Explosão da crise ruma para “calote branco” e inflação a 20%, apontam analistas economicos
Atrasar o ajuste nas contas públicas brasileiras tem tornado mais próximo e provável um cenário de ruptura que resultará em inflação superior a 20% e impressão de moeda para pagar a dívida pública. Economistas consultados por O Financista acreditam que, caso a equipe econômica não arrume a casa, essa realidade virá a partir de 2018.
A deterioração das contas públicas irá, de acordo com os economistas, levar a uma mudança no perfil da dívida. Ou seja, os investidores ficarão relutantes em aceitar papéis prefixados, de longo prazo, e passarão a exigir juros mais elevados e vencimentos mais curtos. “O governo já está encurtando a dívida”, avalia Daniel Weeks, economista da Garde Asset Management.
“Estamos em uma situação onde a dívida pública é grande demais para permitir juros de primeiro mundo”, analisa Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. O mercado não fala em um calote propriamente dito e isso tem uma razão bastante convincente: a maior parte da dívida brasileira, 95%, está em reais.
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Acarajé e o pão velho da crise (por VINICIUS TORRES FREIRE, da FOLHA)
A Operação Acarajé repôs Dilma na fritura quando o risco de deposição da presidente parecia diminuir, se diz por aí. Já se ouviu essa conversa umas três ou quatro vezes desde 2015. O óleo voltou a queimar.
Não parece razoável, portanto, pensar a crise como um ioiô em que as chances de sobrevida da presidente subam a cada aparente resfriamento dos escândalos ou a cada vez que Dilma "vença" uma disputa no Congresso como cabo eleitoral de alguma facção rastaquera.
Não importa se a gordura seja dendê, banha ou petróleo. O governo de Dilma Rousseff é torrado por incêndios sem controle.
LAVA JATO. A operação não terá fim, afora um golpe ou acordão políticos ou erro, dada a extensão da pirataria contra o Estado. Deve queimar até que tudo se consuma:
1) Puxa-se uma pena, vem uma galinha. A Lava Jato se ramifica sem limite;
2) A Lava Jato tem ramos antigos que ainda vão dar brotos. Estão para começar as delações da Andrade Gutierrez. Há brasas dormidas no setor elétrico. Há a Zelotes (compra de decisões tributárias e de medidas provisórias). Etc.;
3) Há o processo contra quatro dezenas de parlamentares, que podem dar em muitas flores do pântano;
4) O processo pode ser dosado politicamente. Está morno? Puxe-se aquela pena. Vem um peru gordo e sujo.
OPOSIÇÃO, RUAS, PMDB. Dado o vexame do ano passado, nas férias o PSDB levou um pito "das bases" (grandes financiadores) por ter ajudado a explodir o resto das contas públicas. Voltou dizendo, de modo confuso, que não vai apelar ao "quanto pior, melhor". Porém:
1) O PSDB vai tentar tocar fogo "nas ruas" pelo impeachment;
2) Os tucanos já fazem lobby para que o Supremo desembarace os procedimentos do impeachment. Acabam de colocar um acarajé na bandeja do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE;
3) Apesar da "vitória" do governo na semana passada, o PMDB-Câmara está tão dividido quanto no final do ano passado. Uns 40% dos deputados são de "oposição".
CRISE. Pioras e incertezas:
1) O ritmo de aumento do desemprego e queda dos salários se acelera. A inflação tornou-se persistente: vai demorar mais a cair, se tanto, grande fator de desânimo do consumidor, o cidadão comum;
2) O plano de obras que poderia ajudar a tirar o país do atoleiro, o de 2015, não sai do lugar. O de 2012 vai atolando. O efeito positivo maior das contas externas aparece só em 2017;
3) As reformas que o governo promete são ainda vagas e poucas. São dinamitadas pelo PT. Outros partidos teriam má vontade de votar medida impopular em qualquer situação, menos ainda em ano eleitoral, com os petistas dando o fora;
4) Fala-se que o governo vai cortar tantos bilhões do Orçamento. É tudo conversa meio mole. A gente não sabe nem qual vai ser a receita (se vai ser mais derrubada pela recessão). Dilma está pedindo aos "partidos da base", pelo amor de deus, pessoalmente, que votem aumento de imposto. Tem ouvido nãos;
5) Não há, à vista, ação coordenada do establishment econômico por um "pacto" pela mudança econômica, se isso ainda é possível em um país complexo como o Brasil.
Todas as bocas do fogão da crise estão acesas.
São Tomé
Por ANTONIO DELFIM NETTO
Todos os que já sofreram as agruras de administrar a escassez na administração pública devem ter um olhar benigno para os esforços dos ministros da Fazenda e do Planejamento, que tentam mitigar o desastre fiscal de 2014, com bem definidos limites nominais de gastos a partir de 2016.
Eles são importantes, mas insuficiente para nos levarem à perspectiva de um equilíbrio estrutural num prazo de três ou quatro anos, condição necessária (e talvez suficiente) para acordar o "espírito animal" de nossos empresários, que restabelecerá a sua disposição de investir. Sem ela, o país não retomará o crescimento, a única forma de reconstruir as esperanças dos trabalhadores.
Isso ficou visível nas cuidadosas colocações dos ministros em 19/2. Nelson Barbosa reconheceu claramente a precariedade do programa quando disse que "é preciso evoluir do ajuste fiscal para a reforma fiscal", e Valdir Simão indicou seu caráter emergencial ao afirmar que a proposta poupará "projetos de investimento estruturantes e em fase de conclusão com cortes não lineares".
O corte total foi de R$ 23,4 bilhões, dos quais pouco mais de um terço incidirá sobre as emendas parlamentares. É preciso lembrar que o excelente trabalho feito pelo relator geral do orçamento, o deputado Ricardo Barros, já havia enxugado a proposta original, que supunha uma queda do PIB menor do que a estimativa atual (-2,9%), que pode estar subestimada e, portanto, superestimando a receita tributária.
Sem uma firme retomada do seu protagonismo ainda no primeiro semestre de 2016, capaz de mudar as perspectivas dos agentes econômicos e criar um ambiente favorável aos investimentos privados, o poder Executivo não terá condições de cooptar firmemente a parte rebelde da sua base e a oposição civilizada para aprovar as reformas. O grande problema de Dilma é controlar a contradição insanável que parasita o seu governo: um corporativismo reacionário fantasiado de "esquerda" que defende ferozmente as vantagens que extraiu da maioria anestesiada. Sem o apoio de uma robusta maioria do PT, a sua capacidade de cooptação da oposição será nula.
Se tiver sucesso, é muito possível que o programa agora apresentado, seja bem sucedido. Mas é preciso o firme compromisso com os três gatilhos para vigiar mensalmente a necessária cointegração entre a receita e a despesa correntes. Talvez seja melhor reconhecer, de uma vez, que o deficit primário será mesmo de 1% do PIB (ele é, potencialmente, maior) e aplicar, sem tergiversação, preventivamente, com coragem e inteligência, a sucessão crescente de medidas para obtê-lo.
O Brasil, como são Tomé, não se impressiona mais com promessas...
Agravamento da crise mantém Dilma no córner, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)
Estava entendido que o governo seria outro depois que o STF jogou água fria na fervura do impeachment. Isso foi há dois meses. Nesse período, Dilma reagiu às crises que a rodeiam em três ritmos. Revelou-se intelectualmente lenta, moralmente ligeira e politicamente estagnada. Qualquer dessas velocidades é incompatível com a atmosfera de urgência.
A lentidão intelectual de Dilma é evidenciada pelo receituário do seu governo. Para estancar o derretimento da economia, a presidente sugere recriar a CPMF e reformar a previdência. A volta do tributo é rejeitada até pelos aliados. A reformulação do sistema previdenciário só existe no gogó. Diz-se que virá à luz em abril. O PT, partido de Dilma, não leu e não gostou. Informa que votará contra.
A ligeireza moral de Dilma se expressa nas suas reações à marcha da Lava Jato. “Não respeito delator”, já havia declarado a presidente, num dos atentados que promoveu contra a lei anticorrupção, que ela própria havia sancionado. Ao defender-se na ação que pede a cassação do seu mandato no TSE, a presidente revelou ter pouco respeito também pela lógica.
Por meio dos seus advogados, Dilma insinuou que não pode ser punida pela eventual perverão de seus benfeitores. “Se o doador obteve recursos de forma ilícita, […] essa ilicitude não se projeta sobre o donatário [beneficiário da doação], tornando-o partícipe confesso, até porque […] as empreiteiras doaram recursos para quase todas as campanhas mais importantes e de forma substancial para a campanha dos autores [o PSDB].” Por esse raciocínio, Dilma não tem nada a ver também com eventuais ilicitudes praticadas por seu marqueteiro João Santana.
A estagnação política de Dilma está escancarada no desânimo de sua tropa. Em reuniões sequenciais com líderes governistas, a presidente passa a sensação de que algo está se movendo, quando nada sai do lugar —exceto a nota do Brasil nas agências de classificação de risco, que cai; o PIB, que despenca; a dívida pública, que sobe; e a inflação, que foge ao controle. No Congresso, os cleptoaliados do Planalto, liderados por Eduardo Cunha, dedicam-se a preparar emboscadas que mantenham Dilma no córner, agarrada às cordas. Trava-se uma espécie de luta de boxe em que o país entra com a cara.