De fenômenos naturais a governos autoritários: as condições que causaram o aumento expressivo nos preços dos fertilizantes
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Conexão Campo Cidade 18/10/2021
O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.
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Nesta semana, o tema em pauta foi o expressivo aumento do preço de fertilizantes agrícolas, registrados neste ano, cujo resultado tem sido a elevação dos custos de produção para os produtores e, consequentemente, a alta de preço dos produtos que chega ao consumidor final. Para falar sobre esse assunto, o Conexão Campo Cidade recebeu o vice-presidente comercial da Mosaic Fertilizantes, Eduardo Monteiro.
Condições que causaram o aumento expressivo nos preços dos fertilizantes
Como explicou Monteiro, a dependência externa brasileira de fertilizantes representa 85% do total que é utilizado no país. Por esse motivo, gargalos logísticos ao redor do mundo causam impacto nos insumos utilizados pelos produtores nacionais.
O principal conflito que tem refletido de maneira mais expressiva é a questão política na Bielorrússia, onde o governo autoritário tem feito prisões arbitrárias, e, como consequência, vem sofrendo sanções comerciais da União Europeia e dos Estados Unidos. Com isso, a oferta de cloreto tem ficado muito reduzida, o que resulta na alta do preço diante da crescente demanda.
Além disso, um furacão atingiu a Flórida no último mês de agosto, atrapalhando a produção de fertilizantes e danificando portos nos Estados Unidos, o que limitou o transporte, fazendo com que atualmente os custos de contêineres estejam muito altos.
Outro detalhe apontado por Monteiro foi a submersão de duas minas de exploração de potássio no Canadá. Por serem subterrâneas, um vazamento de água fez com que as minas fossem completamente evacuadas, o que tirou um milhão de toneladas de cloreto de potássio do mercado.
Impacto para a inflação no mercado interno
Como consequência do aumento dos fertilizantes e custo de produção, o preço dos produtos que chegam ao consumidor final passa por grande inflação. Alexandre de Barros recordou uma palestre recente em uma escola urbana, onde foi questionado por um aluno sobre os motivos que têm levado o aumento de preço da batata, mesmo que seja produzido no Brasil, não tendo a mesma demanda externa da soja, por exemplo.
Ele explicou que o aumento é reflexo do alto preço de insumos, que têm forte demanda de outras culturas, como é caso da soja e milho. “O que puxa preço de adubo são os principais grãos, porque esse sim é o grande volume de consumo. A hora que o trigo, o arroz, o milho sobem de preço, são os grandes puxadores da demanda de adubo. Agora a hora em que o adubo sobe de preço, impulsiona os custos de produção de tudo”, detalhou Barros, destacando o aumento de preço em cadeia.
Planejamento para tomar as melhores decisões de compra e venda
Mesmo com a alta de preços, o vice-presidente comercial da Mosaic ressalta que alguns produtores não sofreram tanto com isso, pois fizeram a compra antecipada, quando os valores ainda estavam baixos. Como exemplo, ele citou dados do Mato Grosso, onde o aumento dos preços foi 20%, mesmo que grande parte dos fertilizantes tenham subido mais de 100%. Isso ocorreu porque produtores compraram insumos de forma antecipada, antes de dezembro de 2020.
Marcelo Prado também destacou a necessidade de uma boa gestão, com plenejamento, evitando pagar mais caro por insumos e conseguir vender a safra por um valor rentável. “O agricultor precisa fazer conta para planejar a aquisição dos insumos e o plano de comercialização. Fazer isso de maneira integrada para preservar a rentabilidade”. Por mais que o cenário esteja adverso, quem conseguiu fazer a compra de insumos e a venda da safra nos momentos corretos, obteve bons faturamentos.
Eduardo Monteiro também falou sobre a gestão, primeiramente frisando que é necessário para o produtor buscar uma segurança da matriz de abastecimento, sabendo de quem está comprando os fertilizantes, e de qual país o fornecedor adquire seus produtos.
Para a safrinha ele afirmou que realmente não há mais muitas escolhas para o produtor e não terá como fugir dos preços altos de insumos. Contudo, a partir da safra seguinte em 2022, Monteiro recomenda uma gestão planejada, acompanhamento dos fatores que causam variação de preços e fechamentos de vendas parciais, pois muitos tentam ganhar a mais, porém acabam não sendo bem sucedidos.
Crescente procura por bio insumos
Mais um assunto de destaque foi puxado por José Luiz Tejon, o qual chamou a atenção para o crescimento na procura por bio insumos, o que foi confirmado por Monteiro, citando a preocupação que algumas empresas hoje já têm pelo quanto de carbono é emitido com o uso de fertilizantes.
“Tende a crescer, porque você tem hoje todo um trabalho atrelado à sustentabilidade, temos questão das culturas focadas na baixa emissão de carbono”, confirmou Monteiro, ressaltando que esse mercado de bio insumos tem ainda muito potencial de crescimento e irá colaborar para o desenvolvimento da agricultura sustentável.