A evolução da produtividade da cana-de-açúcar no Centro-Sul, por Raphael Delloiagono
Durante a primeira metade da safra 2023/24, a produtividade da cana-de-açúcar tem se destacado de forma notável. Conforme apontado pelo levantamento semanal do Pecege Consultoria e Projetos junto às usinas do setor, o ciclo atual vem apresentando médias de produtividade consideravelmente acima daquelas observadas em safras anteriores. No acumulado até o final de agosto, a produção por hectare já registrava um avanço de mais de 20% em relação ao mesmo período da safra anterior. Níveis tão elevados geram indagações sobre a capacidade de manutenção deste patamar de desempenho até março do próximo ano.
Entre os pontos que contribuem para explicar esse movimento, destacam-se as excelentes condições climáticas durante o período de entressafra. A boa frequência de chuvas, temperaturas favoráveis e um volume acima da média de precipitação em diversas regiões produtoras criaram um ambiente propício para o bom desenvolvimento do canavial. Além disso, o planejamento estratégico adotado pelos produtores e usinas, que optaram por colher uma cana de menor idade durante a primeira metade da safra, também desempenhou um papel crucial. Quando combinados, esses fatores resultaram em uma produtividade acima de 90 ton/ha em boa parte do período.
Vale ressaltar que a decisão de antecipar a colheita de uma cana com baixo número de cortes se baseou, em grande medida, na previsão de ocorrência do fenômeno climático El Niño durante o segundo semestre, que já era conhecida desde os primeiros meses do ano. Na região Centro-Sul, o fenômeno se caracteriza por antecipar as chuvas de verão. Portanto, com a expectativa de um final de safra relativamente mais chuvoso, a estratégia foi priorizar a colheita das canas com menor idade logo nos primeiros meses, maximizando o potencial produtivo do canavial. Enquanto isso, os cortes mais elevados foram deixados para um momento de maior incerteza e insegurança quanto às condições no campo. Como resultado, a decisão de colher uma cana com idade média relativamente mais baixa na primeira metade da safra implicará em uma redução além do esperado da produtividade na parte final do ciclo.
Diante desse cenário, é improvável que o avanço da produtividade média ao final da safra se mantenha no patamar atual de 20% acima em relação ao ciclo anterior, devendo apresentar reduções graduais nos próximos meses. No entanto, mesmo com essa queda, a média ainda deve ser significativamente superior à registrada em ciclos anteriores. O excelente desempenho observado no campo deve sustentar uma moagem potencial acima de 620 milhões de toneladas, demonstrando a notável capacidade de recuperação do setor após duas safras consecutivas de baixos resultados.
* Raphael Delloiagono é analista Econômico do Pecege Consultoria e Projetos