Moratória da Soja completa 10 anos e vê redução do desmatamento na Amazônia
SÃO PAULO (Reuters) - Em dez anos de existência, a Moratória da Soja, uma iniciativa que reúne empresas do setor de grãos e ONGs ambientalistas, conseguiu evitar que o plantio da oleaginosa puxasse o desmatamento ilegal no bioma amazônico, disseram representantes do projeto nesta quarta-feira.
Criada em 2006, em um momento de fortes campanhas por preservação da floresta amazônica, a Moratória prevê que as tradings e indústrias do setor não comprem soja que tenha sido plantada em áreas de desmatamento. Para isso, utilizam documentos e monitoramento via satélite.
Atualmente, há 3,92 milhões de hectares desmatados ilegalmente na área de bioma amazônico monitorada pelo projeto, sendo que 37,2 mil hectares foram cultivados com soja na safra 2015/16, equivalente a menos de 1 por cento do total.
Desde os primeiros anos da Moratória, o índice de plantio de soja em áreas desflorestadas irregularmente manteve-se abaixo de 1 por cento, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), uma das líderes do projeto.
"Na década passada a expansão da soja representava um enorme risco para a Amazônia. Hoje, mostra na prática que desmatamento zero é possível", disse o Greenpeace, outra entidade que encabeçou o projeto.
Na avaliação de executivos que compõem o comitê gestor da Moratória, que reuniram-se em São Paulo nesta quarta-feira para uma cerimônia comemorativa, os números indicam que foi possível evitar que o plantio da soja, principal produto da pauta de exportações do Brasil, se tornasse um incentivo para o desmatamento.
Por diversas razões, que incluem fiscalização e outras medidas, incluindo a Moratória, o desmatamento do bioma Amazônia caiu de 1,9 milhão de hectares por ano em 2005 para cerca de 600 mil hectares por ano em 2015, segundo dados de monitoramento de satélite.
"Além de a soja não ser um vetor importante de desmatamento no bioma Amazônia, construímos ao longo de uma década uma relação especial com a sociedade civil e com o Ministério do Meio Ambiente", disse o presidente da Abiove, Carlo Lovatelli.
Os participantes da Moratória não comentaram quais seriam os outros vetores do desmatamento. Atividades como a pecuária e a indústria madeireira são, em geral, citadas como as causas.
Assinada em 24 de julho de 2006 e reeditada anualmente, a Moratória da soja foi renovada por prazo indefinido em maio deste ano.
(Por Gustavo Bonato)