Milho segunda safra tem potencial para dobrar a produtividade no Brasil

Publicado em 17/12/2024 18:32
Por Leonardo Soares - Gerente Sênior de Agronomia da Yara Brasil
Leonardo Soares

A safra 2024/2025 de milho no Brasil deve ser promissora. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma recuperação de 3,5%, sendo estimada uma colheita em torno de 119,74 milhões de toneladas, com área de 21 milhões de hectares. Desse total, o milho segunda safra é responsável por mais de 75%. Os números comprovam sua importância para o país. Desde o ciclo 2011/2012, tivemos essa “inversão” da produção, quando o milho segunda safra passou o milho verão pela primeira vez e, a partir de então, a diferença só aumenta. Porém, colhemos apenas 50% do potencial de produtividade dessa segunda safra.

O clima e o déficit de nitrogênio estão entre as principais razões para esse cenário. Juntos, esses dois fatores definem grande parte do potencial produtivo do grão. Em relação ao clima, o milho se beneficia de dias mais quentes e noites mais frias, além de boa disponibilidade de água, especialmente na fase de florescimento e enchimento de grãos. Os resultados também estão atrelados ao cultivo da soja, com impactos negativos causados por atrasos e resíduos com menos nutrientes para o sistema.

Já o nitrogênio, nutriente mais demandado em quantidade pela cultura, representa, em média, 26% da produtividade do milho, de acordo com pesquisa da Universidade de Illinois (EUA). No entanto, há déficit de nitrogênio em diversas regiões do Brasil, o que reduz o crescimento da planta e causa descoloração amarela com necrose na ponta das folhas, afetando diretamente a produtividade. Muitas vezes o produtor não realiza a adubação de cobertura, deixando a lavoura com esse desequilíbrio. Neste caso, é necessário realizar uma adubação de plantio mais completa, com maior aporte de nitrogênio, o que também gera mais praticidade para o agricultor.

Além do nitrogênio, a cultura do milho se beneficia de nutrientes como fósforo, potássio, enxofre e zinco. O fósforo é fundamental no metabolismo da planta, fotossíntese e formação do sistema radicular; o potássio ajuda a elevar a qualidade e resistência da planta; o enxofre é essencial no estágio inicial de desenvolvimento, síntese de proteínas, sanidade e auxilia na eficiência do nitrogênio; já o zinco é o micronutriente que mais favorece a produtividade do milho, influenciando no enraizamento, crescimento de folhas e enchimento de grãos.

A reposição desses e de outros nutrientes a cada safra é fundamental para manter a sustentabilidade agrícola. Quando não se repõe o que é colhido, há um déficit do estoque de nutrientes do solo. Ao longo de várias safras, podemos atingir um momento crítico em que o cultivo esgota o abastecimento de algum elemento nutricional, fazendo com o que o solo não consiga mais fornecê-lo para as plantas, impactando na produtividade. Uma nutrição equilibrada e com práticas agrícolas adequadas auxilia ainda na descarbonização, com tecnologias que promovem uma pegada de carbono até 50% menor em sua produção.

A prática do plantio direto também é bastante recomendada para o milho segunda safra. Ela influencia os parâmetros químicos, físicos e biológicos da fertilidade do solo, ajuda no desenvolvimento radicular e na quantidade de matéria orgânica no solo. Desta forma, temos maior retenção de água e menor alteração de temperatura, protegendo a planta de extremos. Um bom perfil de solo, com uma correção em profundidade, constrói um melhor nível de fertilidade. Além disso, com essa prática, pode-se chegar a um melhor balanço de carbono no sistema, com maior sequestro desse elemento em razão de menor emissão pela redução da mobilização de solo e aumento da fixação com o incremento no aporte de resíduos culturais.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Entretanto, temos um grande potencial produtivo a ser explorado e com maior qualidade do cultivo. Com uma nutrição equilibrada e o manejo correto podemos ampliar a produção do milho segunda safra. A média atual está em cerca de 100 sacas por hectare, porém existem lavouras comerciais atingindo 50% acima desse valor, e o recorde nacional é de 270 sacas/ha. Com produtividades maiores, o país pode se consolidar em uma posição de destaque global ainda maior.


 

Fonte: Leonardo Soares

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