Bloqueio atmosférico traz momentos de tensão para o desenvolvimento das lavouras
Um bloqueio atmosférico gera situação de alerta para os produtores do médio norte do país, que devem ficar sem chuvas significativas até a segunda quinzena de novembro. É o que apontou Celso Oliveira, meteorologista da Somar, com base nas previsões para os próximos dias, em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Com isso, os cenários distintos podem trazer também condições distintas para o desenvolvimento das plantas. De acordo com Sebastião Pedro da Silva Neto, pesquisador da Embrapa Soja, os danos nas plantações variam de acordo com o período que ela persiste. Em situações na qual as sementes já brotaram, a maior preocupação são com as pragas, principalmente as lagartas, uma vez que "ataque a plantas pequenas podem comprometer o estande [população]."
No caso de plantações em que as sementes ainda não germinaram, os prejuízos podem ser ainda maiores. Neste cenário há a possibilidade da não formação das plantas pela ausência de umidade e, dependendo das condições, haveria a necessidade de replantio.
Em condições de estiagem, o pesquisador afirma que as plantas aguentam em média uma semana, a partir desse período "elas passa a gastar energia que é refletido em queda no potencial produtivo", explica.
A situação climática na qual se encontrará o Brasil nos próximos dias é definida pelo bloqueio atmosférico. Ventos em altitude fazem com que o sistema meteorológico fique preso nos estados do Sul, Argentina e Uruguai. "Se somarmos, muitos municípios devem chegar a mais de 250mm de chuva, ultrapassando a média histórica em apenas 10 dias", aponta o meteorologista. O Paraná, posteriormente ao dia 15, já enfrentará restrição de chuvas. Enquanto isso, o restante do país enfrentará muito calor, com temperaturas chegando entre 35 e 40 graus em algumas regiões.
Nos estados do Sul, portanto, os produtores que já iniciaram o plantio devem ter atenção, pois a água em abundância pode provocar podridões ou falta de aeração no sistema radicular das plantas. Além do mais, o tempo encoberto com poucos dias de sol e baixas temperaturas pode prejudicar o potencial produtivo das lavouras, já que as plantas necessitam de realizar fotossíntese e, ainda, o excesso de umidade dificulta as atividades de manejo das áreas, com a impossibilidade de aplicação de defensivos e a entrada de maquinários agrícolas.
Diante das previsões de estiagem no Centro Norte do Brasil, o pesquisador da Embrapa orienta que os produtores que ainda não iniciaram o plantio aguardem a consolidação das chuvas para não haver o comprometimento do rendimento. Neste momento, até a segunda quinzena de setembro, esta região não deve receber chuvas significativas, com o pouco volume não sendo suficiente para ganhar do calor e manter a umidade do solo.
"A semente demora cerca de cinco dias para germinar, para isso é preciso de umidade. Então, se elas [sementes] começam a absorver água do solo e não é o suficiente para emergir, as plantas ficam debaixo do solo sobre uma condição de temperatura alta e chegam a morrer", alerta.
Para Neto, em ambas as regiões o melhor cenário seria de dias quentes com abertura de sol e chuvas amenas nos finais de tarde, "para que durante o dia as plantas realizassem fotossíntese e durante a noite estivessem abastecidas de água."
O bloqueio não deve durar tanto quanto em 2015, uma vez que não há a incidência do El Niño. Neste ano, o Oceano Pacífico não está quente, logo, este bloqueio deve ser rompido a partir do dia 20 de outubro, quando a frente fria avança por São Paulo e pelo leste de Minas Gerais, mas ainda não chega ao interior do país por avançar de forma costeira, logo, estes produtores ainda devem continuar em atenção neste período e esperar as chuvas do segundo semestre de novembro.
A partir da inversão do bloqueio, no entanto, o alerta deve vir para a região Sul, que corre o risco de estiagem regionalizada até o mês de janeiro, com o produtor podendo perceber um maior espaçamento das chuvas.
Assista às entrevistas :
Celso Oliveira, meteorologista da Somar meteorologia
Sebastião Pedro da Silva Neto, pesquisador da Embrapa Cerrados