O estereótipo das pessoas do meio rural nas novelas brasileiras

Publicado em 25/04/2011 07:52
Por Ana Cristina Versari, Secretária do Conselho de Desenvolvimento Rural de Paiçandu-Pr, Integrante da Comissão de Mulheres do Sindicato Rural de Maringá-Pr Professora do Colégio Estadual Paiçandu-Pr Esposa de Produtor Rural.
Não é necessário sermos telespectadores assíduos de novelas para percebermos os tipos de personagens e seus estereótipos. É bem nítido que o autor pode, com o decorrer da trama, promover o despertar de olhares para uma determinada situação, defender uma causa nobre, apresentar um problema social ou ainda, colaborar de forma positiva para o desenvolvimento de um determinado segmento da sociedade. Pode também, entre outros temas e ao contrário disto,
suscitar que um determinado personagem é cópia fiel de um grupo de pessoas, ou que “todos” de um determinado grupo ou segmento são exatamente da forma como tal personagem é retratado.

Ou seja, o autor que escreve ou a novela em si, podem corroborar para a disseminação da “distorção holística” deste ou daquele tipo de in divíduo ou grupo.  Remetendo-se ao setor rural, geralmente as novelas apresentam um determinado estereótipo de pessoas do meio rural um
tanto quanto duvidoso.  Levando-se em consideração que possivelmente há boa intenção por parte do autor, talvez de possibilitar um ambiente alegre e divertido na trama, outras vertentes de análise são possibilitadas. Para quem vive e trabalha no interior, fora do eixo Rio - São Paulo, e principalmente inserido neste ambiente da “roça”, o que temos assistido no decorrer dos anos e está sendo apresentado em uma novela atualmente, despertam-nos algumas indagações: Será que é desta maneira que o autor concebe o que é pertencer a este meio? Será que da maneira que os atores e diretores dão “vida” aos personagens é o reflexo de como eles pensam que somos e vivemos?   Poderíamos também dizer que é muito constrangedor sermos representados com tais falas, expressões exageradamente “caipiras”, gestos e atitudes como tem ocorrido.

Outro ponto a salientar, é a retratação de uma ingenuidade acentuada do povo rural, em algumas cenas de novelas, bem perceptível, como se toda pessoa rural vivesse em um mundo onde a
perspicácia, o progresso e a modernidade nem passou por perto.  Se os profissionais das novelas brasileiras pudessem contribuir com o setor rural, através deste instrumento poderoso de formação de conduta, opinião e informação, abordando por meio dos personagens, questões problemáticas do setor que produz alimento para o meio urbano, seria algo inovador e significativo.

Estes poderiam abordar entre outros temas, as dificuldades de produção e comercialização dos produtos agropecuários, o quanto  as estradas sem conservação muitas vezes impedem o transporte de produtos agrícolas e pecuários para as cidades, o desamparo dos produtores frente às variações climáticas, a dificuldade de se encontrar pessoas dispostas a trabalhar no campo (na cidade tem mais comodidade), falta de políticas adequadas e legislações agrícolas objetivando a permanência das pessoas no campo, principalmente os jovens.  Talvez uma boa forma de retratar o povo da “roça” nas novelas, seria mostrar algo existente em  muitas regiões do Brasil : pessoas que acessam a internet para acompanhar o mercado nacional e internacional e que comercializam suas produções  por este meio virtual, pessoas que realizam cursos EaD de qualificação pessoal e profissional (como exemplo, Cursos Ead Senar, específicos para este segmento) e ainda muitos produtores e profissionais rurais que estão inseridos nas redes sociais de comunicação global. Outro fator muito relevante é o quanto de modernidade tecnológica que muitos do campo tem acesso, tanto patrões quanto funcionários, operando no cotidiano máquinas modernas, com tecnologia avançada e inovadora. Mesmo que para muitos esta acessibilidade de informação e tecnologia ainda é distante, por vários motivos, talvez a retratação do exposto em novelas proporcionasse a idéia de um exemplo a ser almejado, copiado e posto em prática. Há incentivos para isto.  Por fim, se os profissionais envolvidos com as novelas brasileiras percebessem esta “parceria” poderiam em muito contribuir para promover a diminuição do contraste entre estes dois mundos: o rural e o urbano.  

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Fonte: Ana Cristina Versari

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