De peças de tratores a glifosato, choque de oferta intensifica incertezas sobre todas as safras 2022/23

Publicado em 04/10/2021 10:58 e atualizado em 05/10/2021 07:44
Além de soja e milho, deverão sofrer ainda as culturas perenes, além de algodão e cana-de-açúcar. Problemas vão muito além das dificuldades impostas pela pandemia e já são estruturais. Brasil sofre ainda mais com componentes inflacionários mais numerosos.
Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio

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Entrevista com Carlos Cogo - Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio sobre o Mercado da Soja

De peças de tratores à produtos agroquímicos, pssanod por matérias-primas mais básicas, de todas as naturezas, o problema de oferta em diversos setores, oriundos não só das dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus, mas de problemas estruturais que vão se agravando no mundo todo, trazem alertas sérios para a temporada 2022/23 do Brasil. Não sofrem somente culturas como soja e milho, mas também cana-de-açúcar, por exemplo, além das perenes como o café e a fruticultura. 

E embora os alertas para a nova safra sejam muito severos, a safra 2021/22, que está em andamento, também continua sofrendo com problemas de atraso nas entregas ou até mesmo falta de insumos. 

"95% do glifosato utilizado no Brasil vem da China. Ele acumula uma alta de mais de 200% nos últimos 15 meses no mercado internacional e é um caso clássico. Já há relatos de não encontrar mais produto disponível e esse é um produto básico no Brasil. Esses problemas já são imediatos e sentidos na safra de verão, os outros vão vir à frente, para segunda safra de milho, de feijão, laranja, cana, café, todos os que demandam insumos ao longo do ano inteiro", explica Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio. 

Boa parte dos problemas vividos agora na cadeia de insumos tem origem na crise energética observada na China neste momento, com a alta forte de todas as matrizes energéticas, bem como o caos logístico instalado mundo a fora e que ainda não apresenta solução aparente. 

"É uma reação cadeia o que está acontecendo", afirma Cogo, que complementa dizendo que tal momento instala incertezas fortes e preocupantes no setor, além de forçar uma mudança na dinâmica e na estratégia dos produtores rurais na hora de comercializarem seus produtos. "Talvez isso tenha sido um dos fatores que travou as vendas antecipadas de soja. Paramos em um quarto das vendas da safra e não avançamos. Claro que há outros fatores, mas agora podemos colocar mais isso". 

Além disso, reforça ainda a necessidade de monitoramento das vendas também das próximas safrinhas de milho, além dessas outras culturas - principalmente as perenes - diante dessa nebulosidade sobre a segurança de abastecimento de insumos para a produção em meio, ainda, de uma inicial retomada da economia global. 

FORNECIMENTO DE MATÉRIAS-PRIMAS X CONSUMO DE PRODUTOS FINAIS

Assim, o paradoxo que se instala agora é entre a China maior exportadora mundial de agroquímicos e maior consumidora global de alimentos e demais produtos prontos ou matérias-primas para que os produza. Como equilibrar as duas pontas na própria nação asiática? E como fazer isso sem desequilibrar os outros pontos do mundo que estão no mesmo circuito?

"Esse é o grande ponto de interrogação que fica no mundo e para os chineses. Hoje o Brasil é o maior distribuidor de alimentos em geral para a China, líder na exportação bovina, suína, de frango, e açúcar. Além de algodão e tabaco, que não são alimentícios. Só para citar um grupo grande de commodities. Se eles decidem fazer uma interrupção (como as especulações sobre os fertilizantes), eles comprometem o abastecimento interno, o que envolve tensão social, inflação. É um jogo de xadrez e eles terão que saber mover essas peças", acredita o analista. 

Além disso, Cogo lembra ainda que caso o Brasil fique, de fato, ainda mais comprometido por essas medidas chinesas, a China se tornaria ainda mais dependente de mercados como o americano e o europeu, os quais são insuficientes para atender à toda sua demanda de forma adequada. 

CONSUMO CHINÊS

Todos os problemas que a China enfrenta agora, contabilizando a incorporada Evergrande e a crise de sua dívida; a crise energética; perspectivas de um crescimento menos intenso, entre outros, traz alguns alertas sobre o consumo chinês, porém, com impactos distintos em cada grupo de commodities. 

"Dificilmente eles diminuiriam importações de soja, farelo, óleo, arroz, milho, trigo. Mas, carne bovina - de maior valor agregado - café, algodão, isso pode sofrer os impactos de um aumento de custos, inflação, crise e eles começarem a reduzir suas importações de itens que não seriam de primeiríssima necessidade, a carne suína é um outro exemplo. Algumas commodities poderiam ser mais impactadas do que outras", explica Carlos Cogo. 

ONDE MAIS ESTÁ A CRISE?

Há pontos na Europa onde o abastecimento já é um problema, bem como na Ásia, além do Brasil e da China. 

"Nós estamos caminhando para uma inflação em 12 meses na casa de mais de 10%. O grupo G20 na casa dos 4,5%; Zona do Euro na casa dos 3,5%, grupo da OCDE na casa de 4%. E aqui no Brasil há outros componentes, com o câmbio, o peso dos alimentos - que no Brasil é maior do que na Europa -, a crise hídrica, a energia elétrica mais cara. Temos mais componentes inflacionários e um processo de crescimento que agora vai ficando mais fraco, mais frágil. E essa combinação é terrível", conclui o analista. 

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Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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