Tendências e Agenda Estratégica da Cadeia do Algodão, por Marcos Fava Neves

Publicado em 08/12/2017 11:50 e atualizado em 08/12/2017 13:02
Dr. Marcos Fava Neves – Professor Titular da FEA-RP/USP // Mairun Junqueira Alves Pinto – Pesquisador Markestrat // Arlindo de Azevedo Moura – Presidente da ABRAPA

1 - Introdução

Este texto tem como objetivo trazer informações resumidas e relevantes sobre a cadeia do algodão, desde seus grandes números de movimentação financeira, PIB, empregos, impostos, mercados, exportações, importações, tendências de cada elo produtivo e uma agenda de trabalho futura visando a perpetuidade deste negócio no Brasil.

2 - Principais Números da Cadeia Produtiva – Mapeamento e Quantificação da Safra 2016/17

Os números se originam do terceiro exercício de quantificação da cadeia feito por técnicos da organização de pesquisa e projetos Markestrat com a coordenação metodológica e geral feita pelo Prof. Dr. Marcos Fava Neves, da Faculdade de Economia e Administração de Ribeirão Preto, FEA-RP/USP para a ABRAPA (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), sendo o primeiro estudo em 2010/11, o segundo em 2012/13 e este da safra 2016/17, que foi feito considerando-se uma taxa de câmbio de US$ 1 = R$ 3,226.

O PIB da cadeia produtiva foi de US$ 74,11 bilhões, sendo sua maior composição vinda das atividades pós porteira (varejo de vestuário, meias, linha lar e outras). A movimentação financeira (soma dos faturamentos de cada elo da cadeia produtiva) foi de US$ 135,51 bilhões, divididos em US$ 1,338 bilhão no elo de insumos para a produção agrícola, US$ 3,215 bilhões nas fazendas, US$ 130,908 bilhões no pós porteira e ainda US$ 48 milhões em empresas facilitadoras do funcionamento da cadeia (manutenções, corretagens e análises de pluma).

Houve grande acréscimo tanto no PIB quanto na movimentação financeira pois este terceiro estudo conseguiu mapear parte importante das atividades de confecções e varejo, que não entraram nos anteriores. Destes US$ 130,908 bilhões, destacam-se US$ 72,95 bilhões no varejo, US$ 40,11 bilhões em confecções e US$ 17,05 bilhões no elo têxtil (sendo US$ 5,9 bilhões em fiação, US$ 8,02 bilhões em tecelagem e US$ 3,08 bilhões em malharia).

Nas confecções calculou-se usando a porcentagem média de algodão encontrada nos segmentos, a saber: 57,3% em vestuário (masculino, feminino, infantil, jeans e esportivo), 61% em meias e acessórios, 83% na linha lar e 54,6% em outras). Abrindo-se em segmentos mais definidos, temos 21% de algodão nas peças do mercado feminino, 64% no mercado masculino, 64% no mercado de meias e acessórios, 83% no segmento infantil/teen, 78% em jeans, 83% na linha para o lar e finalmente, 11% na linha esportiva.

Do total do faturamento do elo varejista (lojas e outros) de US$ 72,96 bilhões, cerca de US$ 54,74 bilhões são no elo vestuário, US$ 12,33 bilhões no elo da linha lar, US$ 3,7 bilhões em outras confecções e US$ 2,2 bilhões em meias e acessórios.

Nos insumos, do total de US$ 1,338 bilhão, destacam-se os faturamentos de defensivos (US$ 464,49 milhões), fertilizantes (US$ 344,74 milhões), combustíveis/lubrificantes (US$ 187,75 milhões) e sementes (US$ 166,92 milhões) como os principais. O mercado de defensivos no Brasil foi de US$ 9,5 bilhões em 2016 e o algodão representou 4,78%. O aumento do uso de fertilizantes possibilitou grandes ganhos de produtividade. Usou-se 196 kg por hectare de algodão em 1986 e 1000 kg por hectare em 2016, e a produtividade cresceu 200%.

Nas sementes, do total de 940 mil ha cultivados no Brasil, em mais de 80% desta área se utilizou sementes geneticamente modificadas, sendo provavelmente um dos maiores números no Brasil. Com isto o gasto com sementes triplicou na cadeia produtiva em relação aos estudos anteriores, possibilitando a redução dos dispêndios com defensivos em mais de 30% na mesma análise.

A safra 2016/17 foi caracterizada por menores compras de colhedoras, tratores e implementos, em virtude dos problemas de secas em safras anteriores e perda de renda.

Apenas cerca de 40 mil dos 940 mil hectares usados no algodão são irrigados, ou cerca de 4,3% da área total. Nos principais produtores mundiais, o uso da irrigação é bem maior, chegando a 95% na Austrália, 80% na China e no Paquistão, 40% nos EUA e 15% na Índia.

Uma vez colhido, o algodão ainda em caroço passa por secagem, transporte e armazenagem nas fazendas. Seu beneficiamento (limpeza, descaroçamento, prensagem e enfardamento) acontece nas algodoeiras e  produz a pluma, o caroço e a fibrilha, normalmente nas propriedades agrícolas ou terceirizadas. Na safra 2016/17 foram mapeadas 209 algodoeiras no Brasil, sendo 112 no MT. São 321 prensas, 1538 descaroçadores e quase 60 mil serras descaroçadoras.

Nestes 940 mil hectares foram produzidos 1,5 milhão de toneladas de pluma, gerando um faturamento de US$ 2,65 bilhões, sendo US$ 1,69 bilhão no mercado interno e US$ 0,95 bilhão com exportações. A venda de caroço gerou US$ 565,8 milhões (97,5% para o mercado interno e 2,5% exportados) e a fibrilha gerou faturamento de US$ 13,3 milhões.

Nos elos pós porteira, além do têxtil, confecção e varejo, tem-se também as esmagadoras de caroço com US$ 461 milhões de faturamento (sendo US$ 292 milhões em vendas de farelo, US$ 120 milhões de óleo, US$ 38 milhões de linter e US$ 10 milhões de óleo refinado), a indústria de ração animal com US$ 229,47 milhões em vendas e o biodiesel com US$ 88,85 milhões (cerca de 70% do óleo de algodão vai para esta finalidade e este representou entre 1 a 4% na participação de matérias primas usadas para fazer biodiesel nos últimos cinco anos).

Foram estimados cerca de 1,22 milhão de empregos na cadeia produtiva do algodão, gerando uma massa salarial anual de US$ 11,81 bilhões, gastos na economia brasileira, mostrando a grande importância no setor nos aspectos de oportunidade de trabalho e geração de renda. Estimou-se também em US$ 28,31 bilhões o valor de impostos recolhidos anualmente pela cadeia produtiva do algodão nas esferas federal, estadual e municipal, sendo grande contribuinte do orçamento público.

Um ponto negativo que vale destaque nas comparações entre os estudos foi o aumento do óleo diesel, em mais de 60% em termos nominais. Isto afeta muito a competitividade pois o algodão brasileiro que é exportado viaja 1.500 km entre MT e BA (90% do total produzido) até o porto de Santos. Também houve aumento real de custos operacionais de 15% comparando-se as safras 2013/14 com 2017/18, passando de R$ 6,45 mil/ha para R$ 7,4 mil/ha em 2017/18 no Mato Grosso, segundo o IMEA.

Tem-se aqui os principais números da cadeia produtiva do algodão atualizados para esta última safra. A análise da cadeia produtiva do algodão também permite encontrar outros pontos de destaque, como a parte de diferenciação que será comentada a seguir.

 

3 - Diferenciação por Sustentabilidade, Rastreabilidade e Qualidade

Em termos de sustentabilidade, dentro dos pilares social (mão de obra legalizada, trabalho justo, saúde/segurança do trabalho, geração de oportunidades, salários e renda), ambiental (preservação dos recursos produtivos, água, solo, ecossistemas) e econômico (renda aos produtores) a cadeia do algodão é uma das que mais se destaca no Brasil, pelas seguintes iniciativas:

Em 2012 foi criado o programa Algodão Brasileiro Sustentável. Em 2013 o acordo com o Better Cotton Initiative, ONG presente em 20 países que tem o objetivo de melhorar a produção de fibra de algodão. Mas a produção de algodão BCI começa em 2010 no Brasil, sendo em 2011 a primeira safra. Em 2017, mais de 1 milhão de toneladas de pluma foram certificadas pela ABR. São mais de 244 fazendas certificadas com área próxima a 700 mil hectares. Estas fazendas tiveram produtividades 12,4% maiores que a média nacional mostrando os benefícios também econômicos do processo. Cerca de 1,2 milhão de toneladas de pluma produzidas no Brasil são certificadas no programa Algodão Brasileiro Responsável.

O Brasil é o maior fornecedor de algodão BCI, respondendo por cerca de 30% do total mundial produzido, em quase 60% da área cultivada no Brasil, portanto, é a produção mais sustentável do mundo, sendo um diferencial importante a ser mais explorado.

A rastreabilidade começa em 2002, com os debates sobre o tema e a criação em 2004 do programa SAI - Sistema ABRAPA de Identificação, que permite oferta de um sistema único e confiável de identificação dos fardos, facilidade para vender no mercado externo e agilidade na obtenção dos resultados de classificação. Em 2016 foi lançado o programa Standard Brasil HVI (high volume instrument, que afere comprimento, reflectância, uniformidade entre outras) para garantir o resultado de origem do algodão e dar credibilidade e transparência aos resultados das análises de qualidade da pluma feita pelos laboratórios de classificação que atuam no Brasil.

Os pilares do programa HVI são: a criação do Centro Brasileiro de Referência em Análise de Algodão (laboratório central de verificação e padronização para programa de checagem, de re-teste, inter-laboratorial e certificação ICA Bremen), um banco de dados da qualidade (integração e comunicação dos 12 laboratórios, publicação de características intrínsecas e extrínsecas e transparência via portal ABRAPA). O CBRA já analisa 0,5% da safra nacional. A vantagem do SBRHVI é que qualquer comprador do algodão brasileiro terá acesso aos resultados de qualidade todos, a identidade, origem, sendo outro fator de diferenciação a ser mais explorado.

Num momento onde a sustentabilidade e a rastreabilidade ganham projeção e em chances de criação de valor, a cadeia produtiva do algodão, pela sua elevada governança (capacidade de coordenação) no Brasil está à frente de seus concorrentes principais, merecendo destaque.

 

4 – Alguns Números e Tendências do Mercado Mundial do Algodão

O comércio internacional de têxteis e vestuário está ao redor de US$ 800 bilhões, amplamente dominado pela China com US$ 274 bilhões, seguido de longe com vendas ao redor de US$ 30 bilhões por diversos países, entre eles Índia, Vietnã, Bangladesh, Turquia e outros.

Na última década foram produzidas anualmente cerca de 22 a 27 milhões de toneladas de pluma no mundo por 67 países, sendo quase 50% na Índia e China e com os 10 maiores representando 90% do total. São na sequência: Índia (5,77 milhões de toneladas de pluma), China (4,87), EUA (3,73), Paquistão (1,66), Brasil (1,49), Austrália (0,96), Uzbequistão (0,79), Turquia (0,29), Burquina Faso (0,28) e Turcomenistão (0,26). A China já foi o primeiro produtor mundial, mas sua produção caiu de quase 7 milhões de toneladas para as atuais 5 milhões, devido ao crescimento de outras culturas concorrentes por área e com o final de algumas políticas de apoio que os produtores recebiam.

Em 2017/18 esperam-se 32 milhões de hectares plantados no mundo, gerando 25,3 milhões de toneladas de pluma para um consumo estimado de 25,2 milhões. Estoques estáveis em cerca de 18,7 milhões de toneladas.

O consumo também gira ao redor de 24 milhões de toneladas, sendo 7,4 milhões na China e 5,2 milhões na Índia, portanto também praticamente 50% do consumo mundial. Como são grandes produtores, não figuram entre os maiores importadores, que são Bangladesh (1,362 milhão de toneladas em 2016/17), Vietnã (1,152 milhões), Turquia (911 mil toneladas), Indonésia (646 mil toneladas) e Paquistão (462 mil toneladas). Portanto, cinco países detém 60% das importações mundiais. O consumo oscilou nos últimos dez anos entre 22 a 27 milhões de toneladas, no seu pico, tendo caído outra vez para 24,5 milhões em 2016/17.

Apesar do consumo mundial de fibras têxteis crescer cerca de 2,8% ao ano até 2030 atingindo 120 milhões de toneladas, analistas acreditam que este consumo será com fibras sintéticas pelas tendências de crescimento de consumo maiores nos produtos têxteis que usam mais esta, proporcionalmente. Acredita-se que o consumo mundial de algodão possa chegar a 26 milhões de toneladas de pluma em 2025.

Do total de 7,6 milhões de toneladas exportados em 2016/17, os principais vendedores foram Estados Unidos (2,58 milhões de toneladas de pluma), Comunidade Franco-Africana (1,07 milhão), Índia (865 mil), Brasil (755 mil) e Austrália (746 mil). Das exportações do Brasil, em 2016/17 os maiores compradores foram Indonésia (124 mil toneladas), Turquia (87 mil), Vietnã (82 mil), Coréia do Sul (77 mil), China (41 mil) e Paquistão (34 mil). Seis países compram 75% do nosso algodão exportado. É importante buscar cada vez mais diversificação de mercados compradores.

Fruto da oscilação das quantidades e preços, varia muito o valor em dólar trazido pelas exportações brasileiras. Chegou-se a quase US$ 1,9 bilhão em 2012/13 e US$ 967 milhões em 2016/17.

A área colhida mundial não apresenta crescimento desde 1950, ficando ao redor de 30 a 35 milhões de hectares no mundo. Neste período a produção cresceu 240% devido ao crescimento de 210% na produtividade. Espera-se aumento da produção em 2017, devido aos preços melhores e estoques mais baixos observados.

Os preços em cents/libra peso entre 2013 e 2017 têm ficado entre 96,95 centavos na máxima e na mínima 65,46 centavos. Em junho de 2017 chegou a 88,64 centavos.  

A produtividade brasileira do algodão em pluma (1,561 toneladas/ha) é o dobro da média mundial, mesmo com baixo uso de irrigação. A maior produtividade é na Austrália (1,737 t/ha), seguida pelo Brasil e China praticamente empatados. A produção na Índia é de apenas 541 toneladas e nos EUA, 908 toneladas/ha. No Brasil de 1977 a 2017 a produção cresceu 111%. A menor área plantada foi em 1997, cerca de 657 mil hectares, quando a cultura dá uma virada chegando a ter 1,1 milhão de hectares em 2003/04. Graças ao melhoramento genético e técnicas adequadas de manejo, o rendimento de pluma na produção brasileira pulou de 5% em 1977 para 40% em 2017.

Quando se fala em algodão, se fala em Mato Grosso. O estado produz 65,5% da produção nacional, seguido da Bahia com 23,3%. Portanto, os dois estados detém 89% da produção. Existem 7 sistemas de produção de algodão no Brasil: empresarial no cerrado, empresarial na região Sudeste, produtores familiares nas regiões Sul e Sudeste, irrigado no Semi-Árido, sequeiro no Semi-Árido e orgânico. O empresarial nos cerrados do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil representam 99% da produção.  

Entre os grandes produtores, o Brasil é o que tem o maior tamanho médio das fazendas, com cerca de 2000 ha, contra 1.241 ha nos EUA, 500 na Austrália e menos de 4 hectares no Paquistão, Índia e China.

O algodão é muito afetado pelos fenômenos El Niño e La Niña. O El Niño atrapalha o Texas, Austrália e Brasil, com calor e seca. Em 2015/16 este efeito foi devastador na Bahia e Piauí, com perdas de 43% e 87% respectivamente. Já o La Niña é favorável e sua incidência nesta safra levou a produtividade a 1.745 kg de pluma por hectare.

No Brasil, o consumo industrial de fibras e filamentos vem caindo fortemente desde 2010, fruto das importações de produtos têxteis. E pior ainda, as fibras naturais, que tinham consumo de 1,04 milhão de toneladas em 2010, caíram para 675 mil toneladas em 2016. As fibras sintéticas (onde o poliéster se destaca com 62% do total) ficaram no mesmo tamanho de cerca de 705 a 710 mil toneladas, então pela primeira vez passaram as fibras naturais.

Os efeitos da crise econômica no Brasil também foram complicados para o setor. Entre 2012 e 2016 a produção de têxteis caiu 1%. Só não foi pior devido à desvalorização do Real, que derrubou as importações de produtos têxteis em 18% de 2011 a 2015.

Em 2016/17 muitos produtores fixaram vendas antecipadas e se beneficiaram de melhores preços. Por isto o aumento de área esperado para 2017/18, mas provavelmente com margens menores. O algodão em segunda safra no MT, após a soja, ainda é mais atrativo que o milho. Foi uma safra com combinação de boa produção (1,6 milhão de toneladas de pluma, 26,6% a mais que 2015/16) e bons preços. A produtividade de algodão em caroço chegou a 4.076 kg/ha levando a produção a 3,82 milhões de toneladas.

No fechamento deste texto a ABRAPA divulgou os números mais recentes da safra 2016/17 e expectativas para 2017/18. Em relação a 2016/17, a produção total foi de 4,030 milhões de toneladas de algodão em caroço, dando 1,632 milhão de toneladas de pluma e 2,197 milhão de toneladas de caroço. Esta produção veio de uma área de 935.343 hectares e produtividade média de 1.745 kg/ha de pluma.

Para 2017/18 espera-se um crescimento de área de 20%, passando a 1,127 milhão de hectares com previsão de produção de 1,825 milhão de toneladas de pluma (12% a mais) e produtividade de 1,619 ton/ha, 7% menor devido a expectativa de clima menos favorável.

Em 2017 já se tem recuperação. Espera-se que a receita do varejo de vestuário seja de R$ 191 bilhões, 8,2% acima de 2016. Observando janeiro a julho de 2017 as vendas no varejo da indústria têxtil e de confecções tiveram aumento de 7,1% puxando crescimentos na produção têxtil e de vestuário em 5,4% e 4,9% respectivamente neste mesmo período.

Concluindo, o ICAC acredita que a produção brasileira fique estável em 1,5 milhão de toneladas. O Brasil deve buscar rentabilidade, com vantagens em custos devido à tecnologia e escala e posicionamento premium com os esforços da ABRAPA.

5 – Agenda Estratégica - Desenvolvimentos Tecnológicos e Mercadológicos Visando Competitividade e Construção de Margens

Para buscar rentabilidade numa dimensão semelhante a atual, ou ainda tentar conquistar participação de mercado em cima de redução de áreas dos concorrentes do Brasil, além dos aspectos de sustentabilidade e rastreabilidade já citados, a cadeia produtiva do algodão tem como principais pontos estratégicos

Desafios na produção de algodão: redução dos custos de produção dos atuais para cerca de US$ 0,45/libra-peso; redução dos custos de controle de pragas e doenças; ampliação do plantio direto com incorporação de matéria orgânica; ampliação dos sistemas de integração lavoura e pecuária; obtenção de cultivares transgênicas; agricultura de precisão e diferenciação.

Engenharia genética de sementes, com as tecnologias RNA interferente e CRISPR/Cas9, que permitem bloquear funções de genes, introduzir novos traços nas plantas e aumentar o rendimento das culturas com plantas mais produtivas resistentes a pragas e doenças e variedades tolerantes ao frio, seca e outros estresses.

Aplicações a taxas variáveis de fertilizantes e defensivos, com uso da engenharia, máquinas e softwares de mapeamento de solos e lavouras (exemplos nas páginas 67 a 70). Isto é muito importante para economizar no uso destes insumos. No caso dos fertilizantes o Brasil consome quase 6% do total mundial, mas 72% são importados. Soma-se a isto o fato da produção brasileira estar caindo devido aos custos de extração, produção e logística. Já os defensivos representam 40% do custo operacional do algodão e os avanços tecnológicos, como por exemplo as sementes e aplicações em ultra-baixo volume (UBV) e baixo volume oleoso (BVO) permitiram melhor combate ao bicudo e reduzir 13 aplicações por safra entre 2012 e 2017.

Avanços também acontecem em defensivos biológicos no manejo integrado de pragas, tais como microvespas, bioinseticidas, bactérias, vírus, fungos e outros. Os registros anuais destes produtos passaram de 19 em 2010 para mais de 100 em 2016, e já são mais de 130 fábricas espalhadas pelo Brasil. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, o mercado de biodefensivos no Brasil já é de quase US$ 100 milhões por ano (1% do total) e deve crescer a US$ 220 milhões até 2021.

Muitos avanços também acontecendo na gestão das máquinas agrícolas, permitindo acumular dados e ter mais eficiência em consumo e nas operações. Uso de drones e vants, entre outros equipamentos, para imageamento e também aplicação localizada de produtos.

Reduzir o tempo médio de registro de produtos (defensivos no Brasil) é de 8 anos, contra uma média de 2 a 3 anos em diversos países.

Fortelecer o crédito rural e o seguro para a produção de algodão.

Atuar mais agressivamente na defesa comercial e na abertura de novos mercados para a pluma de algodão e para os têxteis produzidos no Brasil.

Fortalecer a informação da cadeia produtiva e para a cadeia produtiva, usando mecanismos modernos de coleta de informações e de comunicações com os stakeholders, via mídias sociais e outros.

Fortalecer ainda mais a governança da cadeia produtiva do algodão, que já é uma das mais fortes do agro brasileiro, vendo formas de promover mais integração e luta por objetivos comuns com as outras organizações dos elos do algodão e de outras cadeias do agronegócio

Melhorar a qualidade da pluma, medida por maturidade (micronaire), comprimento, uniformidade, resistência, alongamento, % de fibras curtas, reflexo, grau de coloração, presença de emaranhados fibrosos (neps). Para isto é necessário o correto planejamento da safra, preparo de solo, plantio, tratos culturais, controle de pragas, doenças e ervas daninhas, colheita, manuseio, beneficiamento e armazenamento da pluma. 

Marketing/Sou de Algodão – foco em promoção, informação e negócios par aumentar de 54% (em 2014) para 64% o uso de algodão. Focar nos atributos de suavidade, capacidade de absorção e respirabilidade.

Agenda política: continuar esforços para monitorar visando criar oportunidades e neutralizar ameaças das ações que caminham no Congresso Nacional, com destaque para a Medida Provisória do Funrural; Reforma Trabalhista; Preço Mínimo do Frete, Revisão da Lei Kandir, Renegociação das Dívidas de Produtores Atingidos pela Estiagem; Aquisição de Terras por Estrangeiros; Projeto Patrimônio de Afetação; Projeto Cédula de Produto Rural; Sistema de Análise de Risco para Aprovação de Novos Agroquímicos; Projeto de Lei dos Defensivos Agrícolas, Projeto de Crime Hediondo para Furtos de Defensivos e Outros, Projeto do Cerrado e Caatinga como Patrimônio Nacional; Licenciamento Ambiental, Conservação do Solo e da Água, Lei de Proteção de Cultivares, Convênio 100/97, Trabalho Rural e outros que possam aparecer além destas 17 demandas que vem sendo acompanhadas pela ABRAPA e pelo IPA.

Apoio da cadeia produtiva à “Agenda Estratégica da Indústria Têxtil e de Confecções” que conta com uma série de atividades nas áreas de: relações de trabalho; segurança jurídica; macroeconomia; tributação e gasto público; financiamento; infraestrutura; educação; inovação; comércio exterior, meio ambiente; gestão burocrática; micro e pequena empresa. Uma indústria têxtil e de confecções forte no Brasil traz benefícios ao elo produtor de algodão, de insumos e a toda sociedade brasileira.

6 – Conclusão

Este estudo mostra mais uma vez a grande importância da cadeia produtiva do algodão para o Brasil. São números impressionantes de empregos, contribuição ao PIB, movimentação financeira, massa salarial, exportações e outros que vem contribuindo para o desenvolvimento do Brasil.

É uma cadeia organizada e estruturada e seu elo produtor tem tomado iniciativas que merecem destaque no agronegócio brasileiro, em termos de organização, representação, sustentabilidade, marketing e inovação.

Percebe-se que não existirá crescimento nesta cadeia produtiva como se observa em outros produtos do agronegócio brasileiro, pois as fibras naturais sofrem a competição com as fibras sintéticas. Fazendo um paralelo no agro brasileiro, observa-se o mesmo com o suco de laranja que compete com outras bebidas, tais como chás, águas com sabor e outras, dificultando seu crescimento.

A estratégia principal é a que vem sendo feita, buscar construir margens adotando a agenda estratégica aqui proposta, para que o Brasil possa ficar deste tamanho no elo de produção agrícola aumentando a rentabilidade e até conseguir conquistar espaço em cima de seus concorrentes, tendo o algodão mais competitivo e sustentável do mundo.

 

Confira o livro : A Cadeia do Algodão Brasileiro 

 

 

Veja também :  Cadeia produtiva do algodão movimenta mais de US$ 135 bi e tem PIB superior a US$ 74 bi, aponta levantamento da Abrapa

Fonte: Abrapa

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