BR defende preços de mercado para combustíveis; mira aquisições
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A criação de um mecanismo pelo governo para amenizar a volatilidade dos preços de combustíveis no Brasil pode ser bem-vinda, mas os valores internos precisariam permanecer em linha com a paridade de importação, disse o presidente interino da BR Distribuidora, Marcelo Bragança, nesta quarta-feira.
Maior distribuidora de combustíveis no país, a BR importou cerca de 20% de seu suprimento de gasolina e diesel em 2020, segundo afirmou o executivo, reforçando a importância do respeito à paridade de importação.
A companhia, disse ele, calibra suas compras externas e internas sempre em busca de capturar o maior valor e garantir o suprimento adequado para a sua base de clientes.
A discussão sobre preços de combustíveis no Brasil voltou a ganhar força no mês passado, quando o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, após criticá-lo por aumentos sucessivos nos preços de diesel e gasolina.
"A gente entende que qualquer mecanismo que eventualmente venha a ser discutido para amenizar volatilidade pode ser bem-vindo, mas... o que a gente acredita, até por experiências passadas no país, é que os preços vão continuar de forma geral buscando alinhamento com paridade de importação", disse Bragança, em teleconferência sobre os resultados da empresa.
"Estruturalmente a importação continuará, a gente não vê mudança nesse cenário."
Bragança reconheceu ainda que reduziu volumes de importação em alguns meses recentes, pois fez mais sentido econômico para a empresa.
A afirmação vem em um momento em que importadoras menores independentes vêm apontando dificuldades para realizar compras externas e acusando a Petrobras de realizar preços em seus pontos de venda às distribuidoras inferiores aos praticados no mercado internacional.
Em meio a esse cenário, a Petrobras comunicou às distribuidoras de combustíveis que não iria atender 100% da demanda para março, disparando um alerta de risco de desabastecimento no mercado, conforme a Reuters publicou no mês passado.
Bragança ponderou aos analistas que houve restrição de oferta de combustível em março em alguns pontos de venda, mas frisou que a companhia não vê riscos de desabastecimento.
"Nós conseguimos, mesmo com eventuais restrições pontuais nos polos de suprimento, conseguir produto, pedir produto no mercado externo para suprir necessidade de nossos clientes... um ou outro pequeno ruído, mas não vejo nenhum risco de desabastecimento do mercado de forma alguma."
O executivo também afirmou que as vendas de combustíveis no primeiro bimestre cresceram ante o mesmo período do ano passado.
AQUISIÇÕES E BUSCA POR VALOR
Durante a teleconferência, executivos da BR pontuaram que a companhia permanece em busca de aquisições no mercado e que a empresa quer ter um "portfólio completo de energias", sem entrar em detalhes sobre eventuais operações almejadas.
"A gente vai buscar sim oportunidades inorgânicas, sempre com essa nossa visão de não sermos produtores das energias, a gente quer sim ter portfólio completo de energias.. E fazer isso onde a gente acha que pode criar valor, ser competitivo", afirmou o diretor-executivo de Finanças, Compras e RI, André Natal.
"Nas várias oportunidades que a gente olha, a gente não tem nenhuma preferência por tamanho... o que a gente quer é que sejam negócios que a gente realmente acredite que tem potencial de criação de valor a preços interessantes de entrada e negócios que a gente entenda ver vantagens competitivas e sustentáveis."
As aquisições poderão ser realizadas a partir de uma decisão da empresa de aumentar os limites do indicador de alavancagem medido por dívida líquida sobre Ebitda para até 2,5 vezes, ante a meta anterior, que era de 1 vez a 1,5 vez. O indicador encerrou o ano em cerca de 1,2 vez.
Segundo os executivos, a melhor forma de fazer uso desta maior amplitude será através de uma alocação balanceada e gradual de capital, em oportunidades orgânicas e inorgânicas que se mostrem criadoras de valor, complementadas por futuras distribuições adicionais aos acionistas.
Ao ser questionado por analistas, Natal comentou ainda sobre a possibilidade de realizar recompra de ações, mas negou que haja algo já decidido sobre o assunto.
"Hoje não tem nenhuma decisão tomada sobre efetivamente ter um programa de 'buy back' aberto, mas a gente de fato concorda integralmente que a direção é boa e faz sentido aos preços atuais", afirmou.
(Por Marta Nogueira)