Amazônia registra em outubro, o menor número de focos de queimadas dos últimos 20 anos
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Entrevista com Ciro Siqueira - Engenheiro Agrônomo sobre a Amazônia registra o menor índice de queimadas
Em meio a discussões sobre queimadas e desmatamento na Amazônia, imagens de satélite divulgadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) detectaram 7850 focos de incêndio em toda a floresta, o menor índice registrado pelo órgão para o mês desde que o controle começou a ser feito, em 1998. Segundo o engenheiro agrônomo Ciro Siqueira, a queda para o período é natural, já que outubro marca o início do período chuvoso para a região, mas ele também atribui as ações tomadas pelo Governo Federal para contenção das queimadas como fator importante na redução de danos. segundo dados do Inpe, no mês de outubro do ano passado foram mais de 10 mil focos, e segundo os registros históricos do órgão, o pico de incêndios foi em outubro de 2006. Em relação a dados de desmatamento, o especialista preferiu não comentar, e disse que é mais prudente aguardar os dados que devem ser liberados pelo Prodes em breve, que disponibiliza informações a respeito do desmatamento na Amazônia.
"A gente teve esse ano um problema que tomou proporções internacionais, inclusive com as palavras de presidentes de outros países sobre o assunto, com confusão da elevação que já se demonstrava naquela época das taxas de desmatamento que coincidiram também com números recordes de queimada no período seco. Em função daquela repercussão toda, deu-se o problema com o excesso de queimada. Essa redução agora é um pouco reação do que o governo fez naquele momento de enviar para a Amazônia aquela garantia da lei e da ordem, autorizando o Exército a trabalhar dentro do território nacional, dando acompanhamento às fiscalizações do Ibama na região, e também do início do período chuvoso", explica Siqueira.
Ainda sobre as queimadas, Siqueira afirma que no passado, não só na Amazônia, mas no Brasil inteiro, o fogo já foi parte do sistema de produção, principalmente pecuária, usando as chamas para limpar o pasto. "Hoje em dia isso não se usa mais por uma série de motivos, por exemplo, as espécies de capim que se usam hoje são diferentes e muito menos tolerantes ao fogo, boa parte dos produtores trabalham com reforma de pastagens, adubação, rotacionagem. Então o fogo para o produtor que está regularizado ou buscando se regularizar, é uma desgraça. O produtor gasta uma parte do custo anual de uma fazenda de pecuária ou de soja para proteger a propriedade das chamas. É injusto confundir queimada com a ação do produtor rural, é um contrasenso, porque ele trabalha para não queimar", diz.
Para ele, há todo tipo de razão para as queimadas, desde o pequeno produtor rural, que usa a técnica para, porteriormente, utilizar as cinzas como adubo na roça de subsistência, até fatores criminosos. "Quando a Marina Silva foi ministra do Meio Ambiente, ela tentou proibir as queimadas no estado do Acre, mas depois ela teve que voltar atrás porque alguns produtores rurais de pequeno porte faziam muito do que se fazia no passado da chamada agricultura do "derruba e queima". Com as cinzas, esse pequeno produtor usava como adubo para a roça de arroz, de feijão, para subsistir". Ele cita que esta técnica ainda é muito presente em pequenas comunidades e assentamentos na Amazônia.
"As pessoas dão um destaque gigantesco quando acontece algo ruim na Amazônia, mas quando acontece algo bom, ninguém fala. Fica a lição de que se o produtor não ajudar o Bolsonaro a ajudar a Amazônia, o Bolsonaro vai ter que tratar a amazônia do mesmo jeito que a Marina Silva tratava. As pessoas aqui na Amazônia precisam aprender a tratar os assuntos menos com o músculo e mais com o cérebro", finaliza Siqueira.