Soja 2021/22: La Niña e choque na oferta de insumos irão trazer ainda mais turbulências para safra da América do Sul

Publicado em 20/10/2021 12:05 e atualizado em 20/10/2021 15:01
Mapas para os próximos meses mostram previsões de chuvas abaixo da média em partes do Centro-Sul do Brasil e acendem sinais de alerta para produtores do Brasil, Argentina, e partes do Paraguai e Uruguai. Falta de insumos dá apenas um "aperitivo" do que pode ser sentido na safra 2022/23. Pátria Agronegócios vê potencial de alta para os preços de soja e milho.
Matheus Pereira - Sócio-Diretor da Pátria Agronegócios

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Entrevista com Matheus Pereira - Sócio-Diretor da Pátria Agronegócios sobre o Mercado da Soja

A safra 2021/22 de soja do Brasil ainda deverá passar por uma série de turbulências caso se confirmem as condições climáticas que as previsões apontam para os próximos meses. Como explica o diretor da Pátria Agronegócios, já são 23,7% da área estimada cultivada com soja no país, registrando, portanto, o ritmo mais acelerado da história do país. "É o reflexo do clima que está ajudando e mais a capacidade de trabalho no campo", diz, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quarta-feira. Em todos os principais estados produtores o início da semeadura é bastante acelerado e bem mais adiantado do que no mesmo período do ano passado. 

No entanto, as atenções estão sobre as previsões de um novo La Niña podendo marcar o verão na América do Sul e "a preocupação agora é com a chegada de um padrão mais seco, principalmente no Sul do Brasil e na Argentina", a partir de meados de novembro, começo de dezembro. 

São esperadas chuvas abaixo da média de novembro até meados de abril, o que preocupa, inclusive, para a safrinha de milho 2022. E para os argentinos as preocupações são ainda maiores, o que traz uma atenção maior sobre a oferta que a América do Sul deverá entregar, efetivamente, ao mercado global de soja. 

"Hoje, a safra da América do Sul está estável, não há problemas para a semente que já foi colocada no chão, porém, as previsões climáticas não são saudáveis, o cenário está cheio de bandeiras vermelhas e isso vai agitar o mercado internacional e agitar do lado positivo. Nós aqui da Pátria vemos um forte viés de que as cotações de soja e milho no mercado internacional possam vir a reagir mais agressivamente, impulsionado pelos problemas climáticos que possam vira a surgir mais a frente", explica Pereira. 

Ainda sobre a Argentina, o analista reafirma que a atual safra sente a pressão de uma série de incertezas, que vai do quadro política - e a atual crise que permeia o governo Fernández/Kirchner - à elevadíssima carga tributária sobre a sojiciultura do país, além da escolha do produtor, que parece vir se confirmando, de "colocar mais milho do que soja no chão para plantar", o que também pode deixar a oferta argentina mais limitada do que o inicialmente esperado. 

E dessa forma, não ficam as atenções redobradas somente para a oferta de soja em grão, como também e, principalmente, ao mercado de derivados, uma vez que a Argentina é a maior exportadora mundial de óleo e farelo de soja. 

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+ Soja Argentina: Nova safra começa sob sombra de incertezas políticas e climáticas

O choque na oferta de insumos, especialmente nos problemas de distribuição de fertilizantes, é mais um fator que começa a ganhar espaço no radar dos mercados e, ainda segundo Pereira, é algo que traz apenas uma "pequena degustação do que será vivido na safra 2022/23". Em 30 de agosto, o diretor da Pátria deu outra entrevista ao Notícias Agrícolas afirmando que esta disrupção nas cadeias de abastecimento de insumos seriam um dos principais problemas da atual temporada. 

De outro lado, a consultoria ainda acredita em uma retomada mais intensa da demanda chinesa, a qual deverá se dividir entre a soja americana e a soja brasileira, e os EUA deverão liderar o quadro ao menos neste último trimestre, quando possuem produto mais barato e mais competitivo para os chineses. 

"A China não precisa só de soja futura, mas também disponível, física. Em uma estimativa feita na última quarta-feira, a China teria estoques para cerca de 30 dias, então estaria abastecida até meados de novembro (...) E o que vemos é que ela irá concentrar estas compras da mão para boca no solo norte-americano. E em 2022 vai comprar onde estiver barato", explica Matheus Pereira. 

O executivo afirma ainda que as cotações da soja seguem encontrando uma base fundamental já conhecida pelo mercado, mas afirma que este e os demais mercados de commodities permanecem muito atentos aos mercados de energias, que passam por uma crise global e registram um sistema claramente sobrecarregado. E esta sobrecarga segue estimulando a utilização dos biocombustíveis, o que também poderá servir como mais uma perna de suporte aos preços não só da soja, mas também do milho. 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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