas não consigam atender o pedido, justamente por não terem a cultura do Hedge Cambial.

Além das margens das Revendas serem muito estreitas, temos como agravante a inserção de grandes empresas do setor como “Credoras” nos processos de Recuperação Judicial que se encontram em curso no MT e em outros Estados, o que reduz drasticamente os limites de crédito dessas companhias junto a fornecedores e bancos.

A deterioração da liquidez e o aumento da percepção dos riscos está muito elevada.

Em março, sugeri que os Produtores Rurais tivessem muita prudência nas negociações dos pacotes. Caso verificassem a possibilidade de puxar algo de estoque de insumos disponível seria muito conveniente, justamente para que se cobrissem dos riscos de performance dos seus fornecedores, o que é um fato absolutamente concreto nesse momento. Somado a isso, chamamos muito a atenção para o fluxo dos embarques de matérias primas de defensivos ter sido muito prejudicado na China por conta do COVID-19. Até o final de Abril, permaneciam várias incertezas logísticas com atrasos importantes.

É muito importante construir um panorama mais amplo para entender os riscos que podem vir afetar a atividade e fazer um juízo de probabilidade melhor construído, o qual não está isento de falhas, mas é melhor do que ficar exposto ao sabor do vento. A tomada de decisões estratégicas como a de formação dos custos da lavoura e a comercialização da safra precisam estar calcadas em fundamentos mais sólidos", detalha Eduardo Lima Porto.

 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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