Anfitrião da COP29, Azerbaijão ataca Ocidente por críticas a seu setor de petróleo e gás
Por William James e Kate Abnett
BAKU (Reuters) - O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, usou seu discurso na cúpula climática COP29 para atacar o Ocidente pelas críticas ao setor de petróleo e gás do país, dizendo que o setor havia sido vítima de uma "campanha bem orquestrada de calúnia e chantagem".
Os comentários foram feitos no segundo dia de uma cúpula na qual quase 200 países estão se reunindo para discutir como podem reduzir as emissões do uso de combustíveis fósseis, e momentos antes de o secretário-geral das Organização ds Nações Unidas (ONU), António Guterres, dizer que dobrar a aposta nos combustíveis fósseis é uma estratégia absurda.
A exposição desses pontos de vista opostos ressalta o desafio que está no centro das negociações climáticas: muitos países ocidentais continuam dependentes dos combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, tentam pressionar outros países que os produzem a fazer a transição para fontes de energia mais limpas.
As receitas de petróleo e gás do Azerbaijão representaram 35% de sua economia em 2023, abaixo dos 50% registrados dois anos antes. O governo afirma que essas receitas cairão para 22% até 2028.
"Como presidente da COP29, é claro que seremos um forte defensor da transição verde, e estamos fazendo isso. Mas, ao mesmo tempo, precisamos ser realistas", disse Aliyev, que rotulou os recursos de petróleo e gás de seu país como um "presente de Deus".
"Os países não devem ser culpados por tê-los e não devem ser culpados por trazer esses recursos ao mercado, porque o mercado precisa deles. As pessoas precisam deles."
Ele destacou os Estados Unidos, o maior emissor histórico de carbono do mundo, e a União Europeia como alvo de críticas específicas.
"Infelizmente, padrões duplos, o hábito de dar lições a outros países e a hipocrisia política se tornaram uma espécie de modus operandi para alguns políticos, ONGs controladas pelo Estado e mídia de notícias falsas em alguns países ocidentais", disse ele.
Os EUA são o maior produtor de petróleo e gás do mundo. Os países europeus, por sua vez, têm algumas das metas mais rigorosas do mundo para reduzir as emissões até 2030, mas, ao mesmo tempo, buscam garantir novos suprimentos de gás após a invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia em 2022.
O assessor nacional de clima dos EUA, Ali Zaidi, ignorou as falas de Aliyev, dizendo que se todos os países descarbonizassem no ritmo dos EUA, o mundo cumpriria suas metas climáticas. A UE não quis comentar.
Em seguida, Guterres disse que o tempo está se esgotando para limitar um aumento destrutivo nas temperaturas globais e pediu aos líderes mundiais que forneçam mais dinheiro para ajudar a evitar desastres humanitários causados pelo clima
"No que diz respeito ao financiamento climático, o mundo precisa pagar, ou a humanidade pagará o preço", disse Guterres. "O som que vocês ouvem é o tique-taque do relógio. Estamos na contagem regressiva final para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C e o tempo não está do nosso lado."
A cúpula deste ano deve se concentrar em levantar centenas de bilhões de dólares para financiar uma transição global para fontes de energia mais limpas e limitar os danos climáticos causados pelas emissões de carbono.