Abiove discute com UE pagamento por preservação em fazendas no Cerrado para evitar novos desmatamentos

Publicado em 14/12/2018 15:37
Nem desmatamento zero, nem moratória. Alternativa em estudo discute remuneração de US$150,00/ha/ano ao produtor do cerrado que decidir manter vegetação em pé, em áreas autorizadas para desmatamento
Bernardo Pires - Gerente de Sustentabilidade Abiove

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Entrevista com Bernardo Pires - Gerente de Sustentabilidade Abiove

 

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Abiove defende recompensa a sojicultores para preservação do Cerrado

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) está propondo a criação de um fundo para recompensar produtores de soja que preservarem a vegetação nativa em suas fazendas na região do Cerrado.

A iniciativa é a resposta do Brasil aos compradores europeus da oleaginosa, cada vez mais sensíveis à questão do desmatamento, disse Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Abiove, em uma coletiva de imprensa na quinta-feira.

O Cerrado ocupa quase um quarto do território brasileiro, com cerca de metade de sua vegetação nativa já destruída, uma vez que a região foi transformada no coração agrícola do Brasil. Proteger a vegetação nativa, que absorve enormes quantidades de carbono, é visto como importante na redução do aquecimento global.

Os agricultores do Cerrado estão sujeitos a limites de desmatamento muito menos rigorosos do que aqueles na Floresta Amazônica, sendo obrigados a preservar entre 20 e 35 por cento da cobertura natural, dependendo da área.

A proposta pagaria aos agricultores elegíveis do Cerrado uma média de 150 dólares por hectare por ano pela preservação de áreas que poderiam ser legalmente desmatadas, disse Pires. O cálculo foi feito com base no valor do arrendamento da terra.

"O plano daria aos agricultores um incentivo financeiro para a preservação de áreas nativas na fazenda", disse Pires. Desta forma, o produtor poderia escolher entre "legalmente expandir a área ou ser compensado pelo fundo".

A proposta da Abiove está sendo discutida pelo chamado Grupo de Trabalho do Cerrado, que reúne produtores de soja, tradings e grandes varejistas, disse Leandro Baumgarten, cientista-chefe da The Nature Conservancy, uma das ONGs envolvidas.

O fundo seria custeado pela cadeia de fornecimento de soja, incluindo grandes marcas estrangeiras e empresas de trading atuando no Brasil, disse Baumgarten.

As companhias estão entre as mais de 100 que assinaram uma declaração de apoio ao Manifesto do Cerrado, um documento pedindo ação imediata para deter o desmatamento na região, de acordo com Baumgarten e Pires. O grupo inclui gigantes como Unilever, Marks & Spencer e Tesco.

"O mecanismo de compensação é algo que estamos acompanhando para ver se é viável, (se) vai ser muito complicado e caro de implementar. Mas se isso garantir o compromisso (de não desmatar), tudo bem", disse Baumgarten.

Um estudo da Universidade de Wisconsin descobriu que quase 1 milhão de hectares em fazendas de soja ainda poderiam ser legalmente desmatadas no Cerrado. Mas apenas 13 por cento dessas propriedades têm entre 10 e 100 hectares que podem ser legalmente convertidos em áreas voltadas à commodity.

(Por Ana Mano e Jake Spring)

FOLHA: Sustentabilidade é uma necessidade de mercado, segundo a Abiove

Entidade quer mostrar ao novo governo a importância do tema na produção de soja (POR MAURO ZAFALON)

Há 12 anos, indústrias, tradings e produtores estão em busca de um reconhecimento dos importadores de soja, principalmente dos europeus, de que o produto brasileiro é sustentável.
 
Foram instituídos programas, inclusive com a participação de ONGs, como a moratória da soja, para mostrar a sustentabilidade da produção no país.
 
As próprias entidades envolvidas nesse processo querem separar o que é legal do que é ilegal na produção.
 
O cenário hoje já é bem diferente daquele de uma década atrás. "O consumidor lá fora, porém, quer informação e transparência", diz André Nassar, presidente executivo da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).

A mudança de governo não preocupa o setor. "Vamos mostrar ao governo que nossa sustentabilidade faz parte de uma necessidade de mercado. Nosso consumidor quer conhecer a cadeia de produção", diz Nassar.

Segundo ele, "o europeu vai além e quer desmatamento zero. Já o chinês quer rastreabilidade do produto".
 
Nassar diz ter certeza de que o novo governo vai entender essa realidade. É necessário um trabalho conjunto entre consumidores, governo e a cadeia de produção.
 
Nassar destaca que o comprador já reconhece o esforço do produtor que trabalha além das exigências da lei no Brasil. Esse consumidor reconhece que o produtor que age assim deve ser premiado.
 
O presidente da Abiove destaca que no cerrado há pelo menos 1,5 milhão de hectares, em fazendas de soja, que legalmente poderiam ser incorporados na produção.
 
"É um excedente da área legal", diz ele. A cadeia está negociando com os consumidores um fundo de compensação pela manutenção dessas áreas sem plantio.
 
Esse fundo, que seria bancado pelo consumidor europeu, pagaria US$ 150, em média, por hectare por ano para que a área fosse mantida como reserva.
 
Esse valor anual por hectare, que seria pago ao produtor que preservasse a área, pode atingir um aporte de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões em cinco anos.
 
Produção e exportação de soja foram recordes neste ano, o que gerou divisas externas de US$ 40 bilhões no complexo soja (grãos, farelo e óleo), valor nunca atingido antes.
 
Apesar disso, foi um período de desafios, principalmente no setor de logística, devido à greve dos caminhoneiros e à tabela de frete.
 
As preocupações continuam em 2019, na avaliação de Nassar. Entre os problemas estão a necessidade do avanço do asfaltamento da BR-163 e do fim do tabelamento do frete.
 
O presidente da Abiove destaca também a necessidade de investimentos em ferrovias. Na avaliação do setor, o governo precisa se posicionar sobre as prorrogações antecipadas das ferrovias e os investimentos relacionados às concessões.
 
O setor acredita muito também na produção de biodiesel, agora com um novo cronograma de mistura.
 
Em 2019, serão processados 43 milhões de toneladas de soja no país, 18 milhões irão para a produção de biodiesel. Em 2023, com a mistura em 15%, a moagem para o setor será de 33 milhões de toneladas.  
 
Produção de carne de frango recua para 12,8 milhões de toneladas neste ano

A produção de carne de frango deverá recuar para 12,8 milhões de toneladas neste ano, 1,7% menos do que em 2017. O consumo médio per capita, que cai para 41,8 quilos, terá retração de 0,63%.
 
Os dados são da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), que prevê, ainda, queda de 4,9% nas exportações. O país deverá colocar 4,1 milhões de toneladas no mercado externo neste ano.
 
O setor de carne suína também apresentará quedas, segundo a ABPA. A produção cai 3,2%, para 3,6 milhões de toneladas, e as exportações recuam 8%, para 640 mil toneladas em 2018.
 
O consumo per capita será 2,6% menor, se retraindo para 14,35 quilos neste ano.

Produtores de soja usam mais recursos próprios na produção, diz Imea 
 
Os produtores de soja de Mato Grosso vão usar mais recursos próprios na produção do que no ano passado.
 
Segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), pelo menos 19% do dinheiro que será utilizado nessa lavoura sairá do bolso do produtor.

As multinacionais, que participaram com 35% dos recursos na safra passada, entram com 30% nesta.
 
As revendas e o sistema financeiro também elevam a participação no financiamento das lavouras no Estado, segundo o instituto.
 
O grande destaque no estado será novamente o algodão, cuja área sobe para 938 mil hectares, 18% mais do que em 2017/18.
 
As áreas de soja e de milho sobem 1,6% 1%, respectivamente.

Multas  

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) recorreu, nesta quinta-feira (13), da decisão do ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal), de revogar a suspensão da aplicação de multas pelo eventual descumprimento da tabela mínima de preços do frete.
 
Para a CNA, o tabelamento do frete é inconstitucional e fere o princípio de livre concorrência. Além disso, traz insegurança jurídica ao agronegócio.

ANÁLISE  DA REUTERS -

Negociações sobre clima passam o bastão da corrida contra aquecimento global

Por Agnieszka Barteczko e Nina Chestney

KATOWICE (Reuters) - As frágeis conversas sobre mudanças climáticas na Polônia mostraram os limites da ação internacional para limitar o aquecimento global em um mundo polarizado, colocando o ônus de deter o aumento da temperatura sobre governos, cidades e comunidades.

Quase 200 países nas negociações conduzidas pelas Nações unidas em Katowice, na Polônia, salvaram o marcante Acordo de Paris de 2015 da desintegração no sábado, ao chegarem a um acordo sobre um pacote de diretrizes sobre sua implementação.

Mas foram adiadas regras sobre os créditos de carbono, que poderiam impulsionar negócios a agir contra a mudança climática, e não houve um compromisso firme de fortalecer metas de corte de emissões dos países para 2020, quando o acordo entra em vigor.

Com isso, as partes envolvidas ficaram distantes da meta estabelecida em Paris de conter o aquecimento global a menos de 2 graus Celsius, e mais ainda do teto de 1,5 graus visto como necessário para evitar um clima mais extremo, o aumento no nível dos oceanos e a perda de espécies vegetais e animais.

O mundo caminha para uma alta de 3 a 5 graus Celsius nas temperaturas neste século, disse a Organização Meteorológica Mundial da ONU.

O Acordo de Paris é baseado em compromissos individuais e as expectativas de que as negociações na Polônia pudessem produzir mais do que apenas as regras sobre como eles serão medidos sempre foram baixas. A unidade construída em Paris foi abalada por uma onda de governos que colocam agendas nacionais à frente da ação coletiva.

Poucos líderes de seus países estiveram presentes em Katowice e o secretário-geral da ONU teve que voltar ao encontro para pedir que as conversas avançassem.

"Está faltando vontade política", disse o diretor da União dos Cientistas Preocupados, Alden Meyer, um grupo sem fins lucrativos de cientistas, após a conferência ter seu final atrasado em mais de 24 horas por disputas de última hora sobre partes do texto.

"Mas ele (o pacto) oferece os dispositivos para que governos, cidades, empresários, sociedade civil e etc. façam o trabalho para chegar (às metas do Acordo de Paris)", adicionou ele.

O presidente da conferência, Michal Kurtyka, disse que o trabalho foi bem-feito. "Missão cumprida", escreveu ele no Twitter. "Nossos filhos olharão para trás para nosso legado e reconhecerão que tomamos as decisões corretas em momentos importantes como aquele pelo qual passamos hoje."

ACORDO SUPERFICIAL

Para países que já sofrem com a mudança climática, no entanto, o acordo não deixou claro como será garantido o financiamento necessário para ações contra o aquecimento, o que foi apenas um pouco melhor do que nada.

O ministro do Meio Ambiente de Granada, no Caribe, Simon Stiell, disse à Reuters que o acordo "praticamente só toca a superfície do que seria realmente necessário."

Investidores disseram que seriam necessárias mais ações em nível governamental para persuadi-los a fazer os investimentos necessários.

"Aqueles países... que avançarem com políticas climáticas ambiciosas e de longo prazo serão os que colherão os investimentos e as vantagens econômicas de fazê-lo", disse Stephanie Pfeifer, diretora-presidente do Grupo de Investidores Institucionais sobre Mudança Climática, observando que a transição para uma economia de baixo carbono já está em andamento.

Os Estados Unidos, determinados a se retirarem do processo da ONU a pedido do presidente Donald Trump, organizaram um evento divulgando os benefícios da queima mais eficiente de combustíveis fósseis, incluindo o carvão, enquanto Trump definiu o acordo de Paris como "ridículo".

Um relatório científico solicitado pelos signatários de Paris disse que a parcela de energia gerada por carvão teria que ser reduzida para menos de 2 por até 2050, juntamente com grandes cortes em outros combustíveis fósseis, para impedir que as temperaturas subam mais de 1,5ºC e causem inundações devastadoras, tempestades, ondas de calor e seca.

Os Estados Unidos, assim como os produtores de petróleo Arábia Saudita, Rússia e Kuweit, recusaram-se a qualificar o relatório como "bem-vindo", um termo sugerido por países que queriam maior foco sobre suas conclusões.

A declaração final meramente classificou a conclusão do relatório como "oportuna" e convidou as partes a fazer uso das informações nele contidas.

Mas a discussão sobre o relatório ficou longe de ser a única: China, Índia, Rússia, Austrália, Japão, Brasil e União Européia tiveram várias divergências, embora a China tenha recebido elogios por ajudar a superar a preocupação, especialmente dos Estados Unidos, de que Pequim que evitaria quaisquer regras.

"Eu acho que eles já percorreram um longo caminho ao reconhecer que precisam transmitir confiança", disse Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International, sobre os negociadores chineses.

Embora tenha descrito Washington como "fora de sintonia" nas conversas, Morgan observou que as regras acertadas na Polônia valem para todos os países, incluindo os Estados Unidos, até a planejada retirada norte-americana do acordo em 2020, o que qualificou como uma conquista em si.

"Mas isso não substitui a necessidade de aumentar a ambição", disse ela.

A Polônia, anfitriã da terceira conferência climática da ONU, foi criticada por seu compromisso com o carvão, o mais poluente dos combustíveis fósseis.

A declaração final da reunião apenas ressaltou um pedido de Varsóvia para uma "transição justa", permitindo que as comunidades dependentes do carvão tenham mais tempo para se ajustar.

Fonte: NA/Reuters/Folha de S. Paulo

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