Liones Severo: Chicago deve engatar novas altas para soja com negócios menos frequentes no BR
A recente desvalorização do real frente ao dólar promoveu uma baixa considerável no ritmo de novos negócios com a soja no Brasil tanto da já escassa temporada atual, quanto da safra 2020/21. E na análise de Liones Severo, diretor do SIMConsult, as condições deverão dar espaço para uma retomada das cotações da oleaginosa na Bolsa de Chicago.
"A soja brasileira (2019/20) já foi quase toda vendida, então qualquer avanço que houver do dólar esbarra no fato de não termos mais produto para vender. Da safra velha já vendemos 100 milhões de toneladas, da safra nova mais de 40 milhões, isso tudo significa que vendemos 140 milhões de toneladas em poucos meses e isso também significa que vendemos todo esse volume em contratos futuros na Bolsa de Chicago simultaneamente, por isso Chicago caiu", diz, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quarta-feira (27).
Dessa forma, para Severo, "se Chicago fosse decente mesmo iria para US$ 10,00, US$ 10,50, onde está concentra o grande custo da produção mundial". Mais do que isso, Donald Trump perdendo as eleições e sendo substituído por um democrata, os subsídios para o produtor americano poderiam ser bem reduzidos, podendo ser mais um fator altista para as cotações em Chicago.
O elevado volume das vendas feitas em um período mais curto de tempo exerce pressão, ainda de acordo com o analista de mercado, em todos os aspectos dos preços, incluindo não só os futuros em Chicago, mas também os preços no mercado físico e os prêmios. "O Brasil hoje domina os preços em Chicago. Desde que começamos a vender soja em reais, Chicago nunca mais teve preço", diz.
CHINA X EUA
As relações entre China e Estados Unidos passam por uma nova rodada de escalada das tensões, porém, o mercado parece já saber lidar com este novo normal entre as duas maiores economias do mundo. Todavia, Severo explica ainda que os chineses estão fazendo "vista grossa" para as últimas declarações de Trump por precisar não só de soja, mas também de outros produtos americanos.
"Por incrível que pareça, o USDA não está reportando as compras que os chineses estão fazendo, muito raro. A China compra sorgo, algodão, carne suína, milho, e ninguém fala nada", afirma o diretor do SIMConsult.
E mesmo que Trump seja vencido nas eleições pelo democrata Joe Biden, seu opositor neste momento, a volta das relações comerciais entre China e EUA ainda levará um tempo considerável. "Acho que haverá um rompimento depois que a China fizer um bom estoque por lá e o Brasil terá de sustentar a China nos próximos anos. A demanda que solicita a oferta", conclui.
WEATHER MARKET
Ainda na análise de Severo, o chamado weather market, ou mercado climático dos EUA já não deverá continuar com grande relevância no andamento dos preços na CBOT.
"Quando antecipamos todas as vendas, cobrimos os mercados consumidores e eles estão bem abastecidos por um bom tempo, bastante seguros", explica. "Por que o mercado de consumo vai se preocupar agora com a safra americana que não é mais a principal e já abastecido pelos brasileiros? O weather market é medo de encolhimento do suprimento e eles não têm mais medo", completa Severo.
E para o Brasil, a composição do nosso weather market chega via prêmios mais valorizados.
PRÊMIOS
A tendência, portanto, é de que os prêmios que já estão subindo no país, continuem a se valorizar, principalmente diante da escassez de produto já esperado para acontecer no segundo semestre.
"Para agosto o prêmio já vale 115 (cents de dólar sobre Chicago) e no porto o preço passa de US$ 20,00, chega a US$ 20,50, é o melhor preço do ano em dólares e vai continuar subindo. Brasil para de vender soja, Chicago volta a subir", afirma o especialista.
O Brasil hoje, nas palavras de Severo, é o 'dono do mercado' e hoje já consegue, tamanho seu domínio, fazer os preços, como está fazendo. "Mas precisa materializar o lado alto do mercado", diz.
MATRIZES DE PRODUÇÃO E CONSUMO
Liones Severo reforça ainda a importância da soja brasileira no quadro global de oleaginosas e proteínas. "Somos o maior mercado de proteínas do mundo, sustentamos todos os rebanhos do mundo através da proteína da soja. Então, essa matriz de produção e essa matriz de consumo não tem como ser trocada".
Os gráficos abaixo ilustram o protagonismo da soja no consumo de farelo, óleo e da utilização do grão em relação a outros produtos.
Gráfico mostra a soja como a oleaginosa mais produzida e consumida no mundo
Gráfico mostra a grande diferença do consumo global de farelo de soja - barra laranja - em detrimento de outros farelos
Consumo mundial de óleo de soja - retângulo azul escuro está pareado com o mais consumido no mundo, que é o óleo de palma - retângulo roxo