Complexo soja atento à demanda da China no pós feriado e à crise energética
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Entrevista com Eduardo Vanin - Analista de Mercado da Agrinvest sobre o Mercado da Soja
"Na falta de drivers para o mercado, vimos os preços (da soja) ficarem muito ligados ao cenário macro. E agora, com a volta da China, quem sabe, o mercado se volta aos fundamentos da própria soja", explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira (7). Não só o consumo, mas a crise energética pela qual passa o país também está no centro das atenções.
Os cortes de energia que têm sido feitos já alcançam a indústria esmagadora de soja na nação asiática e, por conta disso, as estimativas da consultoria para o processamento da oleaginosa foram reduzidas para os meses de outubro, novembro e dezembro. Além da questão energética, há ainda uma preocupação com as margens de esmagamento ainda ajustadas - apesar de uma leve melhora nas últimas semanas -, com vendas menores de farelo em setembro se comparadas a agosto e em outubro, o ritmo também tem sido menor.
"As margens continuam oscilando, a falta de soja nos EUA por conta dos problemas logísticos sofridos depois da passagem do Furacão Ida, e comprando soja mais cara no Brasil", diz Vanin. "Os basis não mentem, estão muito positivos para farelo e óleo e isso é um indicativo de que está faltando. Há uma falta de derivados na China, neste momento, no spot". E enquanto isso, o consumo chinês segue caminhando normalmente, crescendo para os óleos vegetais e sem perspectiva de crescimento.
ÓLEOS VEGETAIS
Entre os óleos vegetais, as altas são sólidas diante de fundamentos consistentes. A produção de Canola, somente no Canadá - maior produtor mundial e maior fornecedor deste óleo para a China - quebrou quase 50% depois de problemas climáticos. Esse quadro intensifica, portanto, a necessidade de importação pelo país asiático de óleos de outras matérias-primas.
A produção de canola não quebrou só no Canadá, mas também na Europa, agravando ainda mais o quadro; na Índia as chuvas muito intensas prejudicaram a produção de oleaginosas e também exige mais das importações. De outro lado, a Argentina também tem esmagado menos soja e o petróleo ainda em alta - apesar das correções dos últimos dias - e podendo buscar os US$ 90,00 por barril frente à atual conjuntura.
Os estoques de óleos vegetais de todas as naturezas são muito apertados, passando ainda pelos óleos de girassol - já que a produção foi comprometida no ano passado no Leste Europeu - e também com problemas no óleo de palma.
SOJA GRÃO: OFERTA X DEMANDA
O mercado passa agora por um momento de definição de rumo, atento à definição também de alguns fundamentos, como a conclusão da nova safra dos Estados Unidos - que tem estoques iniciais maiores do que os anteriormente projetados, e com índices de produtividade dentro ou acima da média , o que poderia, inclusive, fazer com que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) pudesse trazer uma correção para cima na safra 2021/22 em seu boletim mensal de oferta e demanda do dia 12 próximo.
De outro lado, há uma largada de plantio melhor no Brasil nesta temporada, o que permitirá com que as primeiras ofertas já comecem a chegar ao mercado em janeiro, fazendo que o país seja mais competitivo já no início de 2022. "E essa nossa soja, em janeiro, já é mais barata 60 cents de dólar do que a americana posto China nesse momento", explica Vanin.
E diante dessas informações da oferta, do lado da demanda, será preciso monitorar como o USDA trará suas estimativas para a demanda chinesa, o que irá impactar, principalmente, nas projeções dos estoques finais americanos.
"Porém, acredito que a China vá sair deste marasmo de margens ruins, porque agora o ciclo de suínos - que agora é de redução da população de matrizes - em algum momento vai ser de crescimento novamente. E assim, as margens que agora estão ruins, 42 dólares negativas, elas vão, em algum momento, trazer um ciclo de alta e aí podemos ver uma agressividade da China que não temos visto agora", diz o analista.
E esse aumento e melhora do esmagamento mais a diante poderia favorecer o Brasil, que já terá maior volume de soja competitiva para atender este consumo e se u potencial incremento.