Integrantes do MST que invadiram fazenda em Ribeirão Preto podem retomar possa das terras caso projeto de lei seja aprovado
Os mais de mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que invadiram a fazenda da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) em Ribeirão Preto (SP) no último sábado, foram retirados da propriedade 7 horas depois da ocupação, depois que uma liminar foi expedida pela Procuradoria. Segundo pesquisadores científicos que estavam no local, líderes do MST afirmaram que as ocupações deverão voltar a acontecer caso o Governo Estadual insista em aprovar o projeto de lei 328/2016, que pretende alienar 79 imóveis do Estado de São Paulo, dos quais 16 estão sob a responsabilidade da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e são utilizados para fins da pesquisa científica. Não houve confrontos.
Segundo o projeto de lei 328/2016, que está no momento suspenso por liminar expedida pelo Tribunal de Justiça no mês de junho, devem ser vendidas para a iniciativa privada fazendas inteiras - ou parte delas - que alojam diversas linhas de pesquisa. Com a premissa de que os imóveis citados foram avaliados pelo Secretário da Agricultura, Saulo de Castro Abreu Filho, como "inservíveis ou de pouca serventia", o Governo tenta barrar a liminar e retomar o PL em caráter de urgência. Ainda segundo líderes do MST que estiveram em Ribeirão Preto neste sábado, caso o PL seja aprovado, o movimento se intensificará e as propriedades deverão ser tomadas para a Reforma Agrária.
De acordo com a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, a decisão para aprovação do PL não teve consentimento da comunidade científica e o texto não deixa claro que, caso sejam vendidos, o valor referente aos imóveis deve retornar como investimento em pesquisas.
Relembre o caso das "vacas roubadas" nesta mesma fazenda de Ribeirão Preto, que foram transferidas para Nova Odessa.
Em março deste ano, um caso incomum ganhou a atenção da imprensa e se tornou motivo de grande preocupação por parte dos pesquisadores científicos. Vacas usadas em estudos científicos do Polo Regional Centro Leste, em Ribeirão Preto, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) começaram a ser transferidas da fazenda experimental do Estado de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), para uma estação em Nova Odessa (SP). Na época, a Apta justificou o remanejamento dos animais como uma medida emergencial para barrar uma série de furtos registrados no local nos últimos três anos. "Estas terras que eram ocupadas pela comunidade científica para a realização de importantes estudos, como o do chamado "leite vitaminado", enriquecido com vitaminas que podem aumentar a resistência das pessoas e prevenir contra doenças, agora é colocada a venda.Sem a ferramenta de trabalho alguns, pesquisadores pediram a transferência para outras unidades, outros aguardavam uma promessa de continuar na unidade, com a permanência do uso de laboratórios, agora isso não será mais possível ", esclarece o presidente da APqC. "Na época, já havia desconfianças que haviam outros interesses na transferência dos animais. Hoje, isto ficou claro. Quem perde não somos somente nós, pesquisadores, mas todo o País que depende de nosso trabalho para progredir nas áreas da Agricultura, Meio Ambiente e da Saúde ", explica o presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), Joaquim Adelino Azevedo Filho.