Argentina suspendeu licença para exportar carne, diz fonte do governo
O setor de carne bovina voltou ao centro das atenções do governo de Cristina Kirchner na Argentina. Em meio à discussão sobre um novo aumento de 25% no preço da carne, os exportadores denunciam que o Escritório Nacional de Controle Comercial Agropecuário, Oncca, suspendeu as exportações do produto. Ontem à tarde, procurado pela Agência Estado, o organismo negou a medida. Porém, nesta manhã (16), uma fonte oficial explicou que a Secretaria de Comércio Interior deu ordens para engavetar, desde a última segunda-feira, as licenças aos exportadores, "para evitar os abusos de preços nas festas de fim de ano". <?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
A fonte explicou que a suspensão "não é oficial porque não há um anúncio formal, mas está sendo aplicada". A polêmica cresce em torno do principal alimento consumido pela população. Na segunda-feira, os frigoríficos e açougues sofreram uma blitz dos inspetores do secretário de Interior, Guillermo Moreno, que recordaram os preços tabelados pela Secretaria e ameaçaram a indústria com o fechamento das exportações se as altas forem mantidas.
O vice-presidente da Associação de Proprietários de Açougues de Buenos Aires, Alberto Williams, reconheceu que os preços aumentaram e só devem ceder depois das festas. "Teríamos que terminar o ano sem grandes aumentos porque o mercado está muito bem abastecido. Mas o setor da produção começou a dizer que ia faltar carne e isso provocou a alta", disse Williams em entrevista à rádio La Red. Ele acusou os produtores e a indústria pela alta ao consumidor. "Há algumas semanas que a meia rês vem subindo e os comerciantes absorveram tudo o que podiam, mas no balcão o preço se elevou somente entre 10% a 15%", minimizou.
O ministro de Economia, Amado Boudou, por sua vez, reconhece que "é difícil estabelecer em qual ponto da cadeia da carne se encontra o problema do aumento de preços". O presidente da Confederação de Associações Rurais de Buenos Aires e La Pampa, Carbap, Pedro Apaolaza, alerta que a situação vai piorar. "Se o governo não mudar as políticas para o setor agropecuário, não haverá carne, nem trigo, nem milho, nem girassol suficientes para atender a demanda interna e os preços vão disparar", afirmou em entrevista à rádio Continental. "A situação vai se agravando cada vez mais e o mercado sofrerá com desabastecimento", completou, afirmando que a demanda aumenta em função das festas natalinas e "não há carne para atendê-la porque há uma crise no sistema".
O polêmico secretário Moreno decidiu "apertar" os frigoríficos exportadores para forçar uma baixa nos açougues. Por isso, as exportações devem ficar suspensas até depois do período de festas, conforme estimativa do presidente da Câmara da Indústria e Comércio de Carne da República Argentina (Ciccra), Miguel Schiariti. Em entrevista à imprensa, ontem, ele anunciou também que a indústria entrou na Justiça contra a forma do governo de dividir a cota Hilton entre os exportadores.
Os representantes do setor se reúnem com Moreno todas as sextas-feiras para "checar" se a tabela do secretário está funcionando e se o mercado está abastecido. As estimativas das fontes ouvidas são de que depois de amanhã o assunto seja amplamente discutido e a suspensão das exportações seja oficializada com algum tipo de anúncio. Durante 2009, o principal indicador de preços do boi gordo comercializado no Mercado de Liniers, o novilho, acumula uma alta de 30%. Somente nos dois últimos meses, esse aumento foi de 16%, conforme os operadores de Liniers.
Mas os operadores também explicam que desde que a tabela de preços máximos foi fixada por Moreno, há cerca de três anos, que a maioria dos negócios é feita no "mercado negro", fora de Liniers, onde os preços são mais elevados. O forte controle do governo sobre o setor de carne, que também tem cotas de exportação limitadas, é parte de um esforço para evitar uma disparada de preços. A Argentina possui o maior consumo per capita de carne bovina do mundo, cerca de 73 quilos anuais, e o produto tem uma pesada incidência na cesta de cálculos da inflação.