Planalto desconfia que gravação de Joesley foi editada e envia áudio de Temer a peritos (NA FOLHA)

Publicado em 19/05/2017 06:07
na coluna PAINEL, da FOLHA DE S. PAULO

O Planalto decidiu enviar a peritos a gravação feita pelo empresário Joesley Batista, da JBS, com o presidente Michel Temer. Auxiliares do peemedebista desconfiam que a conversa foi editada. Comprovada a existência de montagem nos áudios, o governo vai reforçar a tese de que Temer foi vítima de uma “conspiração”, como ele próprio disse a aliados inicialmente. O grampo foi feito por Joesley antes de ele e executivos de seu grupo fecharem acordo de delação com a Lava Jato. Palacianos vão, ainda, reforçar o discurso de que o grampo foi ilegal, feito sem autorização da Justiça. E questionarão a decisão a Procuradoria-Geral da República de validá-lo.

ANÁLISE DA FOLHA -- Só depois de quase 24 horas de suspense, e de uma crise gravíssima, o ministro Fachin suspendeu o sigilo. Foi tempo demais, para uma conversa que, entre murmúrios e concordâncias, desperta alguma suspeita mas não leva a nenhuma conclusão. 

O cara -- Protagonista do calvário de Dilma Rousseff, e agora da penúria de Michel Temer, Eduardo Cunha mandou recado os advogados. Disse que não quer delatar.

Aí não dá -- Auxiliares de Temer ficaram irritados com o fato de os donos da JBS terem divulgado um pedido de desculpas. Entre palavrões, afirmaram que é fácil “fazer essa confusão toda” e “mudar com a família com para NY”.

Pegadinha -- O discurso de que o ex-presidente Lula não estaria disposto a entrar em uma eleição direta agora, caso o governo Temer caia, é um despiste endereçado especialmente ao PIB e à Lava Jato. Nem Lula nem o PT descartam a candidatura.

Faca no pescoço -- O presidente do TSE, Gilmar Mendes, desembarcou no Brasil nesta quinta afirmando que o cronograma para o julgamento da chapa Dilma-Temer será mantido. O caso deve ir ao plenário da corte eleitoral dia 6 de junho.

Acelera -- Há um esforço conjunto no TSE para não prolongar o julgamento da da chapa Dilma-Temer. Ministros cancelaram viagens e compromissos para se debruçar sobre o caso.

Meirelles diz que fica mesmo se Temer sair e reafirma seguir com reformas

O ministro Henrique Meirelles (Fazenda) disse a investidores e aliados, nesta quinta (18), que acredita na permanência do presidente Michel Temer no poder. Mas sinalizou que tem disposição para continuar no comando da equipe econômica caso o presidente deixe o cargo.

A possibilidade de ele continuar na Fazenda sem Temer foi cogitada nos bastidores diante dos rumores de que o presidente renunciaria nesta quinta-feira.

Nesse caso, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, seria o primeiro na linha sucessória. E Meirelles teria boas chances de ficar no cargo.

O ministro da Fazenda é visto por empresários e investidores como a principal âncora do governo e fiador de uma política econômica alinhada com o mercado. Ele prosseguiu nesta quinta-feira como o principal interlocutor de Brasília com o setor financeiro.

Em meio à turbulência política que levou os mercados a um dia de forte estresse, o ministro conversou com representantes de bancos e investidores para reforçar a disposição do governo em implementar as reformas.

No front interno, ele também reuniu sua equipe de secretários, no Ministério da Fazenda, para passar a mensagem de que o trabalho deve seguir em frente.

DELAÇÃO

Meirelles presidiu o Banco Central no governo Lula e, depois de deixar o posto, passou a trabalhar para o grupo J&F, do frigorífico JBS, comandado pelo empresário Joesley Batista. Saiu para assumir a Fazenda.

Sobre a possibilidade de aparecer nas delações, Meirelles afirmou a pessoas próximas estar "absolutamente tranquilo".

Um dia normal de pânico e sujeira (por VINICIUS TORRES FREIRE)

O PANIQUITO na feira do mercado de dinheiro foi horrível, mas normal, para não dizer estereotipado. Nem mesmo ainda é possível dizer se a reação da praça financeira foi exagerada ou se tende a ser pior. Esse não é nem de longe o maior problema econômico-financeiro agora.

Os preços e o tamanho do tumulto na economia real dependerão, óbvio, de política e, por tabela, da reação de bancos, empresas e consumidores. Vão depender da dimensão do choque de confiança causado por esse novo despejo de lixo político sobre as nossas cabeças.

Isto posto, é improvável que a crise política não dê um talho neste crescimento que tendia a ser quase estagnação neste 2017: para zero.

Sim, no mercado financeiro houve variações de preços inéditas por vezes em uma década ou mais, desde os meses de pânico com a eleição de Lula, em 2002. Sim, tais saltos podem até quebrar alguém e, no limite, causar problemas em cadeia, em especial se duram mais de um dia e se não houver medidas profiláticas do Banco Central e do Tesouro.

No governo, enquanto dure, o plano é tocar a vida. Em primeiro lugar, "dar liquidez" ao mercado, fazer negócios no lugar de quem correu de medo ou desespero, comprando e vendendo títulos ou dólares de modo que as taxas de juros e o câmbio não disparem por falta de oferta ou procura, remédio normal.

No mais, a ideia é administrar a economia e negociar "reformas" como se um meteorito não estivesse para cair nesta terra já devastada.

No entanto, o problema essencial é o que sobrevirá, pois não se sabe se o governo será moribundo, zumbi ou desconhecido (em caso de nova eleição).

A incerteza da retomada do crescimento por si só já levava bancos, empresas e consumidores ao comedimento ou à retranca. O crédito estava travado, os taxas de juros nos bancos mal caíam; consumidores receosos ou endividados não queriam ou conseguiam tomar empréstimos bastantes. Esperava-se o segundo semestre.

Agora, a reanimação da economia catatônica foi adiada para um depois perdido na névoa, no melhor dos casos. Pode ser bem pior se, por exemplo, o Banco Central também entrar na retranca, se o câmbio explodir ou, mais plausível, não passar reforma alguma.

Até quarta (17), o "mercado" esperava para o fim deste mês queda de mais 1,25 ponto percentual na taxa de juros "do BC", na Selic, o que se pode perceber pelos preços (juros) dos negócios no atacadão de dinheiro. No pior momento do surto desta quinta-feira (18), chegou-se a fazer negócio com a expectativa de queda de apenas 0,25 ponto percentual –o dia fechou em meio ponto.

Taxas de juros de um ano aumentaram um ponto percentual, comendo quase um terço da campanha de queda de juros desde o fim do ano passado. Parece pouco, mas é uma variação capaz de causar perdas imensas na praça, no curtíssimo prazo; de travar negócios, se chegar de fato à ponta dos empréstimos.

Não se sabe, porém, se valores de juros, câmbio e ações estavam histéricos devido a um mercado disfuncional ou se já embutem alta de risco mais duradoura.

Pelo menos até o julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer, em 6 de junho, se Temer não cair antes, não será possível dizer grande coisa do futuro imediato da economia brasileira, para o bem ou para o mal.

Duração da crise vai determinar efeito na retomada econômica (na FOLHA)

A incerteza deflagrada pela delação de Joesley Batista, um dos donos da JBS, deverá ter impacto negativo sobre a economia brasileira, que ensaiava uma recuperação.

A dúvida de economistas e investidores, nesta quinta (18), era se a crise política adiará ou abortará a retomada.

Segundo analistas, há dois riscos principais. O primeiro é que a insegurança que ameaça a continuidade do presidente Michel Temer no cargo afete a confiança de consumidores e empresários, que vinha subindo lentamente.

A expectativa de melhora da economia era vista como uma tendência muito positiva porque poderia levar a uma retomada do consumo e de investimentos. Com a volta da insegurança, esse processo pode ser congelado.

Outro motor da recuperação ainda incipiente da economia era a expectativa de que a reforma da Previdência seria aprovada em breve.

Economistas do mercado financeiro consideram que as medidas propostas para conter o crescente deficit no regime de aposentadorias é essencial para garantir a solvência do setor público.

A crise dos últimos dois dias causou grande insegurança a respeito das chances de que a reforma seja aprovada caso Temer deixe o governo.

"O cenário é muito incerto, não dá para fazer prognósticos para amanhã", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

De acordo com ela, o certo, é "que o mercado vai continuar muito mal".

As incertezas contribuíram para a forte desvalorização do real, a disparada dos juros no mercado futuro e a queda da Bolsa nesta quinta-feira.

O impacto dessa turbulência financeira sobre a economia real vai depender, segundo analistas, da duração da incerteza política.

Economistas ouvidos pela Folha ressaltaram que o cenário ideal seria uma solução rápida para a crise. Uma das possibilidades citadas como menos nocivas para a economia seria a substituição de Temer por alguém que se comprometa a continuar perseguindo as reformas propostas pelo governo atual.

No entanto, se as dúvidas sobre o futuro do presidente perdurarem por semanas, a tendência é que a variação nos preços de ativos financeiros —como a cotação do real em relação ao dólar e o valor de títulos públicos— afete a economia negativamente.

DE OLHO NO CÂMBIO

Para Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, fundo de pensão com R$ 27 bilhões em ativos sob gestão, a variável-chave para ser acompanhada daqui para frente é o câmbio, que tem efeito importante sobre a trajetória de inflação.

Ele ressalta que o Banco Central pode decidir reduzir o ritmo de corte de juros dos últimos meses se avaliar que uma possível desvalorização do real pode levar a aumento de preços.

"Os ativos mudaram de patamar. Serão semanas de emoção", afirmou.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

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