Choques climáticos podem levar 3 milhões de brasileiros à pobreza extrema, diz Banco Mundial
Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - Choques climáticos poderão empurrar de 800 mil a 3 milhões de brasileiros para a pobreza extrema já em 2030, mesmo em cenário que não considera grandes rupturas ambientais no país, aponta relatório publicado nesta quinta-feira pelo Banco Mundial, ressaltando que os impactos podem ser significativos no curto prazo.
O efeito aos mais pobres deve ser provocado pelo custo de desastres naturais, principalmente inundações e secas, elevação dos preços de alimentos, perdas em saúde e redução da produtividade do trabalho.
Em um cenário de desenvolvimento econômico mais otimista, com crescimento inclusivo, mudanças estruturais e melhor acesso a serviços de infraestrutura, o impacto poderia ser menor, diz o documento, que traz sugestões para o Brasil.
O relatório cita estudo produzido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ao apontar que o Brasil pode atingir em breve um ponto de inflexão para além do qual a bacia amazônica não mais teria chuvas suficientes para sustentar os ecossistemas e garantir abastecimento de água e armazenamento de carbono.
Nessa hipótese mais aguda, fruto da combinação de mudanças climáticas, desmatamento e expansão de áreas de pastagem, o impacto acumulado até 2050 sobre o PIB do Brasil é estimado em 920 bilhões de reais (184 bilhões de dólares), equivalente a 9,7% do PIB atual.
O Banco Mundial afirma que o impacto social e econômico dessa ruptura seria alto, com “graves consequências para a agricultura, o abastecimento de água nas cidades, a mitigação de inundações e a geração de energia hidrelétrica”.
De acordo com o documento, efeitos das alterações climáticas já são sentidos no país ao mudarem padrões de temperatura e o regime pluviométrico. Os eventos extremos causam perdas de 13 bilhões de reais (2,6 bilhões de dólares) ao ano em média, aponta.
Após uma gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro cercada de críticas de entidades internacionais por uma deterioração em indicadores de desmatamento e afrouxamento de normas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o posto neste ano com a promessa de recolocar a pauta de preservação ambiental como prioridade do governo.
FISCAL LIMITADO
O Banco Mundial reconhece que o país tem hoje espaço fiscal limitado e enfrenta tendências demográficas cada vez mais difíceis diante do envelhecimento da população. Por isso, afirma que será necessário melhorar a eficiência da política orçamentária para que o país alcance seus objetivos.
“É necessário agir no sentido de conciliar a disciplina fiscal com as necessidades de desenvolvimento do Brasil e manter espaço fiscal para financiar investimentos e programas voltados para as mudanças climáticas”, disse.
Em meio às negociações do governo para aprovação da reforma tributária, o Banco Mundial sugere a redução de subsídios a setores poluentes e a taxação de atividades de extração de combustíveis fósseis --esta última medida com potencial de arrecadação de 150 bilhões de reais por ano até 2030.
Para alcançar seus objetivos de desenvolvimento sustentável, o Brasil precisará investir 3,7% do PIB por ano em infraestrutura, contra o nível de apenas 1,7% observado em 2021, aponta o relatório. Ainda seria necessário investir 1% do PIB ao ano em ações climáticas adicionais, como planos de descarbonização, recuperação de pastagens e medidas para redução de poluição na indústria.
Como forma de minimizar o impacto aos restritos cofres públicos, o Banco Mundial afirma que o setor privado pode cobrir grande parte das necessidades de investimento, enfatizando também a importância de financiamento internacional, como no caso do Fundo Amazônia.
Com o benefício de ter uma matriz energética verde, o Brasil poderia se beneficiar da tendência global de descarbonização e reduzir sua exposição aos riscos climáticos, favorecendo um modelo de crescimento diversificado, afirma o relatório.
Se o Brasil seguir esse caminho, o Banco Mundial afirma que o país poderia acabar com o desmatamento ilegal até 2028, reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050.