Com queda na produção local, China deve elevar importação de carne suína em 2020, diz Rabobank
As importações de carne suína pela China, que já foram recorde em 2019, devem ser ainda maiores neste ano, de acordo com projeção do Rabobank. "Acreditamos que o recorde de importação do ano passado deve ser facilmente superado em 2020", disse o estrategista global de proteína animal do banco, Justin Sherrard, em transmissão pela internet de seminário do banco sobre peste suína africana.
Ele projeta também que a produção de carne suína na China caia cerca de 15% em 2020. Em 2019, o recuo foi de 25%. "Deve levar até mais o menos o meio dos anos 20 - 2025 ou 2026 - até haver uma recuperação no complexo de carne suína da China para que haja estabilização na produção", disse Sherrard. Parte do recuo este ano seria porque o país está retendo mais matrizes para reprodução. Segundo o analista, o gigante asiático está fazendo progresso em algumas áreas para conter os surtos atuais - como evidenciado pela queda no número de novos casos -, mas não em todo o país.
"O cenário é muito variado. A China é muito grande, não se pode generalizar", afirmou. Ele disse também que a realidade pode estar pior do que algumas estimativas oficiais do governo chinês, mas que é difícil fazer estimativas exatas para o país em decorrência das suas dimensões. O país asiático deve passar a reconstruir seu plantel de suínos de forma mais consistente a partir do segundo semestre deste ano, caso não haja novos problemas sanitários, afirmou Sherrard.
O Rabobank projeta que parte do consumo chinês de carne suína deve migrar permanentemente para outras proteínas, em especial a de frango. Até a chegada com força da peste suína africana entre 70% 80% da carne consumida pela China era suína, porcentual que deve ficar na casa dos 60%, de acordo com Sherrard. "Em outros países do sudoeste da Ásia também pode haver mudança permanente", disse ele. O analista sênior do Rabobank em Cingapura, Ben Santoso, afirmou que no Vietnã o consumo de carne suína deve continuar abaixo dos níveis pré-peste suína africana até 2025; até lá, haveria migração para as carnes de frango e de peixe.
A necessidade por proteína animal nesses países deve beneficiar os principais produtores, em especial Europa, Estados Unidos e Brasil. Nos EUA, a produtividade já tem levado a aumentos anuais na produção de carne suína, e o país teria volume suficiente da proteína para exportar montantes expressivos. A projeção da analista sênior de proteínas do Rabobank na América do Norte, Christine McCracken, é de que a produção norte-americana aumente em cerca de 3% em 2020. O desafio para que o país exporte mais à China é a disputa comercial entre os dois países - apesar da assinatura da fase 1 do acordo comercial, ainda não houve reduções nas tarifas imposta pelos asiáticos à carne suína dos EUA. Mesmo assim, cerca de 25% das exportações totais da proteína norte-americana em 2019 foram para a China em decorrência do alto volume disponível nos EUA e dos preços competitivos. "Esperamos que a China continue sendo o principal comprador em 2020, talvez com uma parcela ainda maior das exportações", afirmou Christine.
Na Europa, líder global de exportações de carne suína, a expectativa é de que a produção cresça cerca de 1% este ano, principalmente na França e no Reino Unido. A China é hoje, de longe, o principal destino para a carne suína exportada pela Europa - entre 2018 e 2019, a participação do gigante asiático aumentou de 38% para 50%, e a analista do Rabobank na Europa, Eva Gocsik, espera que o porcentual aumente ainda mais em 2020.