Brasil, um país condenado a crescer

Publicado em 17/04/2012 17:26
Por Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil.
Há muito tempo eu não via duas palestras tão em sintonia, se completando, dando recados contundentes, falando do futuro, mas não de forma romântica, mas sim mostrando as perspectiva e os desafios de onde podemos chegar. Tive o privilégio de assistir a abertura do Circuito Aprosoja-MT onde André Pessôa e Ricardo Amorim de forma brilhante traçaram um cenário muito interessante e desafiador para o Brasil dos próximos 10 anos. Há muito tempo eu não presenciava cenários tão positivos para o Brasil, mas nem tanto para todos os produtores e é sobre isto que irei discutir.

Os números apresentados por Pessôa descreviam a atual safra e ao contrário do que se esperava, não falavam da próxima safra, e sim de um cenário para dez anos. Na perspectiva mostrada, o Brasil deve mais que dobrar sua produção de grãos neste período, com um incremento de 90 milhões de toneladas, saindo das atuais 160 milhões de ton (contabilizando as perdas de 10 milhões de toneladas com a seca no sul e doenças no Centro-Oeste) para 250 milhões de toneladas em 2022. Ele foi enfático em dizer que o Brasil não está fazendo nada para atingir este patamar de produção. Trocando em miúdos, não estamos criando condições para que o país possa produzir as 100 milhões de toneladas a mais do ponto de vista da estrutura e capacidade do país para trabalhar este excedente e isto pode ser um problema para nós e para o mundo.

O mundo espera do Brasil esta resposta em incremento de produção de soja, milho, algodão etc. Porém com a atual conjuntura tudo indica que isso virá sem nenhum planejamento, o que deve custar muito caro ao produtor, que deve pagar a conta da ineficiência da logística de armazenamento, escoamento e portuária. Na visão do palestrante, a maior parte do incremento de produção brasileira virá de grandes ou mega produtores. Não que os pequenos ou médios não terão oportunidades, porém a questão é que para os grandes e mega a expansão será mais fácil, e por isso mesmo eles serão responsáveis por 80% deste incremento de produção no Brasil.

O palestrante ainda destacou que na expansão de novas fronteiras os mega produtores tem pouca contribuição social, pois eles não fazem novas cidades, uma vez que não irão morar nestes locais. Sendo assim, se conseguíssemos que os pequenos e médios tivessem oportunidades de ir junto com os mega seria muito positivo para o desenvolvimento regional. A concentração pode ser uma tendência mundial, impulsionada pela eficiência, escala, competitividade e economicidade, mas isto pode ser amenizado com a iniciativa de um novo modelo cooperativista surgido na Europa e EUA.

O grande e o mega produtor tem vantagens de acesso ao crédito, maior poder de compra, uma gestão mais profissionalizada e isto tudo facilita que ele venha a expandir. Porém o pequeno e o médio poderão buscar seu espaço se conseguirem se unir e se tornarem grande. Na verdade, trata-se de praticamente uma condicionante para sua sobrevivência, o agir coletivamente. E é ai que entra o novo modelo de cooperativa, onde cada um tem o peso do seu voto de acordo com o seu capital ou do seu movimento, o que possibilita que agrupados, os pequenos e médios tornem-se grande e até megas e concorrerem por novos espaços. Se este modelo falhar, muitos estarão fadados a sair da atividade, na visão de Pessôa.

Por outro lado Ricardo Amorim coloca que o ". Muitos são os fatores que contribuem com este crescimento, um deles é o agronegócio, somos o país que tem maior área agricultável disponível, disponibilidade de água; temos enorme potencial energético, minerais e petróleo. Infelizmente o governo segue complicando, caso contrário iriamos crescer ainda mais rápido. O que levamos 30 anos para crescer agora cresceremos em 10 anos, mesmo com todos os equívocos e a falta de planejamento. E isto sim me deixou bastante confiante.

Ricardo Amorim diz que o Brasil receberá muitos investimentos. A análise de que em 10 anos teremos infraestrutura de primeiro mundo é muito positiva e sem dúvida pode acontecer. Hoje o Brasil é eleito um dos principais destinos de investimentos estrangeiros. Possuímos um enorme potencial e tudo indica que num futuro não muito longo poderemos nos tonar a terceira economia mundial, com solidez. E esta perspectiva atrairá investimentos, principalmente na área de logística, sendo a China, sem dúvida, um dos principais investidores.

O cenário apresentado para as comodities foi muito positivo, apesar da grande volatilidade que virá com o aumento dos preços. Mas a grande preocupação é com eminência de uma grande crise global, desencadeada pelo agravamento da crise europeia e americana. Daí fica a pergunta: até quanto uma nova crise pode afetar os preços, já que quem não tem dinheiro compra menos commodities e diminui seu crescimento? E mais uma vez ficamos com os olhos voltados para a China.

O cenário para o Brasil é muito positivo e para os produtores também, seja no curto ou longo prazo, é claro que com uma grande volatilidade, em virtude de uma nova crise mundial, e por isso, é importante aproveitar os melhores momentos. A grande questão é saber quais serão os produtores de amanhã, sem dúvida, serão aqueles que souberem se organizar e deixarem de achar que seu vizinho é seu competidor, a união da classe em setores será um dos fatores primordiais ao crescimento, Caititu sozinho na floresta é comida de Onça.

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Fonte: Glauber Silveira

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