Desafios da eletrificação rural, por José Zeferino Pedrozo

Publicado em 28/01/2020 13:06

Energia elétrica é insumo essencial para o desenvolvimento econômico. Em Santa Catarina, as deficiências no suprimento de energia para as áreas rurais e o preço cobrado pelo consumo encarecem a produção e retiram a competitividade de importantes cadeias produtivas do agronegócio.

Em face da escassez de mão de obra na área rural e da otimização dos processos produtivos, está ocorrendo crescente emprego da automação em todas as atividades. Exemplo expressivo são os modernos aviários, com equipamentos automáticos de climatização em criatórios hermeticamente fechados. Nessa mesma linha, a fumicultura, com o uso de estufas para a secagem das folhas, obedecendo ao padrão de qualidade exigido pelas fumageiras. As atividades de armazenagem de grãos, resfriamento de leite e criatórios automatizados para suínos também são fortemente demandantes de energia.

Essa tendência é reflexo da modernização das atividades agrícolas, pecuárias e extrativas que leva produtores e empresários rurais ao crescente emprego de máquinas e equipamentos, cujo funcionamento depende de energia elétrica.

Santa Catarina produz anualmente, em cerca de 180 mil estabelecimentos rurais, 800 milhões de aves e 13 milhões de suínos. Nos últimos anos, essa base produtiva vem sofrendo com a deficiência no fornecimento de energia elétrica.

As frequentes oscilações de tensão e as quedas no fornecimento têm causado sérios prejuízos, com perda de equipamentos e produção. Com a climatização sem funcionar, as temperaturas próximas ou superiores a 40 graus causam a mortandade de plantéis e inviabilizam a comercialização do tabaco, uma vez que o processo de secagem é interrompido. Muitos desses casos resultaram em ações indenizatórias que tramitam na justiça.

O transtorno maior para o suprimento de energia elétrica se concentra na qualidade das redes (monofásicas) de distribuição. Os maiores percalços à produção, na zona rural, situam-se nas propriedades rurais localizadas nas pontas das redes, onde as quedas constantes da energia causam a queima e a perda de equipamentos, paralisando a produção. Os produtores rurais catarinenses têm muitas queixas em relação ao suprimento de energia elétrica nas vastas regiões agrícolas porque está se tornando um pesado custo adicional. A precariedade do sistema também não permite que os jovens tenham acesso à telefonia e internet móvel, estimulando o êxodo rural.

No verão, os prejuízos com ativos biológicos provocam, além da perda econômica para os fumicultores, avicultores e indústrias, riscos de ordem sanitária. O núcleo do problema se concentra nas velhas redes monofásicas de transmissão: todas precisam ser substituídas por redes trifásicas. Esse deve ser o ponto de partida para uma política de abastecimento de energia elétrica para as áreas agrícolas. Assim, poderá baixar custos, viabilizar as atividades agrícolas e pecuárias, manter as famílias rurais no campo e aumentar a produção e a produtividade.

O cooperativismo do ramo da infraestrutura deu grande contribuição na eletrificação rural. As 22 cooperativas existentes atendem 650 mil usuários com 22.000 quilômetros de redes. Elas constroem e mantêm o sistema elétrico em suas respectivas áreas de atuação, mas atendem apenas 10% da população. Para atacar esse grave problema estrutural, a Celesc lançou no ano passado o programa Celesc Rural, que prevê a substituição de redes monofásicas por trifásicas e a de cabos nus por cabos protegidos na área rural catarinense. A implantação dos cabos protegidos vai beneficiar diretamente o agronegócio, que é responsável por cerca de 30% do PIB (Produto Interno Bruto) catarinense. Esse é o caminho, mas é preciso acelerar urgentemente esse programa.

José Zeferino Pedrozo - Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Conselho de Administração do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

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Por: José Zeferino Pedrozo

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