AÇÚCAR: Ponha a culpa na Índia; CAFÉ: Quebra é maior que a esperada; e análise de Rodrigo Costa

Publicado em 18/09/2015 18:03
Análise do mercado de açúcar, por Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting; e Mercado de Café, por Eduardo Carvalhaes, do Escr. Carvalhaes + Rodrigo Costa (da Archer)
mERCADO DE AÇÚCAR: PONHA A CULPA NA ÍNDIA (POR ARNALDO LUIZ CORREA, DA ARCHER)

O açúcar derreteu nesta sexta-feira em NY depois que notícias vindas da Índia davam conta que o governo indiano estabelecera quotas de exportação devido ao crescimento dos estoques de açúcar naquele país. O volume de exportação, de acordo com o governo indiano, seria de 4 milhões de toneladas obrigatórias para diminuir os estoques excedentes que já superam os 10 milhões de toneladas. E a notícia da Índia pegou os fundos posicionados na compra que devem ter vomitado suas posições ao longo desta semana de quedas, potencializando o derretimento visto hoje.  

Muito embora esse volume de exportação obrigatória represente pouco mais de 8% do total de açúcar negociado no mercado internacional, o impacto num mercado que carece de boas notícias oriundas do seu principal exportador, o Brasil, que apresenta a segunda taxa de câmbio mais baixa da história de sua moeda, só poderia ter esse desfecho trágico. Assim, o vencimento outubro/2015 encerrou a sexta-feira negociando a 10.96 centavos de dólar por libra-peso, uma queda semanal de 70 pontos, ou 15 dólares por tonelada. A pressão foi praticamente da mesma magnitude nos meses do próximo ano safra. Já o spread outubro/2015 março/2016 estreitou para 74 pontos, com carregamento implícito de 17% ao ano, que deve ter incentivado a realocação parcial de hedges que estavam em março de volta para outubro.

O mercado aposta que a entrega de açúcar no final do mês, contra o vencimento outubro/2015 na bolsa de futuros de NY vai ser próxima a um milhão de toneladas. O recebedor? A mesma trading asiática que tem monopolizado os recebimentos nos últimos vencimentos.

Não podemos diminuir o fato de que para as usinas, o fechamento de sexta-feira foi de quase R$ 1.000 por tonelada, ou seja, a trajetória descendente do real vai implicar em maior pressão nos meses de vencimento da safra 2016/2017, que oferecem a oportunidade para aqueles que sabem usar os mecanismos de hedge disponíveis no mercado de fixar preços que se aproximam dos R$ 1.300 por tonelada FOB.

Oportunidades de hedge em reais em níveis altos como agora, podem começar a desenhar uma safra mais açucareira para o próximo ano. E aí teremos um agravamento da disponibilidade de etanol cujo consumo interno tem crescido de maneira robusta. O consumo de hidratado de abril a agosto deste ano, no Centro-Sul, cresceu 29% em relação ao mesmo período do ano passado. O consumo total de etanol nesse período cresceu 10% em relação ao ano passado e estabeleceu um recorde de 10.3 bilhões de litros. Nunca a arbitragem entre os dois produtos, açúcar e etanol, será tão sensível como se espera no próximo ano. Difícil esperar que o açúcar apresente custo e carrego tão atraentes como vimos nessa safra, mesmo porque o déficit mundial estará de certa forma refletido e o estreitamento dos spreads deverá ser a tôn ica. Do lado das usinas, há chance de melhoras no prêmio do mercado spot. Do lado do consumidor, pode ser que os preços tão baixos vistos recentemente não se repitam em 2016/2017.
Não importa para onde se olhe, se para o mercado interno de combustíveis que sustenta preços e acirra a arbitragem com o açúcar; se para o mercado de açúcar que deve apresentar déficit mundial; se para a desvalorização do real que aumenta os custos de importação da gasolina e favorece o etanol; o fato é que o pêndulo do mercado está mais propenso para preços mais construtivos para as usinas.

Conseguir sobreviver às burradas da política econômica comandada por Dilma e sua legião de mortos-vivos é algo que o setor tem que se orgulhar. Infelizmente, neste momento sofrível da economia brasileira, em que a CIDE traria enorme alivio ao setor, o ministro Levy achou que não era o momento. E continuamos a subsidiar a gasolina via preços mais baixos do que o mercado internacional. Nesta semana, o preço médio da gasolina no mercado internacional foi de R$ 4.1552 por litro, o que traria competitividade para o hidratado a R$ 2.7000 por litro na bomba.

Caso você queira receber nossos comentários semanais de açúcar diretamente, por favor acesse nosso site e faça o seu cadastro no link https://archerconsulting.com.br/cadastro/

Nesta segunda-feira inicia-se em São Paulo a Semana do Açúcar com o ponto alto sendo o Jantar de Gala que vai acontecer na quarta-feira, dia 23 de setembro, na Sala São Paulo, Estação Júlio Prestes, na Capital. Esta é a 8ª. Edição de um dos eventos mais importantes no mundo do açúcar, organizado pelo Sugar Club, entidade que é hoje presidida por Paulo Roberto Garcia. Também concorre em nível de importância a 15ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Álcool que reúne líderes do setor e palestrantes de mais de 30 países. Este ano fui gentilmente convidado pelo Presidente da Datagro, Plinio Nastari a fazer parte do painel sobre o mercado mundial de açúcar. Nos vemos lá.

Boa semana, boa viagem para aqueles que estão vindo para o evento e bons negócios para todos.

Arnaldo Luiz Corrêa

Café: Colheita praticamente terminada, quebra é maior do que a esperada e produtores resistem às atuais bases de preços (por EDUARDO CARVALHAES)

Mais uma semana de indefinições e falta de horizonte para a séria crise política e econômica brasileira. As idas e vindas das decisões tomadas pela presidente Dilma Rousseff e sua equipe econômica trazem grande insegurança aos mercados e seus operadores. O dólar se valorizou ainda mais frente ao real e fecha hoje próximo dos quatro reais! 

No mercado de café, as cotações em Nova Iorque oscilaram com menos amplitude e os contratos com vencimento em dezembro próximo na ICE Futures US acumularam alta de 180 pontos na semana. Já o dólar apresentou bastante variação frente ao real trazendo muito nervosismo e mau humor a compradores e vendedores. No físico brasileiro as ofertas tiveram apenas ligeiras altas, mas estimularam o fechamento de alguns negócios. Como vem acontecendo desde o início do ano safra, muitos cafeicultores resistem em vender nas bases praticadas pelo mercado, aguardando preços que reflitam a forte alta dos custos de produção. Mesmo assim negócios vão sendo fechados porque estamos no início da safra 2015/2016 e sempre existem produtores precisando vender para fazer frente a compromissos e despesas de colheita. 

A colheita da safra brasileira de arábica está praticamente terminada. Importantes cooperativas e agrônomos confirmam que houve uma quebra maior do que a esperada. Os lotes apresentam baixa porcentagem das peneiras mais altas e quebra grande no benefício e preparo. Em regiões produtoras de cafés finos estão aparecendo lotes com xícaras riadas e rio. 

Com as boas chuvas deste mês, as floradas devem abrir neste final de semana em muitas regiões produtoras de café do sudeste brasileiro. 

A "Green Coffee Association" divulgou que os estoques americanos de café verde totalizaram 6.123.163 em 31 de agosto de 2015. Uma alta de 239.814 sacas em relação as 5.883.319 sacas existentes em 31 de agosto de 2015. 

Até o dia 17 os embarques de setembro estavam em 1.057.954 sacas de café arábica, 186.517 sacas de café conillon, mais 72.399 sacas de café solúvel, totalizando 1.316.870 sacas embarcadas, contra 1.155.846 sacas no mesmo dia de agosto. Até o dia 17, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em setembro totalizavam 1.569.415 sacas, contra 1.633.147 sacas no mesmo dia do mês anterior. 

A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 11, sexta-feira, até o fechamento de sexta-feira, dia 18, subiu nos contratos para entrega em dezembro próximo, 180 pontos ou US$ 2,38 (R$ 9,39) por saca. Em reais, as cotações para entrega em dezembro próximo na ICE fecharam no dia 11 a R$ 598,03 por saca, e dia 11, a R$ 617,60 por saca. 

Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em setembro a bolsa de Nova Iorque fechou com baixa de 20 pontos. 

 
 
Mercado de café (Archer): COMERCIAIS MAIS COMPRAM DO QUE VENDEM

(por Rodrigo Costa*)

Há única aposta que ganharia com a decisão do FED era vender a recuperação dos preços das ações e commodities antes da reunião do FOMC, leitura fácil depois de sabermos a resposta dos mercados.

O comitê decidiu não aumentar os juros, sendo que um dos oficiais votou por levar a taxa para patamares negativos. Janet Yellen, a presidente do banco central, apontou que a decisão foi tomada em função da turbulência nos mercados mundiais, que trazem dúvidas sobre a continuação da recuperação americana. A queda dos preços das matérias-primas e a firmeza do dólar traz o risco de deflação aos Estados Unidos, fato que preocupa e pode fazer com que os juros só aumentem no próximo ano.

Os investidores liquidaram parte de suas posições compradas em ações e em commodities, com o receio de que a situação esteja pior do que imaginem, ou seja, aumentando ou abaixando os juros os ativos de risco estavam fadados a cair.

Com este pano de fundo o café se comportou até relativamente bem. Mesmo com o Real negociando a 3.9616 contra o dólar, o arábica e o robusta respeitaram as mínimas recentes encerrando acima do fechamento da semana anterior.

A correlação negativa com o Real composta por dados de nove meses perdeu aderência nas últimas semanas, de forma que os fundos de algoritmo que tem vendido Nova Iorque todas as vezes que a moeda brasileira enfraquece podem ser forçados a suspender a estratégia se não voltar a funcionar logo.

A venda dos especuladores tem encontrado suporte dos comerciais, fazendo inclusive com que a posição comprada líquida dos últimos mantenha-se positiva – por sinal na história do atual COT os comerciais nunca tiveram uma posição maior comprada do que vendida. Os baixistas acham negativo trade-houses e torradores tão tomados em futuros, entretanto a vulnerabilidade destes em geral é pequena.

No mercado físico o volume negociado é baixo, no Brasil por já ter passado o período maior da pressão vendedora (que não aconteceu como era esperado) e pelos produtores, diante de tanta lambança econômica, segurarem seus cafés, ativos reais e dolarizados. As outras origens ainda não tem fluxo significativo de safra nova.

As chuvas cessaram no “cinturão de café” brasileiro com a expectativa de retorno das precipitações no fim da semana que se inicia.

Do lado do robusta o Vietnã diz que a safra que começa a ser colhida deve ser mais baixa do que do ano anterior em função de um período seco maior do que o normal. Esta não é a percepção de grande parte dos participantes, mas os diferenciais não enfraquecem por lá.

Os estoques americanos aumentaram 239,814 sacas em agosto, totalizando 6,123,163 sacas, maiores do que as 6,038,503 sacas de agosto de 2014. Na Europa o inventário nos portos subiu de 11,727,767 sacas em junho para 11,909,433 sacas em julho. Ou seja, no destino quantidade de café disponível não é problema, já a questão de qualidade é outra história.

O quadro macro e o desempenho do dólar podem atrapalhar uma recuperação muito forte e sustentada dos preços do terminal, que ainda acredito que deva acontecer a partir do ponto de onde está o mercado. Uma eventual alta deve encontrar venda da Colômbia nos meses presentes e do Brasil, provavelmente, nos meses futuros, em quantidade que os altistas crêem ser insuficiente para limitar os ganhos e os baixistas têm a certeza de que será grande o bastante para fazer do movimento ter curta duração,

Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,

(*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer)


 
Fonte: Escritório Carvalhaes + Archer

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Uso de biotecnologia impactou a produtividade da soja brasileira e novas pesquisas vão influenciar ainda mais nos próximos dez anos
Agro e Prosa Episódio 850 - Uma prosa boa com Luciano Pires, o LíderCast do Café Brasil
Incêndios e Agro: Impactos e Ações para o Produtor Rural | Ouça o Agro CNA/Senar #142
Prosa Agro Itaú BBA | Agro Semanal | Boi gordo subindo de elevador
Faesp reitera importância de rever Decreto Federal nº 12.189/2024
Balança comercial brasileira tem superávit de US$5,4 bi em setembro e governo piora projeção para ano