Consumidores estão preocupados com bem-estar animal, mas baixa demanda ainda limita produção
Os consumidores estão cada vez mais preocupados com a forma em que os animais são tratados dentro das linhas de produção. O conceito de bem-estar ganhou força nos últimos anos devido a questões éticas, religiosas, culturais, entre outras, que estão diretamente ligadas ao respeito e a qualidade dos produtos.
Mas, a aplicação dessas técnicas são viáveis atualmente nas propriedades rurais brasileiras? A Scot Consultoria, especializada no mercado de carnes, divulgou recentemente um estudo afirmando ser necessário um aumento de demanda por esses produtos diferenciados para que a produção se torne sustentável.
A premissa, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), estabelece cinco características indispensáveis para estabelecer um ambiente ideal de alojamento, prevendo a ausência de má nutrição, dores ou doenças, medos e angústias, desconforto, e por fim, manutenção no padrão comportamental de cada espécie.
O cumprimento dessas normas exigiria, portanto, "adequações do espaço mínimo disponível por animal, fornecimento de dietas balanceadas e, em sistemas extensivos, disponibilidade de sombra. Com relação ao transporte, possibilitar o embarque dos animais sem estresse, em veículos apropriados, determinando o tempo e distância máximos, sem interrupção, até o abatedouro”, destaca Scot.
Mas, todas essas adequações necessitam de investimento que resultam obrigatoriamente em aumento de custos. Por isso, a Consultoria destaca a necessidade de aumento na demanda desses produtos para que os produção alcance larga escala.
Contudo, os pecuaristas, avicultores e suinocultores precisaram se adaptar a essas mudanças que parecem irreversíveis no longo prazo.
Percebe-se uma tendência da sociedade brasileira e dos mercados importadores de produtos de origem animal em demandar dos governos padrões mínimos de bem-estar animal nas cadeias produtivas. O conceito tem se tornado indispensável para abertura de novos mercados internacionais, especialmente na União Europeia.
"Também não é raro encontrar vídeos postados na internet, sem autorização prévia, contendo cenas de abate e manejo inadequados, o que causa repulsa por parte dos consumidores", ressalta a Consultoria.
Uma pesquisa publicada pela Revista Ciência Agronômica, em 2014, apontou que os consumidores brasileiros estão dispostos a pagar de 3% a 10% mais por produtos oriundos de sistemas de criação que respeitem o bem-estar animal.
Já o analista e consultor do mercado de carnes, Fabiano Coser, ressalta a importância de políticas de marketing para esclarecer paradigmas que ainda limitam o consumo de proteínas no Brasil. No mercado suinícola Coser destaca limitantes como: a ideia de que a ingestão da carne suína ainda pode trazer doença à população (neurocisticercose); os movimentos ativistas que consideram o abate dos leitões uma pratica agressiva aos animais; e o receio quanto a aplicação de antibióticos e seus reflexos na saúde humana.
Por fim, produtores e empresas que já atendem aos requisitos de bem-estar animal estão em posição privilegiada nas negociações, pois estes requisitos se tornam características intrínsecas do produto, expressando um valor econômico potencial. No longo prazo, todos os elos da cadeia da carne, necessitam se adequar às exigências do consumidor atual.