Bolsonaro leva milhares em "motociata" no Rio e reitera que pode tomar medidas para garantir direitos

Publicado em 23/05/2021 17:34 e atualizado em 23/05/2021 18:14
Por Rodrigo Viga, do Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro participou nesse domingo de mais uma "motociata", desta vez no Rio de Janeiro, onde voltou a dizer que tomará as medidas que forem necessárias para garantir a liberdade da população, em nova crítica a medidas de restrição para combater a pandemia.

"Nós estamos prontos, se preciso for, para tomar todas medidas necessárias para garantir a liberdade de vocês", disse Bolsonaro a apoiadores após o final de um longo trajeto de motocicleta pela cidade.

O próprio presidente pilotava uma moto e levava na garupa o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. Por onde passava, tinha o nome gritado e acenava para a multidão.

Bolsonaro chegou ao Rio de Janeiro bem cedo neste domingo. Fez um sobrevoo de helicóptero pela cidade antes de chegar ao Parque Olímpico da Barra, ponto de partida da "motociata" --uma "carreata" de motociclistas--, onde foi calorosamente recepcionado por apoiadores.

Um forte esquema de segurança foi montado para o evento do presidente. Agentes oficiais, agentes à paisana, veículos e até helicópteros acompanharam o trajeto.

No palanque montado para o discurso na concentração do evento, no aterro do Flamengo, as pessoas estavam sem máscara ao lado do presidente.

Antes do discurso de Bolsonaro, parlamentares tiveram direito a rápidas falas assim como o ministro Tarcísio de Freitas e o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello --que há poucos dias prestou um longo depoimento na CPI da Covid, que investiga eventuais falhas do governo federal no combate à pandemia.

Bolsonaro voltou a repetir que o poder maior é o do povo e que não estava ameaçando qualquer dos Três Poderes.

"Jamais ameaçarei qualquer Poder, mas, como disse, acima de nós, dos Três Poderes, está o primeiríssimo poder, que é o povo brasileiro", acrescentou.

O presidente voltou a dizer que "meu Exército" não obrigará ninguém a ficar em casa e vai garantir a liberdade do povo.

Desde o início da pandemia o presidente ataca medidas adotadas por governadores e prefeitos para restringir a circulação e aglomerações de pessoas, que especialistas dizem ser uma dos meios mais eficazes para frear a disseminação do novo coronavírus.

Entre os manifestantes, as posições do presidente ganhavam eco. O empresário Hebert de Souza aproveitou para fazer críticas às medidas de isolamento social.

“O Brasil precisa de emprego, de renda e da economia“, disse à Reuters o empresário, que atua no ramo de combustíveis.

Em seu discurso, Bolsonaro disse que "estamos num momento de dificuldade, mas, se Deus quiser, logo ele passará" e reforçou mais adiante que a pandemia caminha para seu final.

"Nós temos que viver, nós temos que ter alegria também, nós temos que ter ambições, nós temos que ter esperança", disse o presidente, acrescentando que "sempre estarei ao lado de vocês."

Entre os apoiadores houve espaço também para provocações ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apareceu liderando a corrida eleitoral em 2022 em recentes pesquisas. O Supremo Tribunal Federal também foi lembrado pelos manifestantes bolsonaristas.

Foi o caso do médico Paulo César Amaral, que disse à Reuters que Bolsonaro é o único nome no espectro político que pode levar o país a um lugar melhor. “O Brasil foi enganado por 30 anos e o povo sabe hoje que o país é grande e pode muito mais“, disse ele. “Lula morreu e tem que ser enterrado junto com o STF”, acrescentou.

Gritos de "eu vim de graça", "Lula ladrão, seu lugar é na prisão" e "nossa bandeira nunca será vermelha" deram o tom do ato.

Presidente se reuniu com centenas de motociclistas para um passeio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro

O presidente Jair Bolsonaro faz passeio de moto no Rio

Eis imagens do movimento (4min46s):

Acompanhado do deputado Hélio Lopes (PSL-RJ) e o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), o presidente passeou por cerca de uma hora pela capital fluminense. Depois, cumprimentou o público aglomerado e discursou rapidamente. Durante sua fala, voltou a sugerir que Tarcísio será candidato a governador em São Paulo no ano que vem.

“O Tarcísio vai pra São Paulo ou não vai? Vai fazer uma limpeza em São Paulo ou não vai? Eu acho que o pessoal de São Paulo vai ser premiado com o Tarcísio…”, disse Bolsonaro ao público que, a cada pergunta, respondia positivamente.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello também marcou presença.

O evento acontece às vésperas da 1ª viagem internacional de Bolsonaro desde o início da pandemia. O presidente brasileiro visitará Quito, no Equador, nesta 2ª feira (24.mai). Irá à posse do presidente eleito do país, Guillermo Lasso.

Oposição critica passeio de moto de Bolsonaro no Rio

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disse, no Twitter, que o presidente “está colocando em risco a vida de milhões de brasileiros”. “Quanta gente vai morrer de covid depois desse absurdo? É muita irresponsabilidade, é muito desprezo pela vida alheia. Esse sujeito não é só um presidente ruim, é um ser humano péssimo”, declarou o congressista.

No sábado (22.mai), ele já havia chamado o ato de “criminoso”.

Gleisi Hoffmann, presidente do PT (Partido dos Trabalhadores) e deputada federal (PT-PR), afirmou que Bolsonaro “não se comove com a dor do outro”.

“Passeio de moto de Bolsonaro no Rio mobiliza mil policiais. Gasta dinheiro público e aglomera. Visitar hospitais, prestar solidariedade às vítimas da Covid e com quem passa fome, nada! Mas aí seria outro presidente né! Esse aí não se comove com a dor do outro”, publicou.

A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) chegou a chamar o chefe do Executivo Federal de “bandido”.

“O que Bolsonaro e sua trupe comemoram hoje no Rio de Janeiro com ruas fechadas e passeio de moto? As quase 450 mil mortes? A fome? O desemprego? A alta no preço dos alimentos? A falta de vacina? Bandido!”, declarou.

Paulo Pimenta (PT-RS) usou a hashtag #MotoGenocídio para falar do evento, que também teve participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. “A milícia organizou direitinho o #MotoGenocídio no Rio de Janeiro. O cúmulo da desfaçatez desta gente é saudar Pazuello, uma espécie de Mengele de Bolsonaro, que a frente do MS nunca se preocupou em combater a pandemia que matou centenas de milhares de brasileiros”, disse.

(Poder360)

Fonte: Reuters/Poder360

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